RELATÓRIO DIVULGADO

General da ativa organizou reunião com Forças Especiais para planejar golpe, diz PF

Salão de festas na Asa Norte, em Brasília, foi palco de encontro estratégico para pressionar comandantes militares e traçar ações contra adversários políticos.

Créditos: Marcos Corrêa/PR
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A Polícia Federal revelou que uma reunião realizada em 28 de novembro de 2022, no salão de festas de um prédio na Asa Norte, Brasília, foi parte de uma articulação detalhada para pressionar o comando do Exército a aderir a um golpe de Estado. O evento, organizado pelo General Nilton Diniz Rodrigues e outros militares de alto escalão, incluiu oficiais com treinamento em Forças Especiais (FE), conhecidos como "Kids Pretos".

Embora participantes tenham alegado inicialmente que o encontro seria uma confraternização casual, as investigações mostraram que o objetivo principal era traçar estratégias para manter Jair Bolsonaro no poder, mesmo após sua derrota nas urnas. Documentos analisados pela PF indicam a elaboração de uma minuta intitulada “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa”, destinada a simular apoio interno ao golpe. A carta foi publicada na madrugada seguinte e amplamente disseminada nas redes sociais. Atualmente o general recebe R$ 32.552,40 mensais do estado brasileiro segundo o Portal da Transparência.

Estratégias e Ações Deliberadas

De acordo com a PF, o planejamento abordou três linhas principais:

- Ideias-força: Apresentar a narrativa de fragilidade na hierarquia militar para justificar a adesão ao golpe.

- Estado Final Desejado: Construir um elo de confiança entre Jair Bolsonaro e o então comandante do Exército, General Freire Gomes, para convencê-lo a apoiar o movimento.

- Centro de Gravidade: Identificar Alexandre de Moraes, ministro do STF, como o principal alvo das operações, com planos de ataques diretos e até neutralização física.

Trechos de mensagens trocadas pelos militares corroboram a intenção golpista. Um exemplo é a declaração do Coronel Bernardo Corrêa Netto: “Reunir alguns FE em funções chaves para termos uma conversa sobre como podemos influenciar nossos chefes.” Outras mensagens revelam a elaboração de táticas para desmoralizar comandantes resistentes, como Freire Gomes, utilizando campanhas de desinformação em redes sociais.

Ação e Desdobramentos

Durante o encontro, também foi discutida a criação de um "Gabinete de Crise" no Comando de Operações Terrestres (COTER), que ficaria responsável por coordenar ações clandestinas e manipular informações em favor do golpe. Um documento intitulado "Punhal Verde e Amarelo" foi apresentado, detalhando estratégias operacionais, incluindo o monitoramento de adversários políticos e planos de neutralização física.

Apesar das pressões, o General Freire Gomes recusou categoricamente qualquer adesão ao plano, mantendo sua postura institucional. Como resposta, os organizadores intensificaram ataques nas redes sociais, classificando Freire e outros opositores como “traidores da pátria” e alinhados ao “comunismo”.

Participação de Altos Oficiais

Entre os presentes, estavam o Coronel Márcio Resende, que cedeu o local da reunião, e o Coronel Fabrício Moreira de Bastos, que desempenhou papel estratégico na coleta de informações. Além disso, mensagens recuperadas mostram que Mauro Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro, estava diretamente envolvido na logística das operações.

A PF apontou que as ações do grupo foram planejadas para minar a democracia e garantir a manutenção de Jair Bolsonaro no poder. Embora a resistência de comandantes legalistas tenha frustrado o plano inicial, o nível de organização e a articulação entre civis e militares destacam a gravidade da tentativa de subversão do Estado Democrático de Direito.