TRAMA GOLPISTA

Almirante da Marinha Almir Garnier tinha "tanques prontos" para o golpe, diz PF

Revelação aparece em diálogo do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e o tenente-coronel Sergio Ricardo Cavaliere; confira

Almirante Almir Garnier foi o único dos três comandantes das Forças Armadas a aderir ao golpe, segundo a PFCréditos: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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O relatório da Polícia Federal encaminhado à Procuradoria-Geral da República, que indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 37 pessoas ligadas ao seu governo e às Forças Armadas, aponta que o almirante Almir Garnier, comandante da Marinha, tinha "tanques no arsenal prontos".

Garnier esteve à frente do posto máximo da Marinha entre 9 de abril de 2021 e 30 de dezembro de 2022. Entre outros trechos, seu nome é citado em uma conversa realizada por meio do Whatsapp entre o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, ternente-coronel Mauro CId, e o também tenente-coronel do Exército Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros.

O diálogo ocorreu em 4 de janeiro de 2023, já no início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cavaliere pergunta se “Ainda tem algo para acontecer?”, referindo-se, possivelmente, a uma ruptura institucional. Mauro Cid encaminha duas respostas, que foram apagadas, de acordo com a PF. 

"Diante do conteúdo das mensagens apagadas, CAVALIERE indaga: 'Coisa boa ou coisa horrível?' e, em seguida, diz: 'Bom'. MAURO CID, em resposta à pergunta de CAVALIERE, diz: 'Depende para quem. Para o Brasil é boa'. O diálogo acontece quatro dias antes do 08 de janeiro de 2023, quando há uma nova tentativa de consumação do golpe de Estado e abolição violenta do Estado de Direito", diz o relatório da PF, em referência aos atos golpistas de 8 de janeiro. As maiúsculas e a grafia original são mantidas nos trechos destacados pela reportagem.

Em seguida, Cavaliere encaminha para Mauro Cid quatro capturas de tela (prints) de uma conversa com um interlocutor de nome “Riva”. "Em seguida, RIVA diz que os militares rasgaram o documento que JAIR BOLSONARO tinha assinado. Diz: 'Rasgaram o documento que o 01 assinou', possivelmente se referindo ao Decreto de Golpe de Estado. Em seguida, passam a atacar os integrantes do Alto Comando do Exército", aponta o relatório.

"Além de ratificar que o então presidente JAIR BOLSONARO tinha elaborado o Decreto, as mensagens encaminhadas pelo contato RIVA ainda confirmam a adesão do Almirante ALMIR GARNIER ao intento golpista. RIVA diz: 'O Alte Garnier é PATRIOTA. Tinham tanques no Arsenal prontos'. Em resposta, o interlocutor diz que o '01', referindo-se a JAIR BOLSONARO, deveria ter 'rompido' com a Marinha (MB), que o Exército e a Aeronáutica iriam atrás", diz a PF.

O papel do almirante Garnier no golpe

No trecho em que determina o indiciamento dos envolvidos, a Polícia Federal aponta que Almir Garnier "anuiu com o Golpe de Estado, colocando as tropas à disposição do então Presidente da República JAIR BOLSONARO".

O relatório aponta para a reunião realizada em 7 de dezembro de 2022 de Bolsoanro com os comandantes das Forças Militares e o ministro da Defesa no Palácio da Alvorada "para apresentar a minuta de decreto presidencial e pressionar as Forças Armadas a aderirem ao plano que objetivava a abolição do Estado Democrático de Direito".

Enquanto os comandantes do Exército e da Aeronáutica se posicionaram de forma contrária, o comandante da Marinha colocou-se à disposição para cumprimento das ordens.

Houve ainda uma reunião do dia 14 de dezembro de 2022 no Ministério da Defesa, em que o ministro Paulo Sérgio Nogueira teria apresentado novamente o decreto golpista e, mais uma vez, Garnier teria sido o único comandante a não se opor aos atos que levariam à abolição do Estado Democrático de Direito.

"Os elementos de prova obtidos, tais como mensagens de texto e depoimentos dos então Comandantes da Aeronáutica e do Exército prestados à Polícia Federal, evidenciam que o então Comandante da Marinha do Brasil, Almirante ALMIR GARNIER, foi o único dentre os três a aderir ao plano que objetivava a abolição do Estado Democrático de Direito", diz a PF.

O relatório diz ainda que "conforme as trocas de mensagens entre investigados e adeptos do golpe de Estado descritas ao longo do relatório, serviu para a Organização Criminosa pressionar ainda mais o Alto Comando do Exército a aderir ao plano que objetivava a abolição do Estado Democrático de Direito".