O relatório da Polícia Federal encaminhado à Procuradoria-Geral da República, que indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 37 pessoas ligadas ao seu governo e às Forças Armadas, aponta que o almirante Almir Garnier, comandante da Marinha, tinha "tanques no arsenal prontos".
Garnier esteve à frente do posto máximo da Marinha entre 9 de abril de 2021 e 30 de dezembro de 2022. Entre outros trechos, seu nome é citado em uma conversa realizada por meio do Whatsapp entre o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, ternente-coronel Mauro CId, e o também tenente-coronel do Exército Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros.
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O diálogo ocorreu em 4 de janeiro de 2023, já no início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cavaliere pergunta se “Ainda tem algo para acontecer?”, referindo-se, possivelmente, a uma ruptura institucional. Mauro Cid encaminha duas respostas, que foram apagadas, de acordo com a PF.
"Diante do conteúdo das mensagens apagadas, CAVALIERE indaga: 'Coisa boa ou coisa horrível?' e, em seguida, diz: 'Bom'. MAURO CID, em resposta à pergunta de CAVALIERE, diz: 'Depende para quem. Para o Brasil é boa'. O diálogo acontece quatro dias antes do 08 de janeiro de 2023, quando há uma nova tentativa de consumação do golpe de Estado e abolição violenta do Estado de Direito", diz o relatório da PF, em referência aos atos golpistas de 8 de janeiro. As maiúsculas e a grafia original são mantidas nos trechos destacados pela reportagem.
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Em seguida, Cavaliere encaminha para Mauro Cid quatro capturas de tela (prints) de uma conversa com um interlocutor de nome “Riva”. "Em seguida, RIVA diz que os militares rasgaram o documento que JAIR BOLSONARO tinha assinado. Diz: 'Rasgaram o documento que o 01 assinou', possivelmente se referindo ao Decreto de Golpe de Estado. Em seguida, passam a atacar os integrantes do Alto Comando do Exército", aponta o relatório.
"Além de ratificar que o então presidente JAIR BOLSONARO tinha elaborado o Decreto, as mensagens encaminhadas pelo contato RIVA ainda confirmam a adesão do Almirante ALMIR GARNIER ao intento golpista. RIVA diz: 'O Alte Garnier é PATRIOTA. Tinham tanques no Arsenal prontos'. Em resposta, o interlocutor diz que o '01', referindo-se a JAIR BOLSONARO, deveria ter 'rompido' com a Marinha (MB), que o Exército e a Aeronáutica iriam atrás", diz a PF.
O papel do almirante Garnier no golpe
No trecho em que determina o indiciamento dos envolvidos, a Polícia Federal aponta que Almir Garnier "anuiu com o Golpe de Estado, colocando as tropas à disposição do então Presidente da República JAIR BOLSONARO".
O relatório aponta para a reunião realizada em 7 de dezembro de 2022 de Bolsoanro com os comandantes das Forças Militares e o ministro da Defesa no Palácio da Alvorada "para apresentar a minuta de decreto presidencial e pressionar as Forças Armadas a aderirem ao plano que objetivava a abolição do Estado Democrático de Direito".
Enquanto os comandantes do Exército e da Aeronáutica se posicionaram de forma contrária, o comandante da Marinha colocou-se à disposição para cumprimento das ordens.
Houve ainda uma reunião do dia 14 de dezembro de 2022 no Ministério da Defesa, em que o ministro Paulo Sérgio Nogueira teria apresentado novamente o decreto golpista e, mais uma vez, Garnier teria sido o único comandante a não se opor aos atos que levariam à abolição do Estado Democrático de Direito.
"Os elementos de prova obtidos, tais como mensagens de texto e depoimentos dos então Comandantes da Aeronáutica e do Exército prestados à Polícia Federal, evidenciam que o então Comandante da Marinha do Brasil, Almirante ALMIR GARNIER, foi o único dentre os três a aderir ao plano que objetivava a abolição do Estado Democrático de Direito", diz a PF.
O relatório diz ainda que "conforme as trocas de mensagens entre investigados e adeptos do golpe de Estado descritas ao longo do relatório, serviu para a Organização Criminosa pressionar ainda mais o Alto Comando do Exército a aderir ao plano que objetivava a abolição do Estado Democrático de Direito".