No comando das investigações que podem levar Jair Bolsonaro (PL) à prisão, o delegado Fábio Alvarez Schor, da Polícia Federal (PF), tem recebido ameaças e teve que passar a usar um carro blindado em seus deslocamentos após relatar um "recado de intimidação" recebido após indiciar o ex-presidente e 36 membros da organização criminosa comandada por ela para tentar um golpe de Estado no país em 2022.
Shor, que virou alvo de uma série de ataques coordenados de aliados do ex-presidente, incluindo o filho dele, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), relatou a suposta intimidação à própria PF, que abriu inquérito para investigar o caso.
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Em depoimento, Shor confirmou a ameaça, já divulgada pela Fórum, que recebeu após indiciar Bolsonaro no caso do contrabando de joias da Presidência, que seriam vendidas nos EUA.
Em setembro, o delegado relatou que ele e a família receberam ameaças cerca de 10 dias após indiciar o ex-presidente no inquérito do furto e contrabando de joias da Presidência da República, no dia 4 de julho deste ano.
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Em e-mail, Shor relata no dia 15 de julho ao delegado Elias Milhomens de Araújo, também da PF, que encontrou "um boneco (macaco) pendurado no limpador traseiro do meu veículo".
"Diante dos últimos acontecimentos envolvendo ameaças a este subscritor e seus familiares, encaminhou o presente para ciência e avaliação", informa ainda Shor na mensagem.
"Cachorrinho de Moraes"
Araújo é responsável pelo inquérito que investiga a exposição e ataques a agentes da PF por bolsonaristas.
Entre os investigados estão o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o senador Marcos do Val (Podemos-ES), que incitaram ataques de extremistas ao expor Fábio Shor nas redes sociais.
O inquérito foi aberto a pedido da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) após uma série de ataques a integrantes da corporação.
A base das denúncias é uma declaração do filho do ex-presidente feita em março deste ano, quando afirmou que a corporação agia como "cachorrinhos de Moraes".
"Depende de qual Polícia Federal: a normal ou a do Moraes? Porque ele está julgando o cartão de vacina do presidente se nem é mais presidente? Porque esses inquéritos todos caem na mão dele? A PF vai investigar esse e-mail ou vai continuar sendo cachorrinho do Alexandre de Moraes?”, disse Eduardo em entrevista em março deste ano, quando Bolsonaro foi indiciado no inquérito da falsificação dos cartões de vacina.
Já Marcos do Val está sendo investigado pela sequência de ataques e exposição de Shor nas redes sociais.
Em uma das publicações, o senador afirmou que o delegado é "capataz" de Alexandre de Moraes. Já em outra postagem, ele publicou uma foto de Shor em um cartaz de "procurado", com a legenda:“Este delegado, até então desconhecido, tem se ocultado das redes sociais, mas o Brasil precisa conhecer quem é o executor das ordens ilegais de Alexandre de Moraes".
"A ADPF tem um longo histórico na defesa das prerrogativas funcionais dos delegados federais. Tornou-se mais que necessário dar uma resposta contra os ataques desenfreados e infundados contra a PF e os Delegados Federais", afirmou o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, Luciano Leiro.
Marcel Van Hattem
Nesta segunda-feira (25), o delegado Elias Milhomens de Araújo fez o primeiro indiciamento da investigação e imputou dois crimes ao deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), aliado fervoroso do clã Bolsonaro, por ataques a Shor em um discurso no plenário da Câmara em agosto deste ano, quando expôs uma foto do investigador da PF.
"Todos esses que estäo perseguidos hoje pela PolIcia Federal, todos eles divulgaram a foto de mais um abusador de autoridade da Polícia Federal, esse aqui, Fábio Alvarez Schor", disse, listando bolsonaristas que incitam ataques ao delegado da PF.
“Consagradas como garantias constitucionais, tanto a liberdade de expressão quanto a imunidade parlamentar não possuem (assim como nenhum outro direito fundamental) caráter absoluto”, disse Araújo ao indiciar Van Hattem.
O deputado bolsonarista foi indiciado por calúnia e difamação pelos ataques mentirosos ao delegado.
“No exercício de seu cargo político e, ainda, por meio de divulgação na rede mundial de computadores, caluniou o Delegado de Polícia Federal Fábio Alvarez Shor , imputando-lhe falsamente fato definido como crime, acusando-o de produzir 1relatórios absolutamente fraudulentos. O Deputado Federal Marcel Van Hattem injuriou o Delegado de Polícia Federal Fábio Alvarez Shor, ofendendo sua dignidade em razão de sua atividade policial investigativa, levada a efeito nos Inquéritos Policiais que tramitam no Supremo Tribunal Federal, sob a supervisão do Ministro Alexandre de Moraes", diz Araújo em seu relatório.