O inquérito da Polícia Federal (PF) sobre a trama golpista, divulgado nesta terça-feira (26), mostra como o General Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), desempenhou o papel de um "líder estratégico" na tentativa de golpe liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O documento afirma que Heleno se destaca como "uma das figuras mais influentes do esquema", e esteve diretamente envolvido na articulação de medidas para "desacreditar o sistema eleitoral, planejar a ruptura institucional e preparar a estrutura pós-golpe, que seria liderada por ele e outros militares de alta patente".
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A PF aponta que o ex-chefe do GSI atuou de forma estratégica a partir de quatro frentes centrais no planejamento do golpe de Estado, sendo elas:
1. Disseminação de Desinformação
De acordo com o inquérito, Heleno participou de reuniões para elaborar narrativas sobre supostas fraudes no sistema eleitoral brasileiro, sem apresentar evidências concretas. Estiveram presentes nessas reuniões outros membros do governo e militares que, sob sua liderança, impulsionaram essas acusações infundadas como parte do plano.
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2. Infiltração e Monitoramento
O documento aponta que durante as eleições, Heleno discutiu com membros da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a possibilidade de infiltrar agentes em campanhas adversárias. A PF afirma que, embora o general tenha reconhecido os riscos de exposição, essa medida reforça a tentativa de minar o processo democrático desde sua base.
3. Planejamento do Golpe e Gabinete de Crise
No plano golpista, Heleno aparecia como cotado para chefiar um "Gabinete Institucional de Gestão de Crise", planejado para ser ativado imediatamente após a prisão ou execução de opositores chave, como o ministro Alexandre de Moraes. Esse gabinete, composto majoritariamente por militares, seria responsável por gerenciar o cenário pós-golpe, consolidando o controle sobre as instituições.
4. Conexão com a Advocacia-Geral da União (AGU)
Por fim, a PF ainda aponta que Heleno elaborou estratégias para pressionar a Advocacia-Geral da União (AGU) a declarar como institucionais as ordens judiciais desfavoráveis ao governo de Bolsonaro. Essa medida visava proteger membros do grupo conspirador de investigações legais e garantir a impunidade dos envolvidos.
Conclusão da PF
O inquérito também destaca documentos relevantes que comprovam o papel de liderança de Heleno na trama golpista. A minuta do Gabinete de Crise, por exemplo, foi na residência do general. O documento detalhava a estrutura do gabinete golpista, suas funções e diretrizes. "Essa documentação comprova o papel de liderança do general e sua adesão às ideias radicais do grupo", afirma a PF.
Além disso, Heleno também possuía relatórios que serviram de base para a desinformação sobre o sistema de votação eletrônico, dando credibilidade às acusações de fraude eleitoral e mobilizando apoio ao golpe. Mensagens capturadas pela investigação ainda indicam que Heleno era consultado frequentemente sobre decisões estratégicas e tinha influência direta na formulação do plano de ruptura institucional.
Desse modo, o inquérito conclui que o papel de liderança realizado por Heleno "foi fundamental para alinhar os militares envolvidos e criar uma fachada de legitimidade institucional para o golpe". Sua influência como figura militar respeitada foi usada para atrair apoio de oficiais das Forças Armadas, embora parte do alto comando tenha resistido à adesão.
"O papel de Augusto Heleno foi decisivo para a formulação, planejamento e disseminação do golpe. Ele não apenas coordenou ações estratégicas, mas também serviu como elo entre o núcleo político e militar da conspiração. Os documentos e provas apresentados pela investigação não deixam dúvidas sobre sua participação ativa, reforçando a necessidade de responsabilização legal dos envolvidos", conclui a PF.
Leia a íntegra do inquérito da PF nesta reportagem.
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