PARTIDO DOS TRABALHADORES

"Rediscutir o papel do PT": Executiva do partido se reúne para avaliar eleições

Presidenta da sigla, Gleisi Hoffmann faz parte da corrente majoritária, que inclui Lula e vê como positivo o aumento de 38% no número de prefeitos do partido. Eleito em Maricá com 73% dos votos, Quaquá abre divergência e diz que "PT precisa parar de errar"

Gleisi no congresso do PT que formalizou apoio a candidatura de Boulos em SP em agosto de 2023.Créditos: Leandro Paiva/@leandropaivac
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Um dia após o resultado final das eleições municipais, a Executiva Nacional do PT, que elegeu 252 prefeitos - 38% a mais que em 2020 -, se reúne na tarde desta segunda-feira (28) para analisar os resultados e começar a "rediscutir o papel" do partido, conforme orientou Lula ao final do primeiro turno.

"Temos que rediscutir o papel do PT. Hoje 80% dos prefeitos foram eleitos em cinco estados, todos do Nordeste. Tivemos boa participação no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais ganhamos as que já governamos (Contagem e Juiz de Fora), mas não fomos bem em São Paulo. Perdemos São Bernardo do Campo, Santo André, perdemos inclusive Araraquara, onde tínhamos certeza que íamos ganhar. Estamos no segundo turno em Mauá e Diadema", disse o presidente no dia 11 de outubro, logo após o primeiro turno das eleições.

Em vídeo divulgado ainda na noite deste domingo (27), a presidenta nacional Gleisi Hoffmann (PT-PR), que deixará o comando da sigla no primeiro semestre de 2025, afirmou que o partido saiu vitorioso, mesmo enfrentando "eleições muito difíceis".

"Nossos candidatos cresceram muito no segundo turno em todas as cidades que disputou, diretamente ou apoiando algum aliado", afirmou, parabenizando a militância de Fortaleza (CE), Camaçari (BA), Mauá (SP) e Pelotas (RS), onde o PT venceu o embate direto com os adversários.

Ao falar do enfrentamento às "máquinas poderosas do poder político", a deputada se referiu a São Paulo, onde a chapa Guilherme Boulos (PSOL) e Marta Suplicy (PT) foi alvo de um ataque baixo no dia da votação partindo do governador Tarcísio Gomes de Freitas, que implicou voto do PCC no candidato de Lula.

"Boulos foi corajoso e não arrefeceu em nenhum momento nesta campanha", emendou.

Gleisi ainda mandou um recado para a frente ampla, com vistas ao apoio à reeleição de Lula em 2026.

"Principalmente, enfrentamos com coragem e energia a extrema-direita e seu projeto autoritário, como já havíamos feito no primeiro turno em todo o país. Parabéns aos candidatos e candidatas que levantaram essa bandeira e fizeram o justo combate nas eleições. Cada um e cada uma de nós sai dessa campanha com o compromisso de continuar lutando por nosso objetivo maior, que é construir um Brasil melhor e mais justo, reelegendo o presidente Lula em 2026", conclui, em aceno aos países que estiveram na frente ampla em 2022.

À Folha de S.Paulo, a presidenta do PT foi mais direta em relação ao tema. "Espero que a vitória dos partidos que compõem a base, que está sendo computada como vitória do governo, possa se traduzir em apoio em 2026, para além do que já havia em 2022", disse Gleisi.

Divergências

No entanto, as divergências em relação à presidenta e à corrente majoritária - Construindo um Novo Brasil (CNB) - que ela faz parte e inclui Lula, responsável por alçá-la ao comando da sigla em 2017, devem ser colocadas à mesa.

Figura polêmica no partido, Washington Quaquá (PT), que se elegeu prefeito de Maricá (RJ) no primeiro turno com 73% dos votos válidos, já expôs publicamente a divergência em publicação na rede X.

Em série de publicações, Quaquá que diz que "o PT precisa parar de errar" e critica a decisão de Lula, de alçar Guilherme Boulos candidato à prefeitura de São Paulo.

"Boulos era a crônica de uma morte anunciada! A candidatura errada na cidade errada! Havia Márcio França, Tabata Amaral e até a Ana Stela Haddad, que nunca disputou eleição, mas poderia dialogar com uma ala mais conservadora nas periferias e classe média", listou o petista fluminense, que defende uma ampla aliança com candidaturas petistas na cabeça de chapa, como a que construiu no Rio.

"Nos lugares em que fomos amplos, como em Fortaleza, com candidatura para além da esquerda, com pautas econômicas e sociais e não comportamentais, nós ganhamos! O PT precisa rever suas pautas e suas prioridades urgentemente", afirmou.

Quaquá ainda alfinetou a corrente lulista da sigla, dizendo que "o governo federal também não atuou coordenado e apoiando sua base".

"Age como se não tivesse responsabilidade com as eleições e a luta política real no território. Tá na hora de mudar ou seremos derrotados no momento que não podemos, em 26", concluiu.