O conglomerado de tecnologia Meta introduziu quatro novas ferramentas nos canais de WhatsApp, em anúncio feito pelo CEO Mark Zuckerberg, na última quarta-feira (17). Embora tenham o objetivo de melhorar a experiência do usuário, as mudanças podem trazer um novo desafio no enfrentamento às fake news em ano eleitoral.
As eleições municipais de 2024 ocorrerão em outubro deste ano em todos os municípios brasileiros, sob ameaça de propagação de desinformação nas redes sociais e nos principais aplicativos de mensagens. Isso porque as ferramentas podem permitir acesso ilimitado aos canais, mensagens de voz e compartilhamento de cards no status, com elevado potencial de engajamento.
Te podría interesar
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Brasil contém 152 milhões de eleitores. Em comparação, a Statista, plataforma especializada em coleta e visualização de dados, informa que 147 milhões de pessoas utilizam o WhatsApp no Brasil, número correspondente a 99% dos brasileiros on-line – e 96% dos eleitores do país.
Lançados no segundo semestre de 2023, os canais do WhatsApp são canais de transmissão unilateral sob administração de pessoas ou organizações nas quais são enviadas informações, atualizações, links, imagens e vídeos.
Te podría interesar
As pessoas que recebem o conteúdo têm acesso à dados, como quantas mensagens não foram lidas, o número de seguidores do canal, as mensagens enviadas antes de sua entrada, entre outros. O canal oficial do Governo do Brasil (gov.br) possui 3,3 milhões de seguidores e compartilha atualizações da atuação federal.
As mudanças e os riscos no WhatsApp
Zuckerberg anunciou o lançamento de quatro ferramentas nos canais do aplicativo de mensagens: envio de mensagem de voz, função de enquete, aumento no número de administradores e compartilhamento de cards no status pessoal – função similar aos stories do Instagram.
Permitido em conversas individuais ou em grupos, o envio de mensagens por voz estava em desenvolvimento para aplicação em canais desde outubro do ano passado. Os administradores podiam enviar somente mensagens de texto, mídias e links aos seguidores, e agora, têm acesso a mais uma função de interação com a audiência.
Contudo, a Meta não informou quais serão as medidas preventivas a serem tomadas para evitar a adulteração de voz ou realizar a checagem de fatos das informações disseminadas aos seguidores. Atualmente, os canais não contam com notas que sinalizem mensagens que contém potencial de desinformação ou de direcionamento para páginas de verificação.
Seguidores de canais como o do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estariam suscetíveis ao recebimento de notícias falsas, a exemplo das deep fakes, nome dado à tecnologia de manipulação digital de áudios e vídeos por meio da inteligência artificial, com a finalidade de desinformar o usuário por meio da semelhança com a mídia ou a pessoa original.
Durante as eleições presidenciais de 2022, bolsonaristas usaram a técnica do deep fake para alterar falas dos âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos, nas quais anunciavam os resultados de pesquisa eleitoral no Jornal Nacional. O áudio e as imagens, sobretudo da movimentação dos lábios, foram alterados para enganar eleitores no WhatsApp.
Em 2019, o próprio CEO da Meta e cofundador do Facebook, Mark Zuckerberg, foi alvo de deep fake. As imagens adulteradas mostram ele explicando como dominar o mundo. Veja:
Outra ferramenta recém-disponibilizada é a do aumento no número de administradores. Agora, o WhatsApp permite até 16 administradores, o que aumenta a chance de disseminação de conteúdos falsos, uma vez que são mais pessoas aptas a enviar mensagens no canal.
A Meta e o TSE
Segundo a Meta, procurada pela Folha de S. Paulo, mesmo com as novas ferramentas, a empresa continua "o trabalho próximo aos checadores de fatos, que ganham uma nova ferramenta para fornecer às pessoas informações atualizadas e precisas sobre potenciais notícias falsas que circulam online".
A empresa também apontou que "coopera diretamente com autoridades locais [...] por meio do cumprimento de ordens judiciais de fornecimento de dados coletados dos usuários", a exemplo do TSE, dentro das limitações da plataforma e conforme a legislação brasileira.
Em 8 de janeiro, o TSE divulgou a minuta de resolução sobre propaganda eleitoral, que regulamenta o uso de inteligência artificial. Entre as novidades, o documento propõe que o uso de tecnologias para fabricar ou manipular conteúdos de propaganda eleitoral deverá ser informado explicitamente.
"Estão incluídos nestas categorias imagens ou sons criados, substituídos, omitidos, mesclados, sobrepostos ou que tenham tido a velocidade alterada por meio de ferramentas tecnológicas, como a inteligência artificial", diz o TSE.
O texto também destaca que pessoas que produzirem, oferecerem ou venderem vídeos com conteúdo falso sobres partidos ou candidatos poderão ser penalizados com o pagamento de multa (120 dias-multa a 150 dias-multa) ou detenção com pena de dois meses a um ano.
"O artigo proíbe a veiculação de conteúdo fabricado ou manipulado de fatos sabidamente inverídicos ou gravemente descontextualizados com potencial de desequilibrar o pleito ou a integridade do processo eleitoral, inclusive na forma de impulsionamento. Quando notificado sobre a ilicitude, o provedor de aplicação de internet adotará providências para a devida apuração do caso e indisponibilização do material impulsionado."
O texto será debatido na próxima quinta-feira (25), em audiência pública.