MACHISMO

Bolsonaro faz releitura de fala misógina sobre paridade entre homens e mulheres no trabalho

Em 2021, ex-presidente atacou projeto aprovado no Congresso que previa a paridade de gênero nas empresas. Lei só foi sancionada em 2022, quando ex-presidente tentava desesperadamente atrair voto feminino.

Jair Bolsonaro.Créditos: Valter Campanato/Agência Brasil
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Em meio à avalanche de investigações envolvendo seu nome, Jair Bolsonaro (PL) tem encontrado tempo para ir às redes sociais destilar machismo e propagar discurso de ódio, em uma espécie de releitura de declarações passadas.

Nesta quarta-feira (20), em meio a ataques contra Lula, o ex-presidente publicou em seus stories no Instagram uma tira em que ironiza a paridade de gênero no mercado de trabalho.

A primeira imagem mostra um personagem dizendo "uma empresa precisa ter 50% homens e 50% mulheres", com a celebração dos que assistem.

No outro quadro, o mesmo personagem diz que "uma criança precisa de mãe e pai", sob olhares raivosos do mesmo público.

Em live em abril de 2021, ao lado do então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, Bolsonaro criticou o recém aprovado projeto de lei que aumenta a multa trabalhista para empregadores que pagam salários diferentes para homens e mulheres que exercem a mesma função.

"Qual a consequência disso vetado ou sancionado? Vetado, vou ser massacrado. Sancionado, você acha que as mulheres vão ter mais facilidade de arranjar emprego ou não no mercado de trabalho. Vamos ver se eu sancionar como vai ser o mercado de trabalho para a mulher no futuro. É difícil para todo mundo, para a mulher é um pouco mais difícil. (Vamos ver) Se o emprego vai ser quase impossível ou não", disse, na ocasião, Bolsonaro.

A Lei só foi sancionada por Bolsonaro no dia 21 de setembro do ano seguinte, quando o ex-presidente buscava atrair o voto feminino - majoritariamente favorável a Lula, segundo as pesquisas.

Na campanha presidencial de 2018, Bolsonaro já havia dito que votou contra o projeto quando era deputado e repetiu que não considerava justo que mulher ganhasse menos do que homem.

Em 2015, ao jornal Zero Hora, Bolsonaro explicou o motivo de ser contra a paridade de gênero no marcado de trabalho e por que não achava justo a mulher ganhar o mesmo salário que o homem.

"Eu sou liberal. Defendo a propriedade privada. Se você tem um comércio que emprega 30 pessoas, eu não posso obrigá-lo a empregar 15 mulheres. A mulher luta muito por direitos iguais, legal, tudo bem. Mas eu tenho pena do empresário no Brasil, porque é uma desgraça você ser patrão no nosso país, com tantos direitos trabalhistas. Entre um homem e uma mulher jovem, o que o empresário pensa? "Poxa, essa mulher tá com aliança no dedo, daqui a pouco engravida, seis meses de licença-maternidade..." Bonito pra c..., pra c...! Quem que vai pagar a conta? O empregador. No final, ele abate no INSS, mas quebrou o ritmo de trabalho. Quando ela voltar, vai ter mais um mês de férias, ou seja, ela trabalhou cinco meses em um ano", disse Bolsonaro.

indagado qual seria a solução, o então deputado voltou a destilar misoginia.

"Por isso que o cara paga menos para a mulher! É muito fácil eu, que sou empregado, falar que é injusto, que tem que pagar salário igual. Só que o cara que está produzindo, com todos os encargos trabalhistas, perde produtividade. O produto dele vai ser posto mais caro na rua, ele vai ser quebrado pelo cara da esquina. Eu sou um liberal, se eu quero empregar você na minha empresa ganhando R$ 2 mil por mês e a Dona Maria ganhando R$ 1,5 mil, se a Dona Maria não quiser ganhar isso, que procure outro emprego! O patrão sou eu".