Agentes da Polícia Federal (PF) que participaram da operação de busca e apreensão em endereços ligados à deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) nesta quarta-feira (2) tiveram uma surpresa ao chegarem no gabinete da parlamentar na Câmara: o local tinha passado por uma "limpa".
Segundo informações da PF repassadas à jornalista Andréia Sadi, não havia computadores, como é normal em gabinetes parlamentares, e até mesmo o lixo estava revirado. A suspeita é de que Zambelli tivesse informações antecipadas sobre a operação.
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Em outros endereços de Carla Zambelli, a PF apreendeu armas, celulares, passaporte e documentos. A deputada deve prestar depoimento aos investigadores na próxima semana.
Prisão do "hacker" e operação contra Zambelli
O registro de uma transferência via Pix no valor de R$ 13,5 mil feito por assessores de Carla Zambelli (PL-SP) foi o principal motivo que fez com que a deputada bolsonarista virasse alvo da ação de busca e apreensão desencadeada nesta quarta-feira (2) pela Polícia Federal na Operação 3FA, que levou de volta à prisão Walter Delgatti Neto, o "hacker de Araraquara".
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Em depoimento, Delgatti afirmou que recebeu o valor como parte do pagamento - o restante teria sido acertado em dinheiro vivo - "para ficar à disposição da deputada".
Um dos "serviços" prestados pelo hacker foi invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para inserir um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
"Disse à deputada que conseguiria emitir um mandado de prisão em desfavor do próprio ministro, como se fosse ele mesmo emitindo. A deputada ficou 'empolgada', fez o texto e enviou para o declarante publicar", diz o trecho do depoimento de Delgatti usado pela PF para pedir ao Supremo o mandado de busca e apreensão.
No falso mandado de prisão contra Moraes, inserido no sistema do CNJ no dia 4 de janeiro, Delgatti diz que incluiu o "faz o L" a pedido da deputada. "Expeça-se o mandado de prisão em desfavor de mim mesmo, Alexandre de Moraes. Publique-se, intime-se e faz o L", diz o documento falso.
Em nota, a PF informou que as ações ocorrem no âmbito da operação 4FA que investiga a invasão ao sistema do CNJ e a inserção de documentos e alvarás falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP).
A PF diz que, na ação, Delgatti cometeu dois crimes que o levaram de volta à cadeia: invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica.
"Os crimes apurados ocorreram entre os dias 4 e 6 de janeiro de 2023, quando teriam sido inseridos no sistema do CNJ e, possivelmente, de outros tribunais do Brasil, 11 alvarás de soltura de indivíduos presos por motivos diversos e um mandado de prisão falso em desfavor do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes", diz a PF.
Armas, passaporte e celular
Ao atender o pedido da Polícia Federal, o ministro Alexandre de Moraes determinou a apreensão "armas, munições, computadores, tablets, celulares, passaportes e outros dispositivos eletrônicos bem como de quaisquer outros materiais relacionados aos fatos investigados".
Com a apreensão do passaporte, Carla Zambelli fica impedida de deixar o país.
O despacho também detalha que seja apreendido dinheiro e bens - joias, veículos, obras de arte e outros objetos - em "valores superiores a R$ 10.000, desde que não comprovada cabalmente, no local dos fatos, a origem lícita". E ordena a verificação da existência de "eventuais salas reservadas ou cômodos secretos", além da análise de conteúdo "em arquivos, mensagens eletrônicas e e-mails armazenados em eventuais computadores, servidores, redes, inclusive serviços digitais de armazenamento em nuvem".
A busca e apreensão foi cumprida na casa da deputada, no interior de São Paulo, e em outros três endereços em Brasília, incluindo o gabinete 885, de Carla Zambelli, no anexo 3 da Câmara dos Deputados.