Alvo de ação de busca e apreensão da Polícia Federal na manhã desta quarta-feira, Carla Zambelli (PL-SP) iniciou sua declaração sobre o caso, na Câmara dos Deputados, em tom melancólico, mas logo se irritou com perguntas e passou a atacar os jornalistas.
Em sua explanação, a deputada tentou rifar Walter Delgatti Neto, o hacker de Araraquara, dizendo que teve "poucos encontros" com ele e que fez apenas um pagamento para ele, no ano passado, de R$ 3,5 mil por ele ter sido contratado para fazer a integração entre seu site e as redes sociais - serviço que, segundo ela, ele não conseguiu entregar.
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"O que eu tenho de relação com esse Walter Delgatti é que um dia eu o conheci saindo de um hotel, ele pediu meu telefone, eu dei meu telefone. Ele a cada momento mudava de telefone ou então quando falava ele apagava as mensagens. Não gostava de falar por telefone, sempre queria falar ao vivo, mas foram poucos encontros, acho que dois encontros ou três no máximo, em que a gente conversou sobre tecnologia", afirmou a deputada, depois de se dizer "surpresa" com a chegada da PF em sua casa mais cedo.
Isolada, com poucos deputados ao seu redor, Carla Zambelli disse ainda que pagou uma viagem de Delgatti a Brasília depois que o hacker falou que teria "serviços a oferecer para o partido PL".
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"A gente levou ele até o Valdemar da Costa Neto, fez uma reunião. E nessa reunião, sabendo que ele tinha bastante conhecimento na área, mas não sabia em que espectro ideológico ele estaria naquele momento, eu fiz que não para o Valdemar", disse.
"Ele ofereceu o serviço de participar de um tipo de auditoria das urnas eletrônicas durante o primeiro e segundo turnos", contou ela, antes de falar do encontro de Delgatti com Bolsonaro.
"Como é sabido de vocês, ele foi conhecer o presidente porque disse ele que teria muitas informações sobre tecnologia. A conversa foi privada. A pergunta que o presidente fez foi se as urnas eram confiáveis e ele respondeu que nenhum sistema tecnológico é confiável", afirmou.
A deputada, que foi afastada da convivência do ex-presidente pelo clã no início do ano, então passou a defender Bolsonaro, como uma forma de tentar uma reaproximação.
"A partir dali não houve mais qualquer contato com o presidente Bolsonaro. É mentira o que disseram a respeito do telefone, que coloquei um chip novo e etc. Nunca fiz isso e nunca liguei para o presidente Bolsonaro para falar sobre qualquer assunto relacionado a isso".
A declaração de Carla Zambelli contradiz o depoimento de Delgatti à PF em dois aspectos, pelo menos. O hacker teria mostrado Pix no valor de R$ 13,5 mil recebido de um assessor da deputada. Além disso, Delgatti afirmou que falou com Bolsonaro por um telefone novo, "tirado da caixa" por Zambelli, para tratar de uma "missão" junto a Alexandre de Moraes - saiba mais detalhes.
Ao final, Carla Zambelli afirmou que "estão tentando envolver o presidente [Bolsonaro na invasão do sistema do CNJ] através de mim pelo fato de eu ser bastante ligada ao presidente".
Irritação
Após a declaração em tom melancólico, Zambelli se irritou com as perguntas dos jornalistas.
A deputada contrariou o depoimento de Delgatti, que afirma ter partido dela, a ordem para invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inserir um mandado falso de prisão contra Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Indagada sobre o assunto, Zambelli afirmou que "não pagaria R$ 3 mil para fazer uma brincadeira de mau gosto".
"Eu pagaria R$ 3 mil para se arriscar dessa forma para fazer uma brincadeira de mau gosto? Porque essa questão do CNJ foi só uma brincadeira de mau gosto. Eu sou uma deputada séria. E acho que não participaria de uma piada de mau gosto com o Alexandre de Moraes. Eu sei o que pode acontecer com um deputado que brinca com ministros do STF. Haja vista nosso amigo Daniel Silveira que está preso em Bangu", afirmou.
Em seguida, Carla Zambelli se irritou com as perguntas e passou a atacar os jornalistas.
"Na Vaza Jato vocês tratavam o Walter Delgatti como um rei. Era como se ele tivesse salvando a humanidade e sendo responsável pela soltura do Lula. Agora vocês estão preocupados em eu ter levado uma pessoa para ver o presidente? Me desculpa, mas a pergunta não faz sentido", disse, demonstrando irritação.
Zambelli, então, voltou a ser indagada sobre o encontro de Delgatti com Bolsonaro e atacou novamente os repórteres dizendo que "vocês estão querendo envolver o presidente numa questão que é minha".
"Eu digo o seguinte: se houver qualquer coisa relacionada a Walter Delgatti é Carla Zambelli que responde, o presidente Bolsonaro não tem absolutamente nada a ver com isso. Muito obrigado", disse a deputada deixando a entrevista.
Segundos depois, desnorteada, Zambelli voltou e disse que vai acionar o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sobre possíveis ilegalidades na busca e apreensão realizada em seu gabinete.