Apesar do advogado de Bolsonaro Frederick Wassef negar seu envolvimento no escândalo das joias desviadas do acervo da Presidência da República para serem revendidas nos EUA, a investigação da Polícia Federal diz o contrário. Nesta segunda-feira (14), além de ter sido revelado que seu nome consta no recibo de recompra de um relógio Rolex em loja na Pensilvânia, a PF também revelou sua hipótese sobre como foi a entrega do item ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, em São Paulo.
De acordo com mensagens de WhatsApp obtidas pela PF, Wassef teria retornado a São Paulo em 29 de março da viagem feita aos EUA em que o Rolex foi recomprado. Na mesma data, o coronel Marcelo Câmara, militar da Ajudância de Ordens de Bolsonaro subordinado a Cid, escreveu para o chefe que “o material” estava “em São Paulo”, em referência ao relógio.
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Ainda de acordo com as mensagens obtidas pela PF, o próprio Cid estaria na capital paulista naqueles dias, onde acompanhava as filhas em competição de hipismo. ??quela altura o escândalo das joias sauditas já estava na imprensa, mas não era conhecido publicamente o destino das joias.
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Durante sua estadia em São Paulo, Cid estava totalmente voltado para a rotina das filhas. Deslocava-se com frequência entre as competições de hipismo e shooping centers, onde frequentou cinemas e restaurantes com a família. Com a corrida a rotina de passeios, só foi possível o encontro para entrega do Rolex em 2 de abril.
“Em 02/04/2023, Mauro Cid avisa Frederick Wassef: ‘Estou indo para a Hípica’ e em seguida passa as coordenadas geográficas da Sociedade Hípica Paulista. (…) Mauro Cid, possivelmente, só ficou com a posse do relógio em 2 de abril, após um encontro no local com Frederick Wassef”, diz o relatório da PF entregue ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF).
Apenas dois dias depois, em 4 de abril, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a devolução do kit de joias, o que foi feito pela defesa de Bolsonaro.
Nome no recibo
O nome do advogado Frederick Wassef, que faz a defesa da família Bolsonaro, aparece nos recibos de recompra do relógio Rolex de ouro branco cravejado de diamantes que havia sido vendido pela Organização Criminosa na loja Precision Watches, da Pensilvânia, nos Estados Unidos.
O documento faz parte da investigação da quadrilha que vendeu joias recebidas por Jair Bolsonaro (PL) em viagens oficiais no Oriente Médio. Além de Wassef, que teria tido "papel principal" na OrCrim, o grupo incluia ainda o ex-ajudante de ordens da Presidência, o tenente coronel Mauro Cid, o pai dele, o general da reserva Mauro Lourena Cid, e um subordinado na ajudância de Bolsonaro e também assessor de Bolsonaro, o segundo tenente Osmar Crivellati.
Em resposta ao fato, que seria uma prova cabal de seu envolvimento nas ações ilegais, Wassef deu uma versão surreal ao jornalista Valdo Cruz, do portal g1.
“Nada. Nunca vi esse relógio. Nunca vi joia nenhuma... Nunca na minha vida. Desafio a provarem isso. Falo e garanto”, respondeu o advogado, embora tenha confirmado a viagem aos EUA, na mesma data e local onde a negociação de recompra teria acontecido, segundo o inquérito da PF.
Operação de recompra
A operação para recompra do kit de joias contendo um anel, abotoaduras, um rosário islâmico (“masbaha”) e o relógio da marca Rolex é detalhado pela PF e consta na decisão de Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a operação na última sexta-feira (11).
O alerta foi dado em 8 de março de 2023, diante de especulações de uma possível ação da PF no bunker montado na fazenda do ex-piloto Nelson Piquet, em Brasília, para guardar objetos surrupiados do acervo da Presidência da República.
Mauro Cid teria contatado Crivellati, que ficou responsável pelos objetos no bunker, falando sobre uma possível medida do Tribunal de Contas da União para entrega do relógio, que já havia sido vendido pelo grupo.
A articulação ocorreu em um grupo no WhatsApp chamado "Kit de Ouro Branco" com Cid, Crivelatti e o também ex-assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara. Além do relógio vendido na loja da Pensilvânia, o restante das peças estavam à venda em lojas do complexo Seybold Jewelry Building, em Miami.
Alertado por Fabio Wajngartem, ex-Secretário de Comunicação da Presidência e também assessor de Bolsonaro, de que o TCU pediria as peças, Cid entrou em contato com Wassef para encomendar a missão de recompra do Rolex. Wassef embarcou para os EUA em 11 de março rumo a Fort Lauderdale, na Flórida, e voltou ao Brasil no dia 29 de março, já com o relógio recomprado.