Michelle Bolsonaro recorreu a uma tática que já se tornou habitual e atacou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na tentativa de abafar mais um escândalo que envolve seu marido Jair Bolsonaro.
Através dos stories do Instagram, no sábado (6), a ex-primeira-dama publicou um trecho editado da live "Conversa com o Presidente", que Lula faz todas as terças-feiras, em que fala rapidamente sobre um relógio da marca Piaget, o valor de R$ 80 mil, que o ex-mandatário ganhou do ex-presidente francês Jacques Chirac em 2005.
Lula já falou em mais de uma ocasião sobre o acessório e jamais escondeu sua origem. O objeto, que leva uma inscrição "de Chirac para Lula", inclusive, estava guardado há muito tempo pois havia parado de funcionar e o chefe do Executivo, ainda na campanha eleitoral de 2022, o mandou para o conserto.
No trecho da live que Michelle usa para tentar atacar o presidente, Lula volta a tratar sobre o relógio durante uma conversa com o jornalista Marcos Uchôa sobre as homenagens a Santos Dumont pelos 150 anos do nascimento do aeronauta e inventor brasileiro.
"Eu acho que o Santos Dumont é um cara que deveria ser muito respeitado no Brasil, sabe. Porque não só inventou o relógio, mas inventou o relógio de pulso. Ninguém sabe, mas ele inventou, sabe. Aí, hoje, eu tô com um relógio de pulso aqui chique, ó. Esse relógio eu ganhei, em 2005, do Chirac, no ano de aniversário de comemoração do Brasil. A China, a França fez uma homenagem ao Brasil, os nossos fuzileiros navais foram desfilar no desfile da França. E aí, de repente, o Chirac me deu esse relógio. Você sabe que esse relógio ficou perdido 25 anos?", disse Lula.
"Eu não sabia onde tava. Quando agora eu fui mudar, que eu fui abrir gaveta, tava lá. Aí eu tô usando ele aqui pra ver se ele tá bom ainda. Ele tem um escudo brasileiro, ó…", prosseguiu o presidente.
Michelle, então, se apegou ao fato de Lula dizer que o relógio estava perdido há 25 anos para dizer que o presidente "mente que nem sente". Isso porque o mandatário, em um lapso, apenas errou o tempo que o objeto estava perdido, pois se fosse há 25 anos, teria que ter o ganhado em 1998 - ou o achado em 2030. A ex-primeira-dama, entretanto, como pretendia somente atacar o presidente, não explicou qual seria exatamente a mentira de Lula.
A publicação da esposa de Bolsonaro vem em meio à descoberta de que o ex-ajudante de ordens de seu marido, Mauro Cid, foi flagrado em e-mail tentando vender um relógio Rolex, cravejado com diamantes, que teria sido dado ao governo brasileiro por autoridade estrangeira em viagem oficial.
Escândalo do Rolex; entenda
A quebra pela CPMI dos Atos Golpistas do sigilo telemático do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) na Presidência da República, começa a revelar o destino de presentes luxuosas recebidos durante viagens oficiais do ex-presidente.
Uma troca de email em inglês, datada de 6 de junho de 2022, mostra o militar negociando a venda de um relógio da marca Rolex "cravejado de platina e diamante" que teria sido recebido durante viagem oficial.
“Obrigado pelo interesse em vender seu rolex. Tentei falar por telefone, mas não consegui", diz, em inglês, a interlocutora. “Quanto você espera receber por ele? O mercado de rolex usados está em baixa, especialmente para os relógios cravejados de platina e diamante, já que o valor é tão alto. Eu só quero ter certeza que estamos na mesma linha antes de fazermos tanta pesquisa", emenda.
Na resposta, o assessor de Bolsonaro afirma que não possuía o certificado porque o relógio foi um "presente recebido em viagem oficial. Cid ainda afirma que estava pedindo 60 mil dólares pelo Rolex, algo em torno de R$ 300 mil pela cotação atual.
Em outubro de 2019, durante viagem a Doha, no Catar, e Riade, na Arábia Saudita, Bolsonaro recebeu um conjunto de joias que inclui um relógio da marca Rolex de ouro branco cravejados com diamantes. O valor das joias é estimado em R$ 500 mil.
As joias foram dadas pelo rei sauditan Salman bin Abdulaziz Al Saud. No total, ao menos três conjuntos de joias recebidos em viagens oficiais foram surrupiados por Bolsonaro.
O conjunto de joias que incluia o Rolex foi devolvido pela defesa de Bolsonaro em abril deste ano, após a Polícia Federal instaurar uma investigação para apurar outro conjunto de joias da Arábia Saudita, avaliado em R$ 5 milhões, retido pela Receita Federal no aeroporto internacional de Guarulhos.
Mauro Cid foi o comandante da operação que tentou, sem sucesso, resgatar as joias em posse do Fisco. O militar está preso desde maio por participar de um esquema de supostas fraudes no cartão de vacina e por manter conversas de teor golpista.