Em entrevista à revista Crusoé, divulgada nesta sexta-feira (28), Jair Bolsonaro (PL) afirmou que chegou a "pensar" em dar um golpe de Estado, mas que ninguém tentou convencê-lo a colocar em marcha a empreitada.
"Pensar, todo mundo pensa. De vez em quando alguém falava alguma coisa. Agora, ninguém tentou me convencer", afirmou.
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Investigado em cerca de 600 processos, dentre eles o inquérito dos atos golpistas, o ex-presidente disse que dar golpe é "fácil", mas que o problema seria o dia seguinte ao ser indagado se "sentiu desejo de invocar o artigo 142", dispositivo da Constituição distorcido por bolsonaristas para invocar uma intervenção militar no país.
"Dar um golpe é a coisa mais fácil que tem. O duro é o day after, o dia seguinte. Como é que o mundo vai se relacionar conosco? Temos experiência de países que tomaram medidas de força e as consequências são péssimas", disse Bolsonaro, após ressaltar que da parte dele "não houve nada".
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"Quando você fala de Estado de Defesa, de Estado de Sítio, de art. 142, são todos remédios previstos na Constituição. Se o presidente decide acionar o art. 142, precisa enfrentar as condicionantes, explicar o porquê de se fazer aquilo. Você tem que ouvir o Conselho da República. Então, houve alguma assinatura em qualquer documento da minha parte? Não houve nada. Eu convoquei os conselhos da República e da Defesa para tratar desse assunto? Não".
Sobre os contatos do tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens que encontra-se preso, com o coronel Jean Lawand, que solicitava que o presidente desse a "ordem" para o desencadeamento do golpe, Bolsonaro minizou e diz não conhecer o militar.
"Eu nunca tive contato com o coronel Lawand. O Cid passou a ter amizade com algumas pessoas e a ter liberdade de falar o que bem entendesse. É comum você falar uma coisa que não queria e, depois que acontece, você se arrepende. Jamais alguém ia tratar de golpe por WhatsApp".
Atos Golpistas
Bolsonaro também se eximiu da responsabilidade sobre os atos golpista de 8 de Janeiro desencadeado por seus apoiadores e disse que a "narrativa do golpe" pretende chegar a ele.
"Falam muito em achar os financiadores das manifestações, quem paga a conta… mas, quando um requerimento da CPMI pedindo as listas de hospedagem dos hotéis de Brasília depois dos atos de 8 de janeiro é rejeitado, você percebe que algo está errado. Aí você vê que o governo está extremamente interessado em que não se apure nada. Ele quer que continue essa narrativa de golpe. A gente sabe que o pessoal quer chegar a mim", afirmou.
O ex-mandatário disse ainda que os ataques às sedes dos três poderes foram feitos por "pobres pessoas que se viram tentadas a entrar no Parlamento", sendo que a "grande maioria era bem-intencionada".
"O pessoal queria protestar. Qual era o melhor lugar? No meu entender, se ficasse acampado na Esplanada dos Ministérios, seria pior. Então ficavam longe [em relação ao acampamento em frente ao QG do Exército], afastados… agora, por dois momentos, essas pessoas erraram ao vir para a área central. Primeiro em 12 de dezembro, quando houve ônibus incendiados. No 8 de janeiro, foram pobres pessoas que se viram tentadas a entrar no Parlamento. Não era para terem entrado. Os acampamentos já estavam se esvaindo. Os mais de 100 ônibus que foram para a capital, a grande maioria era bem-intencionada", relatou.