AMEAÇA À DEMOCRACIA

Professora aciona MPF contra Eduardo Bolsonaro: "discurso pode provocar novas tragédias"

O deputado, durante manifestação do Pró-Armas Brasil, afirmou que educadores são mais perigosos que traficantes; Sâmia Bomfim aciona PGR para investigar caso; PF também vai apurar conduta do parlamentar

Professora aciona MPF contra Eduardo Bolsonaro: "discurso pode provocar novas tragédias".Créditos: Reprodução redes sociais
Escrito en POLÍTICA el

A professora Nelice Pompeu, servidora da rede pública de ensino do estado de São Paulo, acionou o Ministério Público Federal (MPF) para que tome providências urgentes contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) que, durante manifestação do Pró-Armas Brasil,  realizada neste domingo, em Brasília, afirmou que "professores são mais perigosos que traficantes".

"Prestem atenção na educação dos filhos. Tirem um tempo para saber o que eles estão aprendendo nas escolas, não vai ter espaço para professor doutrinador tentar sequestrar nossas crianças. Não há diferença entre um professor doutrinador e um traficante de drogas, que tenta sequestrar e levar nossos filhos para o mundo do crime. Talvez até o professor doutrinador seja ainda pior, porque ele vai causar discórdia dentro da sua casa", declarou Eduardo Bolsonaro.

Em entrevista à Fórum, Nelice Pompeu conta que tomou conhecimento do discurso criminoso de Eduardo Bolsonaro no final da tarde deste domingo (9) e que ficou "revoltada"..  "Eu vi ontem [domingo], já era no finalzinho da tarde uma postagem da Fórum. Assisti ao discurso e fiquei muito chocada, revoltada. Eles conseguem se superar e isso também chama atenção para diversos aspectos. A gente não pode ver como uma fala isolada: primeiro, era um evento pró-armas, então já é uma situação em si que estimula a violência e no momento em que as escolas... a gente tem sofrido demais nas escolas com o aumento da escalada da violência", comenta Nelice Pompeu.

Em seguida, Nelice também afirma que a declaração de Eduardo Bolsonaro "gera insegurança e pânico". "Quem está no chão da escola, a gente sabe como essa [a fala de Eduardo Bolsonaro] gera insegurança, pânico, medo, não só nos servidores, nos profissionais da educação, mas em toda a comunidade escolar", pontua a professora.

As declarações de Eduardo Bolsonaro, para Nelice Pompeu, também servem para aprofundar o "clima de intolerância que o país tem vivido, a questão do ódio. Ele acaba se perpetuando, porque a fala de um deputado alcança diversos grupos, é uma fala que repercute, chega a alguém que leva isso ao pé da letra, sabe lá quais podem ser as consequências disso".

Além disso, a professora afirma que não se pode dizer "que foi uma declaração infeliz, não é uma declaração infeliz, foi uma declaração irresponsável e insensível. Só neste ano, nossas escolas estiveram manchadas de sangue, perdemos colegas e perdemos crianças. Ele [Eduardo Bolsonaro] pode provocar novas tragédias".

Entre os educadores, Nelice Pompeu afirma que o clima é de "muita revolta e indignação porque nossa profissão já é adjetivada de forma pejorativa, já fomos chamados de parasitas, burros, vagabundos. Nós somos alvo tanto dos adeptos do bolsonarismo como dos adeptos do Escola Sem Partido". 

"Comparar os professores com traficantes mostra o lado mais baixo que uma pessoa pode chegar, isso extrapola qualquer tipo de divergência, qualquer tipo de opinião que a pessoa tenha. Ele está usando esse fato para fazer um populismo barato e também para disseminar o ódio. Na verdade, quem está doutrinando é ele. É uma doutrinação que pode causar inclusive novas tragédias, não foi uma declaração infeliz. Foi uma declaração sim criminosa", critica a professora.

Por fim, a professora Nelice Pompeu considera que a fala de Eduardo Bolsonaro tem por objetivo "impedir a gente de continuar nosso trabalho em prol de uma nação mais democrática e humana".

Flávio Dino: Eduardo Bolsonaro será investigado por enaltecer traficantes

Em entrevista ao Fórum Onze e Meia nesta segunda-feira (10), o ministro da Justiça, Flávio Dino afirmou que a Polícia Federal (PF) vai abrir investigação para apurar o cometimento de ao menos dois crimes nos discursos feitos em ato do grupo Pró-Armas Brasil ocorrido neste domingo (9) na Esplanada dos Ministérios.

"Hoje pela manhã pedi ao diretor-geral da Polícia Federal que analise os discursos para verificar se houve ali o cometimento de mais crimes, mas sobretudo dois: incitação à prática criminosa e o outro se chama apologia de fato criminoso. É quando você enaltece, por exemplo, um traficante, quando enaltece o 8 de Janeiro, que já há uma definição jurídica de que foram atos criminosos e ilegais", disse Dino.

Sâmia Bomfim aciona PGR contra Eduardo Bolsonaro 

A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que é professora, revelou na tarde desta segunda-feira (10) que acionou a Procuradoria Geral da República (PGR) para que apure possíveis crimes contra a liberdade de cátedra e de abuso na liberdade de manifestação, ocasionando danos coletivos aos professores brasileiros.

“Nosso país está marcado nos últimos anos por atentados contra escolas. Isso é fruto da cultura armamentista e da política de violência e ódio que se intensificou após 4 anos de governo de extrema-direita. Eduardo Bolsonaro, mais uma vez, comete uma série de crimes contra os professores nesse ato estapafúrdio. Estamos acionando a PGR para que tome providências. A extrema direita detesta a educação crítica e cidadã, porque ela desmonta o discurso de ódio e ignorância que é base do bolsonarismo”, declarou a deputada Sâmia Bomfim.