Em vídeo nas redes sociais, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência, Paulo Pimenta, sinalizou que os cerca de R$ 16,5 milhões em joias que teriam como destino a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, pode ser fruto de "propina" sobre a privatização da refinaria Landulpho Alves, na Bahia, que pertencia à Petrobras e foi vendida ao fundo árabe Mubadala Capital pouco mais de uma semana após Jair Bolsonaro (PL) voltar de um giro pelo Oriente Médio.
"Jair, Michelle e seus apoiadores mais próximos tentaram de todas as maneiras que uma propina de R$ 16,5 milhões em diamantes ficasse com a família. Na hora que o governo estava negociando a venda de uma grande refinaria para o mundo árabe apareceu esse presente. Joias, diamantes, que deveriam ser do Estado brasileiro", afirma Pimenta no vídeo.
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Em outro tuite, Pimenta lembrou um tuite dele mesmo no dia º de dezembro de 2021 em que diz "Bolsonaro entregou de mão beijada refinaria para fundo árabe após viagem a Dubai".
O ex-presidente recebeu as joias em outubro de 2021 durante visita à Arábia Saudita. No dia 8 de novembro do mesmo ano, Bolsonaro atacou a Petrobras em nova viagem ao Oriente Médio.
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“Para mim, o ideal é você ficar livre da Petrobras. Logicamente, privatizar para muitas empresas. Não pode tirar de uma monopólio estatal e colocar em um monopólio privado, tem que fatiar isso daí”, afirmou à época.
Na mesma viagem, o então ministro da Economia, Paulo Guedes, disse a uma plateia de "investidores" na capital dos Emirados Árabes que estava em busca dos “petrodólares”.
“Aqui estão os petrodólares. Nós fizemos um grande movimento no final da década de 80, depois do choque do petróleo, para pegar essa reciclagem de recursos. Só que, naquela época, foi com endividamento. Nós fizemos uma expansão da infraestrutura com base em dívida. Agora nós vamos fazer com participação nos programas de investimento nossos, nas nossas parcerias de investimentos“, disse Guedes, sinalizando que iria incluir os árabes no esquema de venda fatiada do setor petrolífero estatal brasileiro.
À época, a refinaria Landulpho Alves, da Petrobras, já estava sendo entregue ao fundo árabe Mubadala Capital, que conclui a compra no dia 1º de dezembro de 2021.
A operação foi fechada com o pagamento de US$ 1,8 bilhão (R$ 10,1 bilhões) para a Petrobras, muito abaixo de estudo de valuation do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), que mostra que o valor de mercado da RLAM estaria entre R$ 17 bilhões e R$ 21 bilhões.
Antes de iniciar as negociações para a venda, o governo encomendou uma estimativa do valor ao BTG Pactual, banco que foi fundado por Paulo Guedes, que estipulou em uma venda 35% (R$ 5 bilhões) abaixo do mercado, o que daria à refinaria um valor de cerca de R$ 13,9 bilhões. No entanto, a Petrobras jogou o preço para baixo na negociação com os árabes.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) entrou com ações na Justiça para barrar a venda, denunciando o preço irrisório, além da criação de um monopólio regional para distribuição de combustíveis na Bahia.
A Acelen, empresa criada pelo Mubadala Capital para a operação, assumiu a RLAM, que passou a se chamar Refinaria Mataripe, e liderou as altas de combustíveis durante o governo Bolsonaro, quando a gasolina chegou a ser vendida a quase R$ 9 o litro.
Cargo em Paris
Reportagem de Anderia Sadi e Arthur Guimarães no portal G1, da Globo, nesta segunda-feira (6) mostra que Jair Bolsonaro tentou dar um cargo em Paris a Julio Cesar Vieira Gomes, que comandava a Receita Federal quando tentou fazer entrar ilegalmente no país joias de R$ 16,5 milhões para a ex-primeira-dama Michelle.
Gomes foi nomeado adido da Receita Federal em Paris em 30 de dezembro de 2022, dia seguinte à ida de um auxiliar do presidente até o Aeroporto de Guarulhos (SP) para recuperar as joias apreendidas na Anfândega.
O decreto foi assinado por Hamilton Mourão (Republicanos), que assumiu a Presidência após Bolsonaro fugir para os EUA para não passar a faixa presidencial a Lula. A nomeação de Vieira foi cancelada por Fernando Haddad
No mesmo despacho, Mourão nomeou como adido da Receita Federal nos Emirados Árabes Unidos um outro auditor-fiscal suspeito de agir em favor dos interesses de Bolsonaro: José de Assis Ferraz Neto, então subsecretário-geral da Receita que teria pressionado o corregedor do órgão a não investigar a quebra de sigilo fiscal de desafetos da família do ex-presidente da República.