O ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que teria recebido do governo da Arábia Saudita um estojo com joias avaliadas em R$ 16,5 milhões, que deveria ser entregue nas mãos do então presidente Jair Bolsonaro (PL), como “presente”, diz no áudio em que foi entrevistado pelo jornal O Estado de S. Paulo que “ninguém sabia o que existia nas caixas”, e que “quando vimos depois (da apreensão)” supôs que “as joias eram para a primeira-dama”, mas “o relógio e essas coisas” eram “para o presidente”, dando a entender que mais itens poderiam estar na bagagem de um assessor militar seu despachada no voo 773 da Qatar Airways, que saiu de Doha, no Catar, com destino a São Paulo, mas que foi interceptada pela Receita Federal em Guarulhos.
“A comitiva não sabia o que que tinha dentro daquelas caixas. Eram presentes oficiais do governo da Arábia Saudita. E veio assim, como presente oficial. Se passou por todos os procedimentos de segurança, raio-x e tal, como é que a gente pode imaginar o que tem ali? Como eu disse pra você, ninguém sabia o que que tinha nesse pacote... Quando foi aberto lá, aí me ligaram, eu já tava fora, certo? Aí me chamaram e eu fui lá dentro, aí o, sei lá, funcionário da Receita Federal para mim, ‘ministro, o senhor sabe do que se trata isso? Porque o seu assessor ele disse que não sabia’, bem e eu disse que também não, que a caixa tava fechada, embrulhada, nunca tinha sido aberta... aí eu digo, ‘ah, não tenho conhecimento’... Isso é um presente, e como era uma joia, a joia não era pro presidente Bolsonaro, deveria ser pra primeira-dama, e o relógio e essas coisas que nós vimos depois deveriam ser pro presidente”, diz Albuquerque.
O repórter do Estadão não pergunta para o ex-ministro de que “relógio e essas coisas” ele estava falando, já que o estojo das joias continha claramente dois pares de brincos, um colar, um anel e um relógio feminino. Bento Albuquerque também diz algo que é facilmente desmentido por imagens. Ele afirma não ter a mínima ideia do que havia “no pacote”, mas a escultura de um cavalo dourado, que estava quebrada e era integrante “do pacote” dado por ele a seu assessor, para que ingressasse no Brasil, já tinha passado por suas mãos. Há, inclusive, uma foto do ex-ministro recebendo a escultura de uma autoridade saudita depois de uma reunião.
Ouça o trecho da entrevista: