Na noite da última sexta-feira (3), o jornal O Estado de S. Paulo trouxe à tona uma história relacionada ao ex-presidente Jair Bolsonaro de arrepiar os cabelos. Numa visita oficial de seu ministro de Minas e Energia, à época o almirante Bento Albuquerque, à Arábia Saudita, um estojo com joias valiosíssimas (R$ 16,5 milhões) foi dado ao representante brasileiro por autoridades locais, com a orientação de entregá-lo ao então chefe de Estado, como presente à sua esposa, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Mais tarde, soube-se que havia também um estojo para o ocupante do Palácio do Planalto, com relógio, abotoaduras, anel e um item religioso.
O problema é que o estojo direcionado a Michelle, o mais valioso, que havia sido colocado na mochila de um assessor militar de Bento Albuquerque, foi confiscado pela Receita Federal na chegada dos brasileiros ao país, no final de outubro de 2021. A partir daí, uma verdadeira novela, com Jair Bolsonaro desesperado para recuperar as joias, passou a ocorrer.
Te podría interesar
O Estadão publicou neste domingo (5) os detalhes minuciosos daquela que teria sido a última tentativa do então presidente de recuperar a verdadeira fortuna “dada” a ele e à esposa, mas que não poderia ficar em suas mãos, por questões legais, e que ficou retida na Alfândega do Aeroporto Internacional de São Paulo.
Marco Antônio Lopes Santanna, um servidor da Receita Federal do Brasil, foi informado de que uma “visita em caráter de urgência” acabava de chegar à Base Aérea de Guarulhos, anexa ao aeroporto de Cumbica, local onde ele é lotado. Eram 18h10 de 29 de dezembro de 2022.
Te podría interesar
O “visitante” acabara de chegar num avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e vinha tratar com ele de uma “demanda do senhor presidente da República”. Era o sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva, um ajudante de ordens muito próximo do então presidente Jair Bolsonaro e de sua total confiança.
O marinheiro se apresentou a Marco Antônio, explicou o caráter extraordinário e urgente que o fez sair de Brasília e ir até São Paulo numa aeronave militar, paga com dinheiro público, por determinação do chefe de Estado. Ele foi objetivo com o funcionário da Receita Federal: “vim retirar um material retido na Alfândega” e mostrou-lhe o celular.
Na tela do aparelho aparecia um documento com o nome do secretário da Receita Federal na gestão de Bolsonaro, Julio Cesar Vieira Gomes, e estaria relacionado ao Termo de Retenção de Bens do estojo de joias caríssimas apreendidos mais de um ano antes com o assessor do ministro Bento Albuquerque, que deveria ter sido entregue nas mãos de Jair Bolsonaro.
Marco Antônio, o servidor da Receita Federal, afirmou que não entregaria qualquer bem ao militar, argumentando desconhecer aquela “ordem” vinda do presidente e explicando ao ajudante de ordens que o tal documento mostrado na tela do celular era destinado ao secretário da Receita Federal e não a ele.
Jairo, o marinheiro, pegou o celular e ligou, então, para alguém que ele apenas chamava de “coronel”. Depois de muito papo, o militar da Marinha disse a Marco Antônio que “o coronel” queria falar com ele, mas o funcionário público recusou o diálogo e disse que não tinha coisa alguma para tratar pelo telefone.
Já sem paciência e sem conseguir avançar na “missão” de levar o estojo com as joias, Jairo foi “direto e claro” com o servidor da Receita Federal e disse que “estava ali naquele horário e data” por determinação “do presidente da República”, para retirar o tal objeto apreendido “porque estava próximo do período de passagem do governo” e que "não poderia ficar nada lá” que “fosse do antigo presidente para o novo”.
Passados alguns minutos, o telefone do militar da Marinha tocou e era o “alinhado” secretário da Receita Federal, Vieira Gomes. “Seu chefe quer falar com você”, disso o ajudante de Bolsonaro. Marco Antônio pegou o telefone, falou com seu superior e reiterou: “não vou entregar nada!”.
Ele pediu então para que “o chefe” ligasse para o delegado da Alfândega de Guarulhos, Fabiano Coelho.
O militar da ajudância de ordens de Bolsonaro ficou alguns minutos lá, supõe-se que para esperar um retorno com a ligação do delegado da Alfândega de Guarulhos, ou então uma nova ligação do secretário da Receita Federal. Entretanto, não houve qualquer nova chamada telefônica e o militar foi embora sem falar nada, desistindo de regressar a Brasília com as joias.