O ministro Flávio Dino, da Justiça e Segurança Pública, esteve nesta terça (28) na Câmara dos Deputados, em Brasília, onde falou à Comissão de Constituição e Justiça sobre uma série de temas que se relacionam à sua pasta nesses meses em que assumiu o cargo. No entanto, houve uma série de momentos em que as coisas saíram da proposta e da razoabilidade, como quando o deputado federal bolsonarista, André Fernandes (PL-CE), teve 8 minutos para expor em detalhes a velha fake news de que o PT teria ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC), a principal facção criminosa do país.
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“Senhor Flávio Dino, em 2019 a Polícia Federal desmantelou um núcleo financeiro do PCC e revelou, através de um grampo, que um membro desta facção criminosa afirmou que existia um ‘diálogo cabuloso’ com o PT. Em nota, à época, o PT afirmou que seria mais uma difamação contra a sigla, e abre aspas: ‘Vem num momento em que Polícia Federal está sob as ordens de um ministro acuado pela descoberta das suas condutas criminosas’, referindo-se ao então ministro Sergio Moro. Em junho de 2022, o departamento estadual sobre narcóticos da polícia civil de São Paulo pediu à Justiça o sequestro dos bens do contador João Muniz por lavagem de dinheiro do PCC. Esse contador, João Muniz, foi o contador do atual presidente da República entre 2013 e 2016. Em julho de 2022, Marcos Valério detalhou através de delação homologada pelo STF, a relação entre o PCC e o PT (…) o prefeito de Santo André teria feito um dossiê mostrando quem no PT foi financiado de forma ilegal, mas o documento acabou sumindo. No último caso, quando a Polícia Federal desbaratou um plano que tinha como objetivo assassinar uma série de autoridades, incluindo Sergio Moro e o vice-presidente Geraldo Alckmin, um dos criminosos usava um e-mail de ‘Lula livre’”, discursou o deputado federal André Fernandes, certo de que estaria enquadrando Dino.
Em seguida, afirmou que o “simples fato” de um vândalo estar vestindo a camiseta de Jair Bolsonaro naquele 8 de janeiro teria feito com que o ministro e quase que a totalidade do país associasse o acontecimento ao ex-presidente. Ele tentou fazer essa analogia através do suposto e-mail do integrante petista do PCC.
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“A história se repete, e os novos episódios mostram o envolvimento do PCC com o Partido dos Trabalhadores. Entretanto o senhor negou no Twitter e afirmou que era uma 'canalhice'”, protestou o deputado bolsonarista que acusa Dino de mentir e questionou por que o ministro não investiga a teoria. Por fim, em mais acusação contra Dino, André Fernandes apontou que o ministro teria 177 processos no JusBrasil e que consequentemente teria mentido, uma segunda vez, ao dizer que não responde a tais processos.
A resposta do ministro Flávio foi uma verdadeira surra
“Deputado, o senhor narrou fatos pretéritos ao tempo que eu não era ministro da Justiça e me cobra uma investigação que o senhor deveria perguntar ao seu comandante e líder, Jair Bolsonaro, por que ele não levou adiante. Em 2019 ele era o presidente da República, até 2022, então eu não quero crer que nesses anos todos as senhoras e os senhores que afirmam essa canalhice da suposta relação do PT com o PCC não consigam produzir uma única prova. Zero. São apenas fantasias”, rebateu Dino.
Em seguida, falou diretamente ao deputado André Fernandes: “O senhor veja como a gente não pode fazer esse tipo de ilação. O senhor, inclusive, que é investigado no Supremo. Não quebre o microfone, por favor”, ironizou o ministro ao lembrar um destempero passado de Fernandes, causando um princípio de confusão e bate boca na Câmara protagonizado pelo ofendidíssimo deputado bolsonarista.
Dino sorria enquanto a gritaria se dissipava. Em seguida, prosseguiu em tom didático: “O senhor não pode tirar conclusões precipitadas porque isso pode se voltar contra o senhor, que é investigado no Supremo. Se você atua dessa forma, está colocando em xeque a sua própria presunção de inocência. Quero mostrar como o senhor, com a sua atuação aqui, conspira contra a sua condição de investigado no Supremo. O deputado precisa ser mais cuidadoso em sua defesa. Sobre essa suposta ligação do PT com o PCC, há anos existe essa lenda. Eu disse, escrevi e repito que não há nenhuma prova quanto a isso. E a Polícia Federal, como o senhor mencionou, naquele momento não era dirigida por mim. E se essa prova existisse, a PF a teria encontrado. E eu afirmo isso porque respeito a PF do Brasil, diferente do senhor que agora está achando que existe essa ligação e a PF nunca encontrou essa prova. Se essa prova existisse ela já teria sido encontrada, se não foi encontrada, é porque o fato não se verifica”, explicou.
“O senhor também afirma com fatos, alguns desconexos, como por exemplo que 'fulano tinha o mesmo advogado do criminoso'. Ora, veja como são as coisas: uma esposa de um desses membros da facção tinha contrato com o governo Bolsonaro e o senhor nunca ouviu de mim, e nem vai ouvir, porque não sou leviano, de que isso é uma prova de que o Jair Bolsonaro é do PCC. O senhor entendeu?”, concluiu o pensamento.
“Veja onde estamos, deputado, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, aqui é o Parlamento Brasileiro, o povo brasileiro está nos assistindo. Um deputado da CCJ da Câmara, dizer que pesquisou no JusBrasil… Sou professor de direito, vou contar isso pros meus alunos como anedota, como piada. O senhor acaba de entrar no meu livro de memórias. O JusBrasil mostra nomes de quem responde a um processo, é verdade. Mas também aparecem nomes de quem pediu direito de resposta na Justiça, de quem registrou uma candidatura, aparecem nomes de quem prestou contas à Justiça Eleitoral, de quem foi testemunha em um processo, ou seja, há uma série de situações em que uma pessoa pode estar citada. A esta altura, deputado, dizer com base no JusBrasil que eu respondo a 177 processos se insere no mesmo continente mental de quem acha que a Terra é plana. E claro que olhando nos seus olhos, eu vejo que o senhor sabe que a Terra é redonda”, finalizou Dino, enquanto Ricardo Capelli, o ex-interventor da Segurança Pública no Distrito Federal, gargalhava ao fundo.
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