O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), assim como outros políticos da extrema direita, vem se aproveitando da operação da Polícia Federal que desbaratou um planejamento do Primeiro Comando da Capital (PCC) para atacar Sergio Moro (UB-PR) e outras autoridades para tentar associar a esquerda à criminalidade e envolver o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na trama das ameaças ao ex-juiz.
Apesar de ter sido no governo Lula e sob o comando de Flávio Dino no Ministério da Justiça que a PF, com sua autonomia garantida, deflagrou a operação, bolsonaristas estão associando o planejamento do PCC de atacar Moro a Lula pela fala, feita em entrevista na terça-feira (21), dando conta de que, quando estava preso, dizia que só ficaria bem após "foder" o ex-juiz.
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O próprio Moro, que já sabia das investigações da PF contra a organização criminosa que planejava o atacar, tentou, indiretamente, associar Lula ao caso, antes mesmo da operação policial vir à tona. Em entrevista à CNN na noite de terça-feira (21), disse que a declaração de Lula rememorando seus tempos de prisão "gera risco" para ele e sua família.
Reforçando a narrativa falaciosa, Flávio Bolsonaro pediu a palavra no plenário do Senado, na noite desta quarta-feira (22), e não só envolveu Lula na trama de atentado a Moro, como voltou a criminalizar a população do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, ao citar a sigla "CPX", usada para se referir ao conjunto de comunidades, na mesma frase em que evocou as organizações criminosas PCC e Comando Vermelho.
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"O meu pai quase morreu com uma facada proferida por um ex-integrante do PSOL. O senhor [Moro] recebendo agora ameaças de uma organização criminosa vinculada ao PCC. E os sinais que vem do atual governo não são bons. Desde a campanha eleitoral, eu sou do Rio de Janeiro, então eu posso falar com propriedade do alto da minha imunidade parlamentar, quando um candidato veste um boné com a sigla CPX, as mesmas letras encontradas em fuzis apreendidos do Comando Vermelho no Complexo do Alemão, qual mensagem passa pro povo?", disparou o filho de Jair Bolsonaro.
Trata-se de uma repetição dos ataques feitos por bolsonaristas a Lula e aos moradores do Complexo do Alemão quando, na campanha eleitoral de 2022, o então candidato petista fez um ato político no conjunto de comunidades e vestiu um boné com a sigla utilizada para se referir ao local.
Ilações
Na sequência, Flávio Bolsonaro ainda associou Flávio Dino ao crime organizado por conta de uma visita que o ministro da Justiça fez recentemente ao Complexo da Maré, também no Rio de Janeiro.
"Quando a gente vê o ministro da Justiça entrar com dois carros apenas no Complexo da Maré, um lugar onde já morreram vários policiais militares, qual a mensagem que passa para a população da forma como o governo vai combater o crime organizado?", disparou o senador.
Na última semana, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), irmão de Flávio, já havia feito a mesma associação e, por conta disso, foi acionado por Dino na Justiça.
"Diante de discursos absurdos sobre visita que fiz a uma entidade comunitária na Favela da Maré, em respeito à imensa maioria de gente honesta que lá reside, irei propor ações e representações. Não admito agressões covardes contra pessoas pobres. E farei mais visitas a comunidades", anunciou o ministro da Justiça.
A declaração de Flávio Bolsonaro no Senado foi repercutida pela deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS), que escreveu: "O bandido senador, filho do fugitivo, parece não ter vergonha na cara. Na época q o pai dele presidia o país houve o maior aparelhamento da PF. Pelo menos 18 delegados foram punidos ou demitidos, incluindo o Del. Saraiva que apreendeu a maior carga de madeira ilegal da história".
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