SÃO PAULO

Presidente da Enel dá desculpa inacreditável para "apagão", que já dura 5 dias

Ao menos 200 mil imóveis seguiam sem energia na manhã do quinto dia do apagão provocado pelo temporal da última semana. Italiano Nicola Cotugno diz que empresa melhorou atendimento mesmo com corte de 35% dos funcionários.

O italiano Nicola Cotugno, presidente da Enel.Créditos: Divulgação
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Presidente da Enel Brasil, concessionária privada que administra a rede elétrica em São Paulo, o italiano Nicola Cotugno, apresentou uma desculpa inacreditável para justificar o apagão.

Cinco dias após o temporal que derrubou árvores e causou a interrupção no fornecimento em muitas regiões do Estado, ao menos 200 mil imóveis seguiam sem energia na região metropolitana de São Paulo até às 8h desta terça-feira (7).

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Cotugno afirma que a empresa foi informada antecipadamente de que "alguma chuva pode vir, e objetivamente, veio um evento extraordinário".

"O vento foi absurdo", justificou o executivo. "As medições dão valores diferentes pela cidade, mas foram perto de 104 km/h (quilômetros por hora). Na escala Saffir-Simpson, ventos de 120 km/h são furacões", emendou.

Cotugno ainda contou que os técnicos da empresa ficaram duas horas "fazendo um passo a passo para entender o que tinha acontecido em toda a cidade", em relação à capital paulista, até concluir "a situação era dramática".

"Tivemos muita dificuldade para o deslocamento, e o problema maior foram as árvores. Normalmente, num evento crítico, caem de 20 a 30 árvores. Nos piores, 50. Nesse, foram cerca de 1.400 árvores", afirmou, ressaltando que dessas, cerca de mil árvores caíram sobre a rede elétrica.

O executivo disse ainda que dos 8 milhões de cliente da Enel, 2,1 milhões tiveram problemas, sendo que para 960 mil clientes os reparos foram feitos em 24 horas.

Cotugno ainda afirmou que a empresa melhorou "o serviço geral na normalidade do dia a dia", mesmo com o corte de 35% dos funcionários desde 2019. 

"O número que foi citado [de demissões] é um número geral, onde estão administrativos, todas as pessoas que temos na empresa. Não são pessoas de campo, especialistas. Essa parte da empresa ficou praticamente igual", disse ele, culpando a AES Eletropaulo, antigo nome da empresa, pelo pouco investimento.

Por fim, o executivo diz que a Enel foi "clara e transparente" com os milhões de consumidores que não conseguiram atendimento pelos canais divulgados pela empresa.

"Nas primeiras horas, o call center congestionou. A gente restabeleceu. Ontem e hoje, tudo começou a funcionar melhor. Usamos muito o aplicativo da Enel. Às vezes, o cliente não conseguia se comunicar, mas a gente, por aplicativo, recebia e registrava as reclamações. A gente foi honesto e transparente quando, no sábado [4], na hora do almoço, admitimos que estávamos com problema, mas que iríamos recuperar [até terça-feira]. A previsão foi humilde, consciente e responsável. O pior é dar uma previsão e não atender aquela previsão", afirmou.

Agora, a empresa terá que prestar esclarecimentos à Secretaria Nacional do Consumidor, do Ministério da Justiça, que deu prazo de 24 horas para a Enel apresentar as justificativas do apagão.

Já o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) estudam uma taxa para enterrar os fios e um possível ressarcimento aos consumidores afetados.