JUDICIÁRIO

Revoltado com Lula, ex-presidente do STJ teria defendido invasão do STF em 2016

Informação consta de mensagens trocadas pela filha de João Otávio Noronha com empresário investigado pelo MPF. Ministro já suspendeu investigação sobre rachadinha de Flávio e ouviu declaração de Bolsonaro

João Otávio Noronha e Jair Bolsonaro.Créditos: STJ
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Mensagens de WhatsApp trocadas pela advogada Anna Carolina Noronha com o empresário Marconny Faria, alvo de investigação do MPF por suspeita de fraudes em licitações no Pará, revelam que o ministro e ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio Noronha, teria defendido a invasão do Supremo Tribunal Federal (STF) em 16 de março de 2016, em meio à indicação de Lula (PT) para ser chefe da Casa Civil por Dilma Rousseff (PT). 

Nas mensagens, divulgadas por Paulo Capelli no site Metrópoles nesta quarta-feira (25), Nina Noronha - como é conhecida a advogada - que é filha de Noronha, diz que o pai considerava que o STF foi corrompido e os ministros, comprados.

O meu Pai falou w (que) os manifestantes deviam sim ter invadido. O palácio. O srf (STF). Pq não há mais instituição. O stf tá corrompido”, escreveu ao empresário, que em resposta defendeu a indicação de Sergio Moro e de Noronha para cadeiras do STF.

“Vamos fazer várias ações. Não vai conseguir ferrar o Moro. Vai ser o próximo min (ministro) do STF depois do seu pai”, escreveu.

A advogada fala, então, que assistia ao lado do pai uma declaração do ex-ministro Marco Aurélio Mello "defendendo o Lula".

“Defendeu sim. (Estou) assistindo (do) lado do meu Pai. (Marco Aurélio) falou q o presidente está assumindo para ajudar o País. E não para escapar do Moro. Jornal da Globo. Faz dez minutos. A corte está comprada. (Rodrigo) Janot e todos mais. Meu pai vai abrir Adesão (a sessão) amanhã com uma Nota repudiando o lula. Por ter chamado o STJ de covarde”, escreveu a advogada, lembrando a declaração de Lula que o STF estaria "acovardado" diante da ação da Lava Jato.

No dia seguinte, 17 de março de 2016, Noronha fez exatamente o que disse a filha e rebateu a declaração de Lula em plenário, dizendo que o STJ não era covarde e julgava com imparcialidade os casos da Lava-Jato.

Em nota ao Metrópoles, Noronha diz que "nunca preguei ou defendi a invasão do STF" e ressalta que "não estive em momento algum revoltado com qualquer decisão com relação à nomeação a cargo de ministro do Executivo, visto que essa é uma escolha reservada ao Presidente da República".

A filha disse não se recordar do diálogo e que suas conversas privadas não refletem a opinião do ministro. 

“Apenas posso afirmar que eu e meu pai somos pessoas diferentes e podemos ter pensamentos diversos em determinados momentos. Não me recordo de qualquer fala de meu pai nesse sentido, bem como afirmo que minhas conversas privadas não refletem a opinião de meu pai", declarou.

"Amor à primeira vista"

Desde o início do atual governo, João Otávio Noronha se tornou um dos ministros mais próximos ao clã presidencial. Trabalhando pela indicação à vaga no STF, Noronha chegou a ouvir uma declaração apaixonada de Jair Bolsonaro (PL) em abril de 2020, quando presidia o STJ, durante solenidade no Planalto.

"Prezado Noronha, permita-me fazer assim, presidente do STJ. Eu confesso que a primeira vez que o vi foi um amor à primeira vista. Me simpatizei com Vossa Excelência. Temos conversado com não muita persistência, mas as poucas conversas que temos o senhor ajuda a me moldar um pouco mais para as questões do Judiciário. Muito obrigado a Vossa Excelência”, disse o presidente (veja o discurso na íntegra no site da Presidência).

Pouco mais de um ano depois, o ministro comandou o processo para anular a investigação do esquema de corrupção conhecido como "rachadinhas" no gabinete de Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Noronha atendeu a um pedido feito pelo advogado de Fabrício Queiroz, Paulo Emílio Catta Preta, que foi estendido a outros 15 acusados, entre eles o filho de Jair Bolsonaro, suspendendo as investigações.

O inquérito sobre o esquema de corrupção do 01 do clã Bolsonaro chegou a ser suspenso após a 5ª turma do STJ anulou a decisão que autorizou a quebra de sigilo de Flávio e outras mais de 100 pessoas envolvidas no caso.

Em junho deste ano, a relatora da denúncia no Órgão Especial do TJ-RJ, desembargadora Maria Augusta Vaz Monteiro de Figueiredo, deu sequência no andamento da denúncia e pediu que as defesas se manifestassem sobre as acusações, excluindo os dados das quebras de sigilo.

A defesa de Queiroz alegou a Noronha, no entanto, que a denúncia apresentada usa dados da quebra de sigilo.

A manobra jurídica beneficiou diretamente Flávio Bolsonaro, que se viu livre das acusações, e o pai, Jair, que afastou o "fantasma" do amigo Queiroz das denúncias de corrupção na família.