FUTURO EM RISCO

Davos 2025: Os riscos globais na Era dos Trilionários

O modo de produção capitalista, a concentração de riqueza e o alto consumo de recursos naturais para garantir o fluxo dos tecno-negócios é impraticável com a manutenção do equilíbrio do meio ambiente no planeta

Imagem do Fórum Econômico Mundial de 2025, em DavosCréditos: Fórum Econômico Mundial/Chris Heeney
Escrito en OPINIÃO el

Terminou nessa sexta feira (24) a 20º edição do Fórum Econômico Mundial, na cidade de Davos, na Suíça. Fundado em 1971, pelo economista Klaus Schwab, o Fórum de Davos se tornou um espaço que vem reunindo os grandes representantes de conglomerados capitalistas de diversos setores da economia mundial. Os bilionários mais importantes, chefes de Estados e figuras da sociedade civil estão organizados nesse espaço para discutir, articular e elaborar tendencias que possam influenciar a geopolítica mundial e determinar a construção de políticas em todo mundo para criar um ambiente positivo para os negócios internacionais. Figuras como Laurence Fink, CEO da BlackRock, maior empresa de soluções em investimentos que tem sob sua gestão 10 trilhões de dólares em ativos, Mukesh Ambani, presidente da Reliance Industries, maior conglomerado empresarial da Índia, Ajay banga, presidente do Banco Mundial, ex-CEO da Mastercard, Cristina Georgieva, diretora-executiva do FMI, entre outras lideranças de empresas bilionárias compõe o conselho de curadores do Forum de Davos. O recém-empossado presidente dos EUA, Donald Trump, participou via teleconferência, e acabou pautando a maioria das mesas de debates realizadas no fórum.

Alguns dias antes da realização desse encontro de bilionários em Davos, as equipes técnicas do Fórum Econômico Mundial publicaram documentos para subsidiar os debates entre os participantes. Entre essas publicações, a mais importante é o relatório de riscos globais. Nesse ano de 2025, esse relatório destacou os dez riscos mais graves que podem impactar o mundo num intervalo de dois há dez anos. Além dos riscos globais mais importantes que podem acontecer nos próximos anos, outra constatação que circulou pelos debates do Fórum de Davos é que na próxima década teremos o surgimento dos primeiros trilionários do mundo. O relatório da Oxfam lançado em Davos prevê que haverá pelo menos cinco bilionários na próxima década, ainda segundo o relatório, a riqueza dos bilionários cresceu em US$ 2 trilhões apenas em 2024, equivalente a cerca de US$ 5,7 bilhões por dia, a uma taxa três vezes mais rápida do que no ano anterior. Em média, quase quatro novos bilionários surgiram a cada semana. Enquanto isso, o número de pessoas vivendo na pobreza mal mudou desde 1990, de acordo com dados do Banco Mundial.

Como será um mundo dos trilionários

O século XXI será conhecido como o mais concentrador de riqueza da história, nunca uma massa de 8 bilhões de habitantes da terra, em sua maioria trabalhadores, foi tão expropriada e desprovida de direitos básicos numa escala inimaginável. Assim como, a concentração de poder sobre a produção advinda do trabalho, de recursos naturais e de patrimonio nunca foi tão intensa. Isso significa que a era dos trilionários terá consequências relevantes sobre a humanidade e toda a biodiversidade da terra. O relatório de riscos globais do Fórum de Davos demonstra que os próprios dirigentes mundiais do capital possuem consciência dos riscos que o próprio sistema capitalista produz e que acaba ameaçando a vida na terra. No quadro abaixo, é possível verificar os principais riscos globais contidos no relatório relacionados a curto e longo prazo:

- TOP 10 | Riscos globais em 2 anos

1) Desinformação via redes sociais.

2) Eventos Climáticos Extremos.

3) Conflitos armados entre estados.

4) Polarização Social.

5) Cyber espionagem.

6) Poluição.

7) Desigualdade Social.

8) Migração Involuntária.

9) Confrontos Geoeconômicos.

10) Erosão de direitos humanos.

 

- TOP 10 | Riscos globais em 10 anos

1) Eventos Climáticos Extremos.

2) Colapso de Ecossistemas.

3) Mudança crítica no sistema da terra.

4) Falta de recursos naturais.

5) Desinformação.

6) Resultados adversos das tecnologias de IA.

7) Desigualdade.

8) Polarização social.

9) Cyber espionagem.

10) Poluição.

 

É notório que os temas que envolvem o stress da biodiversidade no mundo assumem destaque tanto a curto prazo e se ampliam a longo prazo, que não é tão longo assim, pois estamos falando de uma década. O modo de produção capitalista, a concentração absurda de riqueza e o alto consumo de recursos naturais para garantir o fluxo dos tecno-negócios, é completamente impraticável com a manutenção do equilíbrio do meio ambiente no planeta. Provocando inevitavelmente eventos climáticos extremos que podem colocar o próprio funcionamento das economias de muitos países em cheque.

O Brasil já está vivendo aspectos relacionados a esses riscos globais previstos, além de eventos climáticos extremos como secas, ondas de calor e alagamentos que acabam inclusive gerando quebra de safras e contribuindo para alimentar o ciclo inflacionário dos alimentos. A desinformação via redes sociais e a polarização política são temas recorrentes em nossa sociedade, que têm se intensificado e que provavelmente iremos conviver nos próximos dois anos. Um exemplo categórico do que estamos falando é a postagem maliciosa feita nas redes sociais que viralizou, do ex-ministro do governo Bolsonaro, Osmar Terra, de um vídeo deepfake do atual ministro Haddad, sobre taxações e impostos, que é totalmente falso. É a expressão de uma polarização política extrema, promovida por forças de extrema direita sustentadas pelas Big Techs, a serviço de uma burguesia nociva que se utiliza de uma podre desinformação com o objetivo de gerar instabilidade política no país.

A esquerda brasileira, o governo Lula, os setores progressistas e as forças democráticas comprometidas com o país precisam se preparar para o cenário que está colocado. A extrema direita conservadora radical, os neoliberais sem noção, os noias de um sistema financeiro viciado, o agronegócios aloprado, os coachs mal-intencionados e os falsos profetas que dizem ter procuração pra falar em nome de deus, já demonstraram que não terão nenhum pudor em detonar o país para criar condições favoráveis para uma vitória eleitoral em 2026. A responsabilidade para construir um ambiente de cooperação e elaboração política em meio às diferenças para temas comuns que poderiam beneficiar a população brasileira simplesmente não existe. Isso tudo significa que não é possível ter margem para anistiar os demônios do 8 de janeiro, assim como é preciso colocar na agenda de debates públicos a pauta que interessa ao povo trabalhador brasileiro, a preservação do meio ambiente e a defesa das liberdades civis e democráticas.

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