"CRISE"

Planalto: O real motivo para a decisão de revogar a normativa do Pix

Em meio ao maremoto de fake news alimentado atomicamente por Nikolas Ferreira, um ás do submundo digital das mentiras bolsonaristas, governo voltou atrás em algo que sequer fez

Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Escrito en OPINIÃO el

Depois dos últimos dias sofrendo ataques demolidores vindos de todos os lados e de uma pressão brutal nas redes sociais, fruto de uma repercussão desarrazoada e irracional de quem embarcou na histeria das fake news manobradas pela extrema direita, o governo federal anunciou nesta quarta-feira (15) que a normativa fiscalizadora das transações feitas pelo Pix, apresentada pela Receita Federal, que visava alcançar grandes sonegadores e criminosos, está revogada. A todos que receberam a notícia naquele momento, a primeira coisa que veio à mente foi um esgotamento por parte do Planalto, que praticamente admitia a derrota, jogando a toalha.

Entretanto, a própria revogação em si trazia um paradoxo: como seria possível recuar de algo que o governo sequer fez?

Um oceano de mentiras inundava os celulares de milhões de brasileiros apontando que as transações pelo Pix seriam taxadas e isso nunca esteve no texto apresentado pela Receita. Ou seja, o governo estaria voltando atrás numa taxação que nunca existiu. Na prática, algo absurdo. Mas ainda assim a decisão de revogar a normativa prevaleceu diante do cenário que se instalou nos quatro cantos do país.

Lula fez alterações em sua agenda do dia e ainda pela hora do almoço já tinha avisado o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinha, e o ministro-chefe da Secom, o recém-empossado Sidônio Palmeira, de que todos deveriam ir ao palácio com urgência máxima. Mesmo com 20 horas de entrevistas do chefe da Receita a mais de 15 veículos de comunicação, de insistentes coletivas de Haddad à imprensa e de uma massiva campanha nas redes sociais, pipocavam pelo país um bando de golpistas emitindo boletos falsos para enganar cidadãos simplórios e comerciantes malandros cobrando uma taxinha extra para pagamentos em Pix.

Mas foi um outro personagem que teve peso central nessa história bizarra.

Nikolas Ferreira, o jovial deputado federal de extrema direita, verdadeiro ás do submundo digital das mentiras bolsonaristas, explodiu nas redes sociais como um “legítimo herói” na luta contra o “malvadão” imposto do Pix, que nunca existiu. O rapaz, um contumaz e inveterado espalhador de mentiras caóticas na bolha fundamentalista de seu campo ideológico, tinha alcançado a proeza de produzir um vídeo eivado de informações falsas e de ilações descabidas que atingiu 100 milhões de visualizações em 24 horas. Isso até aquele momento, pois ao fim do dia a tal gravação chegou a 220 milhões de exposições, número maior que o de habitantes do Brasil.

O pandemônio criado pelo deputado irresponsável e habituado a causar grandes problemas com suas mentiras deslavadas, àquela altura, já implicava numa redução acentuada das transações por Pix no país e direcionava a “crise” (claramente artificial) para maiores problemas com a oposição (bolsonarista ou mais “tradicional”), já que ao notarem que a tal fake news do moçoilo “dava frutos”, muita gente passou a embarcar nela e reverberar ainda mais a mentira.

Lula foi direto com os interlocutores na reunião: a coisa já havia ido longe demais e manter a normativa, que tinha um intuito completamente diferente, estava servindo de gasolina para a fogueira, que via suas labaredas cada vez maiores. Eles concordaram, era hora de retirar a tal portaria da Receita dos holofotes, revogando-a, para que o parlamentar dado à delinquência institucional, assim como outros aproveitadores inescrupulosos, parasse com a grita, mesmo sendo ela gerada por uma mentira absurda que versava sobre algo que o governo nunca fez ou planejou fazer.

Vale salientar também que, durante a explosiva onda de audiência que Nikolas experimentou durante os últimos dias, ao perceber que era desmentido por autoridades, juristas e jornalistas, o bolsonarista passava, então, a modular os absurdos mentirosos que dizia. Já para o fim, ele não fala mais que o governo estava taxando o Pix, mas citava exemplos sem sentido e relação com a matéria para sugerir arbitrariamente que uma tributação da ferramenta estaria no horizonte, o que causava confusão e ainda mais alarido entre os internautas.

Por fim, o resultado desse recuo, uma verdadeira “volta dos que não foram”, deixou um sentimento nas redes do eleitorado progressista de um governo enfraquecido, que teria cedido aos caprichos de um molecote mal-educado e desagradável que espalha lorotas maldosas para conseguir o que quer.

Só que não. Na realidade, a intenção foi baixar as chamas de um incêndio que estava saindo do controle e poderia trazer problemas ainda mais sérios, ainda que sua causa tenha sido algo tão tosco, inacreditável e farsesco.

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