CONFUSÃO

Revogação de fiscalização do Pix expõe desorganização e crises internas no lulismo e no bolsonarismo

A crise do Pix revelou a desorganização do governo Lula, expondo falhas na articulação entre ministérios e na comunicação pública

Créditos: Agência Brasil
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A revogação da normativa da Receita Federal que previa maior fiscalização de transações financeiras, incluindo operações via Pix acima de R$ 5 mil, revelou não apenas um erro técnico ou comunicacional, mas um profundo problema estrutural no governo Lula. O episódio, que se transformou em um vexame político, escancarou falhas na articulação interna, na comunicação governamental e na condução de políticas sensíveis ao público. A decisão partiu do próprio presidente Lula e apoiada por membros do primeiro escalão do governo. 

O caso foi impulsionado por uma onda de fake news que distorceu o conteúdo da normativa, sugerindo que o governo estaria criando uma "taxação do Pix". A narrativa foi amplificada de forma relevante pelo deputado Nikolas Ferreira (PL), que, em um único vídeo, conseguiu inflamar ainda mais a opinião pública contra a medida. Sua ação culminou na revogação da normativa em menos de 24 horas, um feito que consolidou sua posição como liderança comunicativa dentro da extrema direita.

Curiosamente, a família Bolsonaro e figuras próximas ao ex-presidente não deram visibilidade ao vídeo de Nikolas. O próprio Jair Bolsonaro optou por publicar um vídeo apenas após o governo já ter recuado, sem mencionar o papel de Nikolas. Esse distanciamento, no entanto, não impediu que a extrema direita comemorasse a situação como uma vitória, demonstrando a eficácia de sua estratégia de desinformação e mobilização.

A desorganização e a falta de coordenação interna

Um dos aspectos mais marcantes do episódio foi a evidente descoordenação entre os ministérios e a ausência de uma liderança central eficaz. A Secretaria de Comunicação Social (Secom), sob Sidônio Palmeira, tentou durante dias agendar uma reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para discutir a normativa e alinhar uma estratégia de comunicação. A falta de resposta e a revogação da medida, sem aviso prévio, pegaram a equipe da Secom completamente de surpresa.

Inicialmente, a Secom havia recebido orientações para desenvolver uma campanha publicitária que desmentisse as fake news em torno da suposta "taxação do Pix." Porém, com a decisão repentina de revogar a normativa, o escopo da comunicação mudou abruptamente. As agências, que haviam sido instruídas a criar materiais para combater a desinformação, tiveram que dar um cavalo-de-pau para, agora, buscarem explicar o recuo do governo, evidenciando a falta de planejamento e articulação interna.

O episódio do Pix é apenas mais um exemplo da estratégia problemática do Ministério da Fazenda, que frequentemente apresenta medidas de maneira confusa e sem diálogo prévio com a sociedade. A implementação da "remessa conforme", que gerou confusão sobre a taxação de importações, e o ajuste fiscal, discutido a portas fechadas, ilustram um padrão de decisões tomadas sem transparência ou em discussões abertas com a sociedade. Essas falhas têm gerado críticas tanto da população quanto da base aliada do governo.

Críticas que, inclusive, não são novas para Haddad que era alvo dos mesmos apontamentos quando prefeito da cidade de São Paulo, que apontaram a sua derrota na campanha para a reeleição na prefeitura como fruto da sua dificuldade de se comunicar.

A Casa Civil sob fogo cruzado

A falta de coordenação entre os ministérios também colocou a Casa Civil no centro das críticas. Sob o comando de Rui Costa, a pasta, que deveria ser o eixo central da articulação governamental, tem sido descrita por membros do Palácio do Planalto como uma "embaixada da Bahia", em referência ao suposto foco do ministro em questões relacionadas ao seu estado natal. Essa percepção é agravada pelo histórico de atritos de Rui Costa com outros membros do governo e pela ausência de uma liderança clara na organização das ações interministeriais.

Dentro do próprio governo, há insatisfação com a atuação de Rui Costa, e setores da administração torcem para que ele seja substituído em uma possível reforma ministerial. A desordem evidenciada no caso do Pix é atribuída, em grande parte, à falta de uma coordenação central robusta.

O impacto político e a repetição de erros

O episódio do Pix não é uma crise isolada. Desde o início do governo Lula, boatos sobre uma suposta "taxação do Pix" já circulavam, e a falta de uma estratégia clara para desmenti-los contribuiu para que a narrativa ganhasse força. A ausência de uma comunicação proativa permitiu que o governo fosse constantemente colocado em uma posição reativa, vulnerável à exploração política por parte da oposição.

Além disso, a condução confusa da medida gerou dúvidas até mesmo dentro da base aliada do governo, com parlamentares e apoiadores questionando o que estava sendo proposto. Essa falta de clareza reforça a percepção de que o governo opera de maneira desarticulada e improvisada, colocando em risco sua credibilidade e capacidade de liderança.

O episódio é apenas o ápice de uma série de problemas estruturais que vão desde a ausência de uma coordenação central eficaz até a falta de planejamento estratégico na comunicação e na apresentação de políticas públicas. Sem mudanças significativas na estrutura e nas estratégias do governo, episódios como esse continuarão a fragilizar a gestão Lula, minando a confiança da população e fortalecendo adversários políticos.

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