A vice-presidenta e candidata à Presidência dos EUA, Kamala Harris, enfrentou pela primeira vez, e tudo indica que a única, o principal adversário, ex-presidente Donald Trump, durante debate na noite desta terça-feira (10).
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Para além das análises políticas sobre os discursos dos oponentes, este artigo tenta esmiuçar qual o impacto da roupa usada pela mulher que tenta ser a primeira a ocupar o cargo.
Homens em cargos políticos, de um modo geral, usam o mesmo uniforme, terno e gravata, e só mudam cores e texturas. Para esse debate na Filadélfia, na Pensilvânia, Trump escolheu um conjunto azul cobalto com uma gravata vermelha brilhante em referência à cor do seu partido, o Republicanos.
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Já no caso das mulheres em cargos políticos, há uma vigilância constante sobre o vestuário delas. Com Kamala Harris não é diferente. Os trajes de campanha dela são escolhidos a dedo.
Na noite em que ficou frente a frente com o extremista republicano, ela optou por um terno preto feito sob medida, que carrega um simbologismo de poder, seriedade e autoridade. Também comunica profissionalismo e confiança e projeta uma imagem forte e decisiva.
O terno preto é considerado um traje neutro e clássico, que evita distrações e permite que o foco fique nas mensagens e nas ideias apresentadas. Além disso, pode evocar um senso de formalidade e respeito, o que é essencial em eventos políticos de alta visibilidade.
Harris optou mais uma vez por um decote lavallière - um estilo de gola que geralmente apresenta uma fita ou laço amarrado no pescoço, semelhante a uma gravata - branco. Esse tipo de silhueta remete ao estilo das blusas femininas clássicas, inspiradas nas gravatas usadas pelos homens no século 19.
Este detalhe é muitas vezes associado a uma estética refinada e pode ser encontrado em blusas ou vestidos, criando um visual sofisticado e formal. O nome "lavallière" vem de Louise de La Vallière, uma amante do rei Luís XIV, que popularizou o uso de fitas no pescoço.
Harris complementou a visual com brincos de pérola, uma de suas marcas registradas. A afinidade da democrata por essas gemas faz referência aos seus dias de irmandade em sua alma mater, a Universidade Howard. Ela era membra da Alpha Kappa Alpha, cuja joia característica é a pérola.
Construção de estilo durante a campanha
A vice-presidenta tem um visual característico, aprimorado ao longo de anos de trabalho como advogada e política. Desde o lançamento de sua candidatura presidencial em julho, ela tem assumido riscos estratégicos com seu estilo na campanha.
A mudança mais óbvia foi uma expansão gradual de sua paleta de cores para incluir tons mais brilhantes e claros, como azul-claro e lilás, juntamente com os neutros amigáveis ao escritório que ela geralmente prefere.
Com sua corrida presidencial de 2024, Harris também parece ter dobrado seu compromisso de destacar marcas lideradas por mulheres e designers afro-estadunidenses. Em agosto, a candidata abriu e fechou a Convenção Nacional Democrata usando ternos Chloé personalizados, projetados pela recém-nomeada diretora criativa Chemena Kamali.
Na primeira noite, Harris caminhou confiantemente no palco ostentando uma jaqueta de lã granulada de poudre "marrom coco", calças largas e uma blusa branca de crepe de chine lavallière da marca francesa, em uma possível homenagem ao terno bege que Barack Obama usou durante uma entrevista coletiva em 2014.
Na quarta noite da convenção, Harris evitou o branco sufragista em favor de um segundo terno Chloé — desta vez em azul-marinho — e uma blusa de risca de giz coordenada para aceitar a nomeação de seu partido para concorrer à Presidência dos EUA.
A estilista de Kamala Harris
Desde o início da campanha, Harris tem uma estilista de plantão, Leslie Fremar. A consultora de moda é conhecida por trabalhar com celebridades de alto perfil. Ela começou sua carreira como assistente de moda na revista Vogue e depois se tornou diretora de estilo na Prada.
Fremar construiu reputação ao criar visuais sofisticados e impactantes para estrelas em eventos importantes, como premiações e debates presidenciais. Ela já vestiu clientes como Charlize Theron, Scarlett Johansson e Reese Witherspoon, e é conhecida por sua abordagem elegante e minimalista no design.
O peso das roupas das mulheres na política
O peso das roupas de uma mulher como Harris durante um debate presidencial pode ser avaliado sob diferentes perspectivas:
Imagem e impressão pública: Roupas desempenham um papel significativo na forma como uma candidata é percebida pelo público. Durante um debate, a escolha de vestimenta pode refletir autoridade, confiança e profissionalismo, o que pode influenciar a opinião dos eleitores.
- Simbolismo: A escolha das roupas, como o uso de cores específicas, pode ter um significado simbólico. Por exemplo, cores como azul ou branco podem remeter a patriotismo, ou a questões femininas, como o movimento sufragista. No caso do preto escolhido pela candidata.
- Conforto: O conforto da roupa é essencial, pois um debate presidencial exige concentração, presença de espírito e energia. Roupas que proporcionem liberdade de movimento e não distraiam a candidata são fundamentais.
- Cobertura da mídia: A mídia tende a focar tanto no conteúdo dos discursos quanto na aparência dos candidatos. A escolha das roupas pode ser amplamente comentada, moldando parte da narrativa após o debate.
O peso das roupas não é apenas uma questão de moda ou estilo, mas sim um elemento estratégico que pode impactar a imagem e a performance da candidata em um evento tão importante quanto um debate presidencial.
Caras e bocas miraram ego de Trump
Aliada à escolha de uma roupa que emanava poder e autoridade, a arma secreta de Harris foi ter lançado mão de uma estratégia sutil e eficaz e, ao invés de atacar o histórico ou as políticas do ex-presidente, ela ajustou a mira na maior vulnerabilidade do oponente: o ego.
Ela deixou de lado pontos previsíveis, como declarações polêmicas e desmioladas e explorou a natureza primitiva e a masculinidade frágil de Trump. O republicano extremista está acostumado a atuar em ambientes controlados como comícios e redes sociais, onde raramente é desafiado ou ridicularizado.
A vice-presidenta desmontou Trump com seus gestos, como risadas e olhares de desprezo, o que acabou desestabilizando o adversário de maneira inesperada. Ao longo de 90 minutos de debate, ela conseguiu romper o escudo de conforto do oponente.
O resultado foi que ela despertou a irritação e raiva de Trump. Ela questionou a lealdade dos trumpistas, chamou-o de "desgraça" entre líderes mundiais e sugeriu que sua fortuna foi herança de seu pai para desconstruir a enganosa imagem de um empresário que se fez sozinho.
Vestida para arrasar, em uma estratégia calculada, Harris observou Trump se desestabilizar e, em vários momentos, causar prejuízo a sua própria imagem ao reagir impulsivamente.
Agora, vamos aguardar um improvável segundo duelo e, mais importante, se a roupa e as caras e bocas vão fazer diferença no resultado eleitoral de novembro.
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