Comumente, o termo “católico não praticante” é utilizado em referência aos indivíduos batizados e autodeclarados católicos que não praticam a religião em sua plenitude, conforme o estabelecido pela igreja.
Parafraseando esta ideia, no atual contexto político brasileiro, marcado pela saída do armário dos diferentes obscurantismos, podemos afirmar que um tipo ideológico tem se destacado. Trata-se do “bolsonarista não praticante”.
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Como a nomenclatura aponta, o bolsonarista não praticante geralmente não coloca em prática os “dogmas” do principal movimento da extrema direita brasileira. Sua militância é restrita às redes sociais ou, no máximo, às discussões em família. Portanto, não vamos encontrá-lo em carnagados, motociatas ou em atos golpistas Brasil afora.
Evidentemente, ele é armamentista. Porém, não tem armas ou, se tiver, jamais chegou a usá-la para ameaçar alguém. Isso não o impede de vibrar com as eliminações de “CPFs” de pobres e pretos noticiadas em programas policialescos. Afinal de contas, bandido bom (pobre) é bandido morto”. Ladrões de joias, por motivos óbvios, não se encaixam nesse perfil.
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Mesmo não agredindo fisicamente sua esposa, o que significaria se impor como o macho da casa, o bolsonarista não praticante é saudosista da época em que a mulher era restrita ao lar e se queixa constantemente das “leis misândricas”.
Apesar de não ter espancado homossexuais, como faz todo adepto mais radicalizado da “cura gay”; o bolsonarista não praticante é crítico da ditadura gayzista e, nas discussões em família, é o primeiro a denunciar o kit gay (mesmo sem nunca apresentar provas sobre isso).
O bolsonarista não praticante não produz fake news (elaborar notícias falsas pode ser algo muito além de sua capacidade intelectual), mas as reproduz em larga escala em grupos do zap e no antigo Twitter.
O bolsonarista não praticante é figura ausente no CarnaGado; tampouco veste a camisa da CBF em público. Porém, não deixa de pagar o “dízimo” para financiar atos golpistas.
Ele também nunca foi à Israel (embora, em muitas ocasiões, tenha contribuído para que seu pastor fosse à “Terra Santa”). No entanto considera que a concretização do Estado Sionista é condição indispensável para a segunda vinda do Messias (a despeito dos judeus não acreditarem na divindade de Jesus).
A contragosto, muitos bolsonaristas não praticantes não exercem um dos pilares do sistema econômico que tanto defendem: explorar a mão de obra alheia. Como bons "pobres de direita", sem consciência de classe, devem vender sua força de trabalho para um capitalista.
Todavia, isso não os impede de aplaudir o desmonte da CLT ou se considerarem livres empreendedores e empresários de si mesmos.
Já os bolsonaristas não praticantes mais envergonhados dizem que, na eleição presidencial de 2018, votaram no candidato do Partido Novo, João Amoêdo, mas, na realidade, digitaram 17 com todas as suas forças na urna eletrônica.
Em relação ao jornalismo, enquanto os “bolsonaristas praticantes” estão nas redações da Jovem Pan e da Gazeta do Povo (eventualmente da CNN Brasil), os bolsonaristas não praticantes trabalham na GloboNews, Veja, Folha e Estadão.
Por falar nisso, quando Joel Pinheiro da Fonseca, em um dos momentos mais constrangedores da imprensa brasileira nos últimos anos, sugeriu um “bolsonarismo moderado" para enfrentar o PT; ele quis dizer sobre alguém, digamos assim, “metade bolsonarista não praticante”. Ou seja, “bolsonarista praticante” em relação à agenda econômica neoliberal; e “bolsonarista não praticante” no que diz respeito ao comportamento boçal (pelo menos que saiba fingir).