Aplaudimos os recordes, as marcas extremas e extenuantes, saltos, corridas. Nos eletrizamos com um futebol cada vez mais rápido, sem espaço. No centro do espetáculo, envolvido por um sem fim de empregos, lucros exorbitantes, transmissões para todo o planeta, jovens se esfalfam para muito além de seus próprios limites.
Vez por outra, um entre muitos, assim como ocorreu com o menino Juan Manuel Izquierdo tem um mal súbito e morre. O jogador uruguaio tinha apenas 27 anos e, há dez dias, teve um filho, que exibiu orgulhoso em suas redes sociais.
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Izquierdo virou estatística. Um levantamento breve dos últimos vinte anos aponta em torno de oito casos semelhantes. Garotos fortes, bem dispostos, atletas que, em pleno exercício da profissão, desabam de uma hora para a outra e morrem.
Os defensores do esporte de alto rendimento – um dos maiores negócios do planeta – vão dizer, provavelmente, que diante da enorme quantidade de outros atletas em atividade no mundo, o número é muito baixo. Pode até ser. Morrem poucos, podemos matar ainda mais. Devemos, pelo bem do esporte e seus negócios, bilheterias, royalties, venda de transmissões e patrocínios, continuar assistindo eletrizados o esfacelamento físico dos nossos meninos.
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E isto vale para todos os outros esportes. O céu é o limite. O imprescindível é nadar cem metros a menos de 46,80 segundos, correr a mesma distância abaixo dos 9.58 segundos de Usain Bolt. É preciso ir além do além do além. Atirar nossos jovens aos leões da extrema exigência física para que se mantenha o espetáculo.
Há, no entanto, os muitos que não morrem. Os heróis do esporte, medalhados e campeões, que no apagar das luzes são esquecidos em sua maioria e caem em plena ruina, aturando pelo resto da vida dores físicas e psicológicas insuportáveis. Para tal se criou o destreino, método através do qual nossos atletas tentam superar os traumas do final precoce da carreira. É sempre bom lembrar que, com pouco mais de 30 anos (30 anos!) uma pessoa é considerada velha para o esporte.
É bom lembrar que fazer exercício é imprescindível. Não é necessário ser médico pra saber disso. E, ao mesmo tempo, não há médico, sobretudo os cardiologistas, que não repita isso. Correr, pedalar, movimentar os músculos, aliado a uma boa alimentação, tudo isso é extremamente necessário para uma vida longa e saudável.
Mas, é óbvio, dentro dos limites de cada um, de maneira prazerosa.
Tudo o mais não passa de exagero que alimenta a sanha dos devoradores de dinheiro. E, para estes, mortes são apenas números, estatísticas.