TIROS NA PENSILVÂNIA

Patriotas? Por que o clã Bolsonaro "comemorou" atentado contra Trump

Jair Bolsonaro e filhos foram às redes logo após Trump ser alvo de tiros na Pensilvânia e desencadearam a estratégia, que tem como objetivo reverter a inelegibilidade do ex-presidente no Brasil

Eduardo e Jair Bolsonaro em primeiro encontro com Trump, em março de 2019.Créditos: Isac Nóbrega/PR
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Acossado diante da enxurrada de provas obtidas pela Polícia Federal (PF) sobre a atuação da organização criminosa em diversas investigações, o clã Bolsonaro "comemorou" nas redes sociais o atentado nos EUA contra o republicano Donald Trump, alvo de tiro disparado pelo partidário Thomas Matthew Crooks, de apenas 20 anos.

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Minutos após o fato, Jair Bolsonaro e os filhos iniciaram a publicação de dezenas de postagens repercutindo o fato e direcionando a narrativa para uso político judiciário do atentado contra Trump no Brasil.

Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi o primeiro a se expressar culpando a "esquerda" - antes mesmo de ser divulgado que o autor do tiro era do mesmo partido de Trump - e associando o caso ao atentado à faca contra o pai, cometido por Adélio Bispo dos Santos nas eleições de 2018.

"A esquerda é assim no mundo inteiro! Sempre tentando resolver as coisas na bala ou na faca! COVARDES! Alguma semelhança?", disparou o senador, com um vídeo do atentado para ilustras as ilações.

Dez minutos depois, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o "embaixador" do clã foi às redes: "o jogo do poder é cruel e sei o que seus familiares podem sentir agora", escreveu.

Na sequência, Eduardo divulgou a primeira imagem dos atentados contra Bolsonaro, em 2018, e Trump. 

"Primeiro o humilharam. Rotularam de tudo. Tentaram prendê-lo. Agora tentaram matá-lo!  Impossível não relembrar da facada em 
Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018 feita por um ex-membro do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). Falarão em atentado à democracia?", publicou, enfatizando a narrativa que seria pulverizada na horda de apoiadores.

Na mesma linha, Carlos Bolsonaro publicou nova foto dos dois atentados com a narrativa de vítimas do "sistema" - que tem na ultradireita a face mais escancarada para representar o sistema financeiro neoliberal.

"Agora virá a imprensa desacreditando tudo, a esquerda dizendo que foi um lobo solitário ou ato forjado e o isentão em cima do muro fingindo não saber quem são os verdadeiros pregadores de ódio. Tudo muito cômodo na roda gigante do sistema", escreveu o vereador, em uma espécie de vacina, impondo a narrativa aos radicais antes de quaisquer conclusões sobre o caso.

Inelegível e com o passaporte apreendido, Bolsonaro sinalizou a estratégia do clã em sua primeira publicação sobre o caso.

"Nos veremos na posse", escreveu Bolsonaro, mesmo impedido pela Justiça brasileira de deixar o país.

Por quê?

Enfurecido na sexta-feira (12) com o inquérito sobre a Abin Paralela feito pela Polícia Federal (PF), que revelou gravação feita por Alexandre Ramagem (PL-RJ) de uma reunião de mais de 1 hora em que teria determinado o uso de dossiês da agência na defesa do filho Flávio no caso das rachadinhas, Bolsonaro viu o atentado como forma de sair das cordas.

Em atos na Baixada Santista, ele chegou a subir em cima de um carro, se expondo aos seguidores que o acompanhavam. 

A reviravolta nos ânimos se deu porque o clã Bolsonaro acredita que o atentado selou a vitória de Trump nas eleições dos EUA, que acontecem apenas em 5 de novembro.

"Confie em mim: ele já está eleito. Temos experiência com situações como essa, conhecemos o inimigo – e você também", escreveu Eduardo em nova publicação, em inglês.

Filho "03" de Bolsonaro, o deputado chegou a ser cotado para embaixador em Washington em 2019 - freado pelo próprio Itamaraty - é o membro do clã mais próximo da família Trump.

Em discurso na CPAC, evento conservador que ocorreu em Santa Catarina, Eduardo defendeu sanções contra o Brasil e afirmou que "com a eleição do Trump, a gente pode ter um grande reviravolta".

A reviravolta diz respeito principalmente ao que acredita ser uma reversão na questão da inelegibilidade do pai.

Eduardo já teria tido conversas com Trump para que, eleito, faça pressão internacional - inclusive com sanções comerciais - para que o Supremo Tribunal Federal (STF) suspenda a pena do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e libere o pai para ser candidato à Presidência em 2022.

O acordo teria sido feito diretamente com Trump durante uma das viagens, há quatro meses, que Eduardo fez aos EUA sob a justificativa de "denunciar a ditadura do judiciário" no Brasil.

Nas idas, patrocinadas com dinheiro público, o filho de Bolsonaro tenta cooptar um apoio da ultradireita global para embasar a narrativa vitimista do pai, que diz ser alvo de perseguição no Brasil.

O atentado contra Trump, crê o clã, deixa o republicano mais próximo de voltar à Casa Branca, dando sustentação à defesa de Bolsonaro no Brasil.