HÁ COISAS QUE NÃO MUDAM

Brasileiro curte ser otário e entrada de Pablo Marçal em briga eleitoral prova isso

Infantis, disfuncionais e imbecilizados, alguns setores da sociedade não podem ver um milagreiro de contorno jeca que a bobajada constrangedora já vira “esperança da nação”

Créditos: Reprodução;Redes Sociais
Escrito en OPINIÃO el

Todo mundo passou a vida ouvindo a máxima de que “o raio não cai duas vezes no mesmo lugar”. Cai, claro que cai. Aliás, no Brasil, cai quantas vezes forem necessárias. Há seis anos um sujeito falastrão e com intelecção risível, que passou a vida falando escatologias e alimentando um delírio paranoide anticomunista, tornou-se da noite para o dia a solução divina para todos os infinitos problemas do país. Ele mal conseguia se expressar de maneira minimamente clara, gritava e xingava mais do que qualquer outra coisa, e segue até hoje, depois de defenestrar o Brasil, sendo uma espécie de semideus para quase metade da população.

Uma prova cabal de que aquele papo de “aprendizado” é uma balela, de que o cidadão passa a repensar suas atitudes após um erro grotesco que lascou a sua vida, é o lançamento da pré-candidatura do coach Pablo Marçal à Prefeitura de São Paulo, uma notícia que em 48 horas levou praticamente um de cada dez paulistanos a escolhê-lo automaticamente como o homem desejado para conduzir uma das maiores e mais complexas cidades do planeta.

Tenho dificuldade até em explicar o que é um coach. O termo, originário do inglês, seria algo como um “treinador”, um “líder” que conduz uma equipe. Há anos, o estrangeirismo ficava restrito a esse significado, mas com o advento das redes sociais transformou-se num treco difícil de se definir. É, talvez, o sujeito que aparece dando dicas para absolutamente tudo, usando analogias e contando histórias inverossímeis, que pretende dar um choque de entusiasmo em pessoas que estão no desespero para encontrarem saída para seus problemas dramáticos, sobretudo financeiros.

Pablo Marçal é um cara que, segundo a construção de sua imagem, é uma fera em absolutamente tudo. Com uma eloquência enjoativa e recheada de pequenos deboches e piadinhas, ele diz sem qualquer constrangimento que em um dia se transforma no melhor especialista em qualquer coisa. Não sabe lutar boxe? Tranquilo, me dê 24 horas que supero Mike Tyson. Nunca cantou um verso em sua existência? Sem problemas, amanhã eu serei Frank Sinatra. Os exemplos não são os exatos usados por ele, mas suas falas reproduzem exatamente isso.

Ele sempre aparece saindo de um carrão que custa milhões de reais, diz que você deve “pegar uma visão”, ou “ativar um código”, enfim. É uma groselha interminável, sempre fazendo uso e abuso de um sotaque interiorano e uma postura que mescla a sofisticação de um ser ímpar na humanidade com o jeca simplório e humildíssimo. Para quem tem o mínimo de percepção e noção, aquilo tudo é apenas um mar de bobagens infantis e toscas.

Mas para muitos setores da sociedade brasileira, formanda por adultos infantilizados, disfuncionais e imbecilizados por anos de alienação política e desprezo pela cidadania, uma figura como Pablo Marçal é a “esperança da nação”. Como foi com o amputado mental que arrastou multidões há seis anos, para depois arrastar o país para o caos e a barbárie.

A cachoeira de bobajadas de Marçal impregnou em muita gente. Passar o dia com um celular na mão só ouvindo toneladas de abobrinhas, enfeitiçados pela ladainha de que todo mundo vai ficar rico, comprar um Porsche e viajar pra Dubai pra comer bife de ouro, está de fato fazendo mal a muitos brasileiros.

Eu nem tenho nada contra a pessoa de Pablo Marçal, tampouco acho que suas atividades sejam ilegais ou criminosas, afinal, ele só abre a boca e fica falando asneiras. Agora, se alguém paga por isso ou vê nisso a solução para a maior megalópole do Brasil, a ponto de dar seu voto de olhos fechados a ele, quem sou eu para condenar? Façam como acharem melhor, oras. Duro é ver uma pessoa em idade adulta, que já escolheu um bocó violento e energúmeno para salvar a nação, outra vez se encantar por alguém sem condições alguma de governar esse monstrengo chamado São Paulo.

Sigam em frente. Votem em Pablo Marçal. E aos que se sentem revoltados com isso, uma alerta: não acreditem que em meio à tragédia essas pessoas vão se arrepender do que fizeram. Vão nada. Elas vão seguir defendendo o sujeito mesmo após todo o esterco produzido. É só olharem para os patriotas do abobalhado-geral da República e verem como eles permanecem fiéis e satisfeitos. Para além de alienados, são otários.