A divulgação da pesquisa Atlas/Intel para a prefeitura de São Paulo nesta terça-feira (28), incluindo pela primeira vez os nomes dos pré-candidatos Pablo Marçal (PRTB) e José Luiz Datena (PSDB), embaralhou o cenário político-eleitoral. A vantagem de Guilherme Boulos (PSOL) sobre o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que na última sondagem do instituto, realizada em abril, era de menos de dois pontos percentuais, configurando empate técnico, subiu para mais de 17 pontos.
No último levantamento, Boulos tinha 35,6% e Nunes, 33,7%. Na pesquisa atual, sem Datena e Marçal, o resultado apontaria para variações dentro da margem de erro dos dois candidatos: 37,2% a 32,6%.
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Os resultados mostram que o principal dilema de Nunes desde o início das articulações para sua pré-candidatura à reeleição se torna ainda pior com a entrada de Marçal na corrida eleitoral: abraçar ou não, de forma efetiva, o bolsonarismo. Em certo sentido, ele buscar reeditar a fórmula que elegeu Tarcísio de Freitas (Republicanos) governador. Unir os votos do espectro da centro-direita até a extrema direita, galvanizados no anti-esquerdismo. Mas seus desafios são maiores.
Ser acolhido pela base bolsonarista é contar quase sempre com um ótimo impulso de campanha, já que se trata de um segmento mobilizado eleitoralmente. No entanto, na capital paulista isso pode ser um tiro no pé em um eventual segundo turno. Em 2022, Lula venceu Bolsonaro na cidade de São Paulo com 47,5% dos votos totais contra 38%, contando especialmente com votos de bairros mais distantes da região central, onde o atual prefeito precisa angariar apoios. Tarcísio também foi derrotado por Fernando Haddad no município, por 54,41% dos votos válidos, contra 45,49%.
Por outro lado, abdicar desse apoio pode fazer com que Nunes sequer chegue ao segundo turno. Por enquanto, sua costura política garantiu o apoio de mais de dez legendas, entre elas o PL. Mas integrantes do partido estão insatisfeitos com o tratamento dado pelo prefeito, que se recusa a ter um vice identificado com a ala mais extremista da legenda. O próprio Jair Bolsonaro estaria descontente com o fato de o candidato do MDB não assumir a parceria de forma explícita, evitando citar o nome do ex-presidente.
Nunes e os custos da costura política
O que era só insatisfação, no entanto, pode se materializar em debandada de parte da agremiação com o desempenho de Pablo Marçal na Atlas/Intel, que tem 10,4% na sondagem. O ecossistema midiático do bolsonarismo, que inclui sites e sua máquina de difusão estruturada nas redes sociais, tem simpatia por Marçal e tem dado destaque positivo a ele, enquanto ignora Nunes. Parte do resultado da pesquisa, aliás, pode ser creditada a esse endosso nas redes extremistas.
Sua participação nas eleições faz que, no mínimo, os apoios partidários ao atual prefeito passem a custar mais politicamente. O PL vai querer uma fatia maior do bolo, já que, neste cenário, seu "valor de mercado" sobe.
Enquanto isso, o PSDB paulistano vive uma situação peculiar. Ao mesmo tempo em que ainda ocupa secretarias na administração municipal, a decisão do diretório municipal de não apoiar Nunes custou à legenda a saída de todos os seus oito vereadores. Dividido entre a candidatura própria com Datena e a formação de chapa com Tabata Amaral (PSB), mesmo uma volta atrás com o retorno à base do prefeito não está descartada. Mas nesse caso, assim como acontece com o PL, o custo de retirada da candidatura própria seria mais elevado também.
Tabu em São Paulo
Nem mesmo quando tinha os governos estaduais em São Paulo, entre 1982 e 1990, o PMDB, hoje MDB, conseguiu eleger um prefeito de São Paulo. A escrita pode ser mantida.