Há algumas semanas, quando Elon Musk promoveu ataques à soberania brasileira, muito se falou na imprensa hegemônica sobre a “Internacional Fascista”, movimento articulado pela extrema direita para desestabilizar democracias mundo afora e impulsionar nomes como Donald Trump e Jair Bolsonaro.
Na GloboNews, Daniela Lima apontou que ações de Musk não foram apenas chiliques de um bilionário mimadinho; espelham uma estratégia de articulação internacional de radicais da direita. Já Ruy Castro, em artigo publicado na Folha de São Paulo, alertou que a Internacional Fascista atua em diferentes países, seja exercendo diretamente o poder – como são os casos de Itália, Argentina, Hungria e Holanda –; seja integrando ou apoiando o governo (Finlândia, Suécia e Grécia). Também cresceu a galope na França e chegou perto da vitória nas eleições em Portugal e Espanha.
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Preliminarmente, um leitor, telespectador ou ouvinte desavisado poderia chegar à conclusão que os maiores veículos de comunicação do país, antes tidos como PIG (Partido da Imprensa Golpista), agora seriam baluartes da democracia e da luta antifascista. Ledo engano!
Poucos dias após o imbróglio envolvendo o dono do antigo Twitter e o Estado brasileiro, a grande imprensa voltou à sua “programação normal”. No domingo passado (28/4), o Jornal O Globo dedicou três páginas ao bolsonarista Tarcísio de Freitas, sinalizando possível apoio para a candidatura do governador de São Paulo à presidência da República em 2026. Um dia depois, na Folha de São Paulo, o economista Joel Pinheiro da Fonseca dobrou a aposta: cunhou o oximoro “bolsonarismo moderado”, referindo-se à necessidade da criação de espaços para a ascensão de direitistas que respeitem as regras do jogo democrático. Em outras palavras, trata-se de Tarcísio de Freitas.
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Além disso, o recente histórico da mídia hegemônica afasta qualquer tipo de postura antifascista. Em 2013, quando as jornadas de junho já estavam sequestradas pela direita tradicional, as linhas editoriais da grande mídia abordaram com naturalidade a presença de grupos fascistas nas manifestações (que, naquela altura do campeonato, já apresentavam como alvo preferencial o governo de Dilma Rousseff). O mesmo ocorreu dois anos depois, em relação às mobilizações favoráveis ao impeachment da presidenta. Mas o ápice dessa relação foi o apoio (envergonhado) dos principais veículos de comunicação do país à candidatura de Jair Bolsonaro para a presidência em 2018. Como sabemos, na época, o mais importante era evitar a volta do PT ao Planalto.
Portanto, não há antagonismos substanciais entre fascismo e grande imprensa. O que pode acontecer, no máximo, são pequenas diferenças, como naquilo que conhecemos como “pautas dos costumes”. Por outro lado, no que diz respeito à aplicação da nefasta agenda neoliberal, Globo, Folha de São Paulo, Estadão, Veja e companhia estão fechados com o “bolsonarismo moderado”.
Em última instância, a única “internacional” que a grande mídia realmente se opõe é a Internacional Socialista. A histórica frase de Marx e Engels – “Proletários de todos os países, uni-vos” – ainda faz tremer a burguesia (a quem os interesses a mídia hegemônica atende). Já os fascistas serão sempre os aliados pontuais.
*Francisco Fernandes Ladeira é doutorando em Geografia pela Unicamp