Quais histórias a roupa que você veste conta? Quem fez? Do que são feitas? Como foram feitas? Onde? Por quanto foram feitas? De onde vem a fibra dela? Foi algodão? Usou agrotóxico para ser cultivado? Como eram as condições de trabalho da pessoa que o cultivou? Era de poliéster, um produto do petróleo? Como são descartadas?
De que forma a moda pode ajudar a entender a avalanche de transformações pelas quais o mundo passa neste momento? Como a moda pode ajudar a adiar o fim do mundo?
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Emergência climática, modelo de produção linear, degradação ambiental e injustiças socioambientais e climáticas. Urgência de práticas sustentáveis e responsáveis por essa indústria.
Garantia de trabalho decente para todas as pessoas envolvidas. Uso de fontes renováveis de energia e fim do uso de petróleo. Integração de tecnologias ancestrais e contemporâneas, incluindo a inteligência artificial, nos processos produtivos.
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Abordagem de questões históricas e estruturais da moda, como a ausência de representatividade e inclusão, além da divisão desigual do trabalho, que afeta sobretudo mulheres e grupos minoritários.
Tudo isso tem a ver com moda, com a roupa que você veste. Para debater essas questões, começa neste 15 de abril a décima edição da Semana Fashion Revolution Brasil, evento anual do Fashion Revolution, o maior movimento ativista de moda do mundo, presente em mais de 80 países.
O evento é um marco no ativismo da moda global e em 2024 completa 10 anos no Brasil. Eu sou representante do Distrito Federal desde 2018 e desde muito nova me interessei em entender os encontros da moda e a política.
Minha paixão pela moda
Na infância, acompanhava as costuras de minha mãe para completar a renda de casa e adorava vestir os modelos exclusivos, feitos sob medida. No comecinho da década de 1980, mamãe passou no concurso para servidora da Câmara dos Deputados.
Cresci correndo por corredores naquele espaço de poder ocupado majoritariamente por homens brancos, ricos e vestidos de ternos escuros.
O que moda tem a ver com política? Tudo. Só será possível melhorar a forma como as roupas são produzidas, compradas, cuidadas e descartadas, se o poder público e os governos promoverem mudanças estruturais para uma indústria da moda responsável, transparente, justa e sustentável.
Para construir uma moda que respeite valores humanistas e seja transformada a partir do consenso coletivo para o qual a política é a ferramenta, a transparência é o primeiro passo.
Para mudar uma realidade, é preciso conhecê-la. Daí a importância de cobrar mais transparência para a indústria da moda.
Tragédia do Rana Plaza
Quando o edifício Rana Plaza desabou em Daka, Bangladesh, em 24 de abril de 2013, e matou e feriu milhares de trabalhadoras e trabalhadores, ativistas precisaram vasculhar os escombros à procura das etiquetas das roupas para descobrir quais marcas estavam ligadas às confecções do prédio.
Atualmente, boa parte das marcas e varejistas não tem fábricas próprias, o que dificulta o monitoramento ou controle das condições de trabalho ao longo de uma cadeia de fornecimento altamente globalizada.
A dificuldade em rastrear o ciclo produtivo abre espaço para que empresas se isentem da responsabilidade de como seus produtos são feitos.
Um movimento para revolucionar a moda
Eis a razão de existir do Fashion Revolution: ampliar a conscientização sobre os impactos sociais e ambientais da indústria da moda, além de fomentar a mobilização de diversos atores sociais em prol de mudanças positivas no setor.
Até dia 24 de abril no Brasil e em outros 80 países estão sendo realizadas centenas de ações ativistas, debates e eventos que impulsionam o potencial revolucionário da moda.
Nós, do Fashion Revolution, trabalhamos por uma indústria da moda limpa, segura, justa, transparente e responsável. Fazemos
isso por meio de pesquisa, educação, colaboração e mobilização.
Os problemas na indústria da moda nunca recaem sobre uma única pessoa, marca ou empresa e, por isso, nos concentramos em usar nossas vozes para movimentar todo o sistema.
Com mudanças sistêmicas e estruturais, a indústria da moda pode tirar milhões de pessoas da pobreza e proporcionar meios de vida dignos.
Além de conservar nosso planeta vivo, unir as pessoas e ser uma grande fonte de alegria, criatividade e expressão para indivíduos e comunidades.
Acreditamos em uma indústria da moda global que conserva e restaura o meio ambiente e valoriza as pessoas acima do crescimento e lucro.
Seja um revolucionário da moda
As ações que serão promovidas nestes dez dias envolvem os mais diversos atores sociais, incluindo governantes, sociedade civil, líderes comunitários, estudantes, acadêmicos e a própria indústria da moda, que é a maior responsável pelos impactos socioambientais em larga escala.
Com iniciativas que vão desde paineis de discussão e workshops até campanhas ativistas nas redes sociais, o objetivo é incentivar a transparência, a ética e a sustentabilidade em toda a cadeia de produção da moda.
É a oportunidade para questionar as práticas convencionais da indústria atual e impulsionar mudanças em direção a um modelo de produção que assegure os direitos humanos e da natureza.
Para 2024, a Semana Fashion Revolution adota o tema Como Revolucionar a Moda, inspirado no trabalho e nas iniciativas da comunidade global de ativistas da moda.
Dia das Manualidades
Um dos exemplos que envolvem esses 10 dias de ações acontecerá no dia 20 de abril, em que haverá o primeiro Dia das Manualidades na Rua, um dia de ação global, concebido como uma forma acessível de ativismo, para desafiar a mentalidade descartável da nossa indústria da moda, de modo a colocar a atenção na importância do fazer manual, um trabalho desvalorizado cultural e economicamente.
A programação completa desta e de todas as outras ações, disponível no site e nas redes sociais, está sendo construída colaborativamente pelos mais de 70 representantes locais, 200 embaixadores (estudantes e docentes), e demais parceiros, ocupando os 25 estados brasileiros.
Além disso, neste ano, qualquer pessoa pode promover uma ação; para saber como, acesse as sugestões do nosso site oficial. O cadastro para os eventos estará aberto de 12 de março a 11 de abril. Convidamos todas as pessoas que queiram mudar esse sistema a participar das atividades e discussões sobre como revolucionar a moda.
Quer fazer parte desta jornada?
3 perguntas a serem feitas para as marcas durante a Semana Fashion Revolution
- #QuemFezMinhasRoupas: as marcas precisam ser transparentes e mostrar se as pessoas que fazem nossas roupas tem condições dignas de trabalho asseguradas.
- #DoQueSãoFeitasMinhasRoupas: a indústria da moda precisa revelar o que tem por trás de nossas peças de roupas, mostrando se ela tem contribuído para a extração irresponsável de recursos naturais ou para a regeneração da terra.
- #ACordeQuemFezMinhasRoupas: as empresas devem implementar ações com foco na promoção de igualdade racial entre seus funcionários.
* Iara Vidal é jornalista e pesquisadora independente dos encontros da moda com a política, jornalista da Revista Fórum e representante do Fashion Revolution Brasil no Distrito Federal.