GOULASH COM LEITE MOÇA

A nova teoria conspiratória bizarra de bolsonaristas para justificar fuga de Bolsonaro

Nos anais do Telegram, fascistas inventam narrativa sobre o serviço secreto húngaro ter descoberto conspiração venezuelana para assassinar o covardão

Montagem humorística da estadia de Bolsonaro na Embaixada húngara / Homem com chapéu de alumínio.Créditos: Reprodução /Redes Sociais / Reprodução/Freepik
Escrito en OPINIÃO el

O brasileiro é um povo muito criativo. A criatividade é uma marca nossa em todas as regiões, estados, gêneros, idades, preferências clubísticas, categorias laborais e, também, afinidades ideológicas. Dessa maneira, o “princípio da criatividade brasileira” também se aplicará aos nossos fascistas, especialmente aos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o inelegível.

Nesta quarta-feira (27) circulou nos anais do Telegram uma nova teoria conspiratória, pra lá de bizarra, que tenta explicar da maneira mais alucinada possível a razão pela qual o ex-presidente resolveu se esconder na Embaixada da Hungria durante o último Carnaval.

Exatamente. Enquanto você estava no bloquinho, tomando a sua cerveja e celebrando a vida, o covardão que contribuiu com pelo menos 700 mil mortes durante a pandemia estava traçando um genuíno goulash com leite condensado em plena representação diplomática.

Mas para as mentes doentias dos seus apoiadores mais fascistizados, a fuga tem uma razão “seríssima”.

Diz a nova teoria conspiratória, que já se propaga nas principais redes sociais, que foram os próprios húngaros que o convocaram para que se escondesse por 48 horas. A razão é um espetáculo: os serviços de inteligência daquele país teriam descoberto um plano de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, de contratar um assassino profissional para matá-lo.

A agência Boatos.org, que verifica histórias mentirosas, confirmou que se trata de uma bobagem do tamanho da antiga União Soviética, da qual a Hungria foi um Estado-satélite. Mas não precisa ir tão longe, basta ter conhecimentos básicos de política para saber que a narrativa se trata de mais uma bravata.

Afinal de contas, por que razão a Venezuela, que passará por eleições e tem sido questionada até mesmo pelo Brasil a respeito da lisura do pleito, estaria preocupada em assassinar um sujeito que, fora dos círculos de poder (e sem foro privilegiado) não representa qualquer perigo a sua soberania? Só na cabeça de quem reza para pneus.

“O premier húngaro Peter Medgyessy, que foi da contra inteligência daquele país por mais de 20 anos, que viveu o comunismo na pele, e hoje é um conservador aliado de Bolsonaro, recebeu a informação - PORQUE OS SERVIÇOS DE INTELIGÊNCIA DO BRASIL SÃO UMA MERDA, CHEIOS DE MELANCIAS E DE ESQUERDISTAS CONCURSADOS - e sentiu-se na obrigação de avisar e proteger seu aliado Bolsonaro (SIC)”, diz um trecho do texto viralizado.

Para começar, Medgyessy é um ex-premiê da Hungria. O atual, também aliado de Bolsonaro, se chama Viktor Orban. Medgyessy tem 81 anos e, se tivesse confirmado a informação, ela estaria publicada em toda a imprensa nacional e internacional, o que não ocorre. Além disso, segundo a supracitada agência de checagem de fatos, nem a Embaixada da Hungria e nem o próprio Bolsonaro confirmaram a narrativa.

Ainda segundo a teoria, o suposto assassino venezuelano teria 48 horas efetivar a execução de Bolsonaro e, nesse contexto, teria chegado no Brasil no mesmo dia em que Bolsonaro correu para a embaixada. Os fascistas ainda disseram que o inelegível só deixou a representação após o “terrível assassino venezuelano” finalmente deixar o Brasil com as mãos abanando.

É por isso, dizem os fascistas, que Bolsonaro teria dormido duas noites com os húngaros, deixando Michelle e os seus cinco filhos à mercê da sede de sangue de Maduro. Suponhamos que seja verdade. Nesse caso, estaria provado que Bolsonaro é um verdadeiro covarde.

Mas a história só ‘melhora’. Acompanhe o trecho a seguir: “O sistema criminoso temeroso de que essas informações fossem expostas por Bolsonaro, tentaram virar o jogo, denunciando através de uma mídia comuna-global, o tal do New York Times (que defendeu - e escondeu a verdade - do regime soviético de Stalin e Lenin, e até o regime nazista de Hitler) para tentar criar uma narrativa - mais uma - para prendê-lo (SIC)”.

E com essa verborragia supostamente ‘antissistema’ – pois quem entende um pouco de política sabe que o discurso antissistêmico da extrema direita é uma verdadeira fraude intelectual – a mensagem prosseguiu atacando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Na cabeça dos bolsonaristas, o “terrível Xandão” teria confiscado seus passaportes (sim, no plural) em conluio com Maduro.

Termos como “bandido de toga”, “careca do PCC” e “Xandinho cu de veludo” foram usados para caracterizar o ministro. E foi daí pra baixo. Já deu para o leitor entender do que se trata: mais uma alucinação.

“A Hungria vai mostrar ao mundo a conspiração brasileira contra Bolsonaro”, diz a única frase completa e sem erros de português presente no texto - e já indo para o seu final. Depois disso, é mais um festival de frases de efeito soltas e repletas de asneiras e palavrões.

Tá ‘serto’!

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.