OPINIÃO

'Assassinos da Lua das Flores' não leva nenhuma estatueta após dez indicações: o que isso diz sobre o Oscar

Academia ainda teve a oportunidade de dar prêmio à 1° mulher indígena americana a participar da categoria; filme de Scorsese retrata a história real dos assassinatos de homens brancos contra os Osage nos EUA

Cena do filme 'Assassinos da Lua das Flores'.Créditos: Divulgação
Escrito en OPINIÃO el

Aclamado pela crítica e indicado a dez Oscars, “Assassinos da Lua das Flores”, longa de Martin Scorsese, saiu inesperadamente de mãos vazias da premiação da 96ª edição do Oscar neste domingo (10). Além disso, a atriz indicada por interpretar a indígena Osage Mollie Burkhart no filme, Lidy Gladstone também não ganhou nenhuma categoria da premiação.

Baseado no livro homônimo de David Grann, resultado de uma extensa pesquisa, o longa-metragem mergulha em um capítulo sangrento e sombrio da história dos EUA: o massacre brutal de nativos americanos Osage por homens brancos. O Reinado do Terror Osage, como ficou conhecido, ocorreu entre 1910 e 1930. Através do romance entre Mollie Kyle (Lily Gladstone) e Ernest Burkhart (Leonardo DiCaprio), o filme narra a brutalidade sofrida pela tribo e Mollie lutando para salvar seu povo.

Martin Scorsese e seu corroteirista Eric Roth ("Duna") teceram uma narrativa complexa e envolvente, ambientada em um cenário de quase-pós-faroeste. Mais do que um mero pano de fundo, essa época turbulenta serve como palco para explorar vários temas atuais e também voltados para a traição, o poder e a ganância promovida pelos brancos.

A conquista de uma das categorias do Oscar por “Killers of the Flower Moon” representaria um marco histórico não apenas para os nativos americanos, mas também para a indústria cinematográfica como um todo, que sempre prioriza criações de Hollywood, direções masculinas e inferioriza criações autênticas de países emergentes. Vale lembrar que o documentário “Retratos Fantasmas” do diretor Kléber Mendonça Filho, era um dos indicados para participar da premiação este ano, mas também ficou de fora, além “Elis & Tom - Só Tinha Que Ser Com Você”, de Roberto de Oliveira, e “Incompatível com a Vida”, longa da diretora Eliza Capai.

Premiação seria simbólica

Historicamente rejeitados e massacrados pelos EUA, o ato da premiação, mesmo que em menor medida, seria simbólico para rebater também os estereótipos colocados sobre o povo nativo americano pelo próprio Estados Unidos. No entanto, como esperado, o grande protagonista foi “Oppenheimer”, dirigido pelo cineasta Christopher Nolan, recebeu ao todo 7 estatuetas das trezes indicações, entre elas a de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Trilha Sonora.

O filme, que retrata a complexa jornada de J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), físico teórico da Universidade da Califórnia e líder do Projeto Manhattan, com a iniciativa que deu origem às primeiras bombas atômicas, tenta expor os dilemas éticos em torno de uma criação que promove destruição em massa.

Entretanto, o filme fica ambíguo no desfecho e falha em se consolidar como um verdadeiro "longa-mensagem" ou "manifesto", e ainda beira o poderio estético dos EUA. Vale ressaltar que o fato de ser alinhado às produções refinadas do Oscar também ajudou Nolan a levar os prêmios. 

A atriz de ascendência indígena chegou a ganhar os prêmios Screen Actors Guild e Globo de Ouro de melhor atriz pela primeira vez por sua performance, antes do Oscar, o que sinalizava à Academia um possível reconhecimento. Vale lembrar que em seu discurso de agradecimento na época, Gladstone fez questão de compartilhar a importância desse reconhecimento. "Esta é uma vitória histórica. Isto é para cada criança rez [de uma reserva], cada criança urbana, cada criança nativa que tem um sonho, que se vê representada em nossas histórias contadas por nós mesmos, em nossas próprias palavras."