HIPOCRISIA

Para atacar o PT com caso Marielle, Deltan Dallagnol agora acredita no Intercept

Questão de oportunismo: ex-procurador, que sempre atacou o veículo que revelou suas suas articulações ilegais à época da Lava Jato, passa a utilizá-lo como fonte de informação confiável

Dallagnol tenta associar PT ao caso Marielle Franco com notícia do Intercept, veículo que sempre atacou.Créditos: Agência Câmara/Reprodução
Escrito en OPINIÃO el

Assim como os bolsonaristas mais radicais, a exemplo de Nikolas Ferreira (PL-MG), o ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol, que teve seu mandato cassado por unanimidade no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em maio de 2023, vem difundindo a fake news de que o suposto mandante do assassinato de Marielle Franco, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro e ex-deputado estadual Domingos Brazão, seria "petista" e ainda sugerindo que o PT estivesse por trás do crime bárbaro. 

Dallagnol fez tal associação absurda, de forma indireta, ao compartilhar uma foto em que Brazão aparece com um adesivo alusivo à campanha eleitoral da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) em sua camiseta. Logo abaixo, o ex-procurador divulgou o link de uma reportagem do site Estado de Minas sobre a delação de Ronnie Lessa, apontado como o executor de Marielle, afirmando que Brazão seria o mandante do crime. 

A foto de Brazão que Dallagnol publicou, entretanto, está cortada - justamente para dar mais veracidade à versão bolsonarista de que o conselheiro do TCE seria "petista". Na imagem original, quem está do lado dele é ninguém menos que o ex-deputado Eduardo Cunha, que conduziu como presidente da Câmara o processo golpista que culminou no impeachment de Dilma. 

Veja a imagem sem corte: 

Reprodução

Brazão, na verdade, era e continua sendo filiado ao MDB e mantinha relações com os grupos milicianos do Rio de Janeiro, explicitamente ligados à extrema direita e aos setores bolsonaristas da política. Para além disso, Jair Bolsonaro concedeu, em 2019, passaportes diplomáticos para familiares do acusado. Esses familiares, inclusive, apoiaram a candidatura do ex-presidente em 2018. 

Um fato que chama atenção na ânsia de Dallagnol em associar o PT ao assassinato de Marielle é que o ex-procurador, ao divulgar a notícia da delação de Ronnie Lessa, repercutiu uma reportagem exclusiva do The Intercept Brasil, que foi replicada por outros veículos de mídia. O texto compartilhado por ele do Estado de Minas, inclusive, cita logo em seu primeiro parágrafo que a informação foi apurada pelo Intercept. 

Ou seja: Dallagnoll utiliza o The Intercept Brasil de forma oportunista para atacar o PT. Isso porque trata-se do veículo que ele sempre procurou desqualificar e minar a credibilidade por ter, em 2019, conduzido a série jornalística Vaza Jato, que desmascarou a operação Lava Jato e evidenciou ilegalidades na conduta de procuradores como o próprio Dallagnol e o ex-juiz Sergio Moro. 

Nos últimos anos, Dallagnol tachou o The Intercept Brasil como um veículo "mentiroso", mas agora o utiliza como fonte de informação confiável por pura conveniência. 

Relembre nos tuítes abaixo como o ex-procurador se referia ao veículo de imprensa: