OPINIÃO

Paradoxos brasileiros: do “pobre de direita” ao “funcionário público neoliberal”

Também merecem ser mencionados nessa “seleta lista” os “roqueiros conservadores” (“inútil, a gente somos inútil”), o “patriota que bate continência à bandeira de outro país”, o “médico negacionista”, o “cidadão de bem”...

Tim Maia em 1987.Créditos: Sonia D'Almeida / Wikipedia
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Reza a lenda que, certa vez, Tim Maia disse que o Brasil não poderia mesmo dar certo, pois, em nosso país, prostituta se apaixona, traficante se vicia, cafetão tem ciúmes e pobre é de direita.

Somando ao pensamento do velho Tim, podemos dizer que existem outros paradoxos que são muito comuns por aqui.

O primeiro paradoxo é o “funcionário público neoliberal”. Ele defende o Estado mínimo, vota no Partido Novo, insinua que na iniciativa privada não há “cabides de emprego”, reclama dos impostos, é contra as universidades públicas e vibra com as privatizações.

No entanto, alguém poderia avisar que, em uma eventual aplicação extrema das políticas neoliberais, este funcionário público seria o primeiro a “rodar”, ou seja, perderia seu emprego? 

Também há o “negro racista”, que nos remete aos Capitães do Mato do período escravocrata. Sua principal função é discursar contra todas as causas do povo negro.  Ele é contrário às cotas raciais, afirma que denunciar o racismo é “mimimi” ou “vitimismo" e demoniza figuras históricas como Zumbi dos Palmares. 

Nessa mesma linha, temos a clássica “mulher machista”. Para ela, uma moça que se veste com roupas curtas está procurando ser violentada, o homem deve mandar no relacionamento e lugar de mulher é na cozinha. Paulo Freire sabiamente alertava: quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor. 

Falando em Freire, o que dizer do “professor que vota no PSDB”? O típico exemplo de Síndrome de Estocolmo. Mesmo com todas as maldades que os governos tucanos fizeram ao setor educacional, ainda há docentes que apoiam políticos do partido de Fernando Henrique Cardoso.

Por sua vez, o “gay homofóbico” vive criticando as pessoas que ele considera como “bichas espalhafatosas”. Já os “atores de filmes adultos moralistas” constantemente são cabos eleitorais da extrema direita (supostamente defensora da tradicional família cristã).

Também merecem ser mencionados nessa “seleta lista” os “roqueiros conservadores” (“inútil, a gente somos inútil”), o “patriota que bate continência à bandeira de outro país”, o “médico negacionista”, o “cidadão de bem” (que de “bem” não tem nada), o “militante de esquerda defensor de fascista” e, é claro, a “classe média coxinha”, que bateu panela, vestiu camisa da CBF e foi às ruas dançar em volta do Pato Amarelo para defender os interesses dos ricos.

Nesse sentido, seria importante alguém avisar que, infelizmente, eles não fazem parte da elite. Falta de consciência de classe dá nisso! É tanta incoerência que talvez nem Freud conseguiria explicar. 

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