Há tempos eu digo que Jesus nunca esteve na tal “Marcha para Jesus”, um evento gospel que tem como ÚNICO objetivo mostrar a “força evangélica”, numa espécie de disputa de território e poder para evidenciar os piores líderes que se dizem cristãos no Brasil. A “marcha” (e o próprio nome já sugere um ato militaresco e belicoso) nada mais é que uma aliança interna entre lideranças que se odeiam (porque disputam o mesmo público), mas em nome de um mal maior, que é a tomada do poder das mãos dos inimigos (feministas, gays, negros “amaldiçoados” etc.), são capazes de usar o nome de Jesus para promover seus projetos pessoais e perversos de riqueza e poderio político.
Richard Foster, um teólogo cristão da tradição Quaker, começa seu livro mais conhecido “Celebração da Disciplina” com uma frase que me marca até hoje: “A superficialidade é a maldição do nosso tempo”. Concordo plenamente com ele. E eu iria mais longe. Pior do que a superficialidade é a celebração dessa superficialidade. O povo comemora o fato de não ter profundidade. Essa pra mim é a maior mensagem da Marcha Para Jesus: a celebração da superficialidade evangélica brasileira. É a “rave” dos neopentecostais e dos que celebram uma religiosidade cada vez mais violenta e adepta do fascismo. É “o crack do povo”: a alienação da realidade em sua mais dura representação.
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Pois nesta “nova” fase das Marchas que, nos últimos anos, celebrava um presidente que do palanque fazia seu tradicional sinal de “arminha com a mão” e era ovacionado pelos “soldados de cristo” presentes no evento, na edição deste ano o representante do governo Lula, o Ministro da AGU, Jorge Messias, que é diácono batista falou sobre o desafio de trazer a paz para o Brasil, em meio a tantos conflitos. Resultado: foi vigorosamente vaiado. Sim, a mensagem da paz foi vaiada pelos seguidores daquele que já foi um dia conhecido como “O Príncipe da Paz” e hoje é um mero “general de guerra”...
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Três “messias” em exposição. Jair Messias, o violento e estúpido, com sua verve armamentista, sanguinária e destruidora dos inimigos era aplaudido e celebrado aos gritos de “Mito! Mito”. Jorge Messias, representando o governo Lula, falando de paz e da luta contra a fome e a miséria, é intensamente vaiado a ponto de ter seu discurso interrompido pela intensidade dos apupos da multidão ensandecida “de jesus”. O terceiro messias, que deveria ser o homenageado da festa, pelo que percebemos nem apareceu para conferir o que aconteceria. Ou você teria dúvida de que o discurso de amar ao próximo, de desarmamento, de acolhimento às diferenças, de direitos plenos para quaisquer seres humanos também não seria loucamente vaiado pelo “povo de deus”.
Tenho a absoluta certeza de que o último lugar que o Jesus dos Evangelhos estaria seria nessa infame marcha que leva o nome dele. Se lá estivesse, somente se fosse para ser julgado como foi na páscoa judaica que é narrada nos evangelhos. E certamente ouviria de novo, do mesmo povo “religioso”, a sentença de morte: “Crucifica! Crucifica!”. Ainda mais se tivessem que escolher entre ele e o outro messias, o miliciano Bolsonaro. Aliás, essa escolha foi feita nos últimos 4 anos e celebrada em peso pelas grandes denominações evangélicas brasileiras, reféns de toda maldade e perversidade, como os neopentecostais da Universal os pentecostais seguidores de Malafaia e os históricos das Igrejas Batistas e Presbiterianas, que tiveram suas organizações denominacionais (Convenção Batista Brasileira e Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil) cooptadas pelo bolsonarismo. O estrago foi geral. Mataram novamente Jesus, e “em nome de Jesus”.
Termino com uma paráfrase do texto conhecido de Paulo em 1 Coríntios 13, ao falar do amor como um caminho. “Quando eu era infantil, marchava como menino, pulava como menino, gritava como menino, fazia arminhas como menino, mas agora que amadureci, descobri o quão gostoso é caminhar de mãos dadas com os diferentes, os execrados, os humilhados, os oprimidos, pois é neles que o amor se manifesta. É neles que encontro o Jesus do Evangelho. Para que 'marchar' PARA uma caricatura perversa de Cristo se posso 'caminhar' com aqueles em quem ele se manifesta? É só o amor que conhece o que é verdade!”