Como total projeto de perseguição às coisas boas que dão certo no Brasil, a extrema-direita aliada ao “agropop” iniciou esta semana, de fato, a CPI do MST, que tem um único objetivo: enfraquecer e exterminar o maior e mais produtivo movimento social que temos no país, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. É claro que o fascismo envidará todas as suas forças para acabar com um movimento de resistência e alta capacidade de organização, ação e reação. O MST mete medo nos poderosos. E eles têm que ter medo mesmo...
A Reforma Agrária não é uma invenção do MST e nem mesmo da Constituição de 1989. Ela é um imperativo popular num país que possui milhões de quilômetros de terras ou mal utilizadas ou improdutivas. E que passa fome. Isso é inadmissível. Temos terra o suficiente para plantarmos o necessário para que todas as pessoas no país sejam atendidas em suas necessidades básicas. Reforma Agrária não é um “luxo da esquerda”. Reforma agrária é uma possibilidade de vida plena para o povo brasileiro. É para ontem. Já estamos atrasados.
Nessa perversidade (eu ia chamar de palhaçada, mas acho que estamos subestimando a capacidade destrutiva dessa turma, e isso nem de longe é engraçado) que é a Comissão Parlamentar de Inquérito com o objetivo de criminalizar os trabalhadores e as trabalhadoras rurais que realmente querem o bem da nossa nação, duas coisas me chamam atenção: a maligna, acintosa, vergonhosa e premeditada indicação de Ricardo Salles para a relatoria, e o apoio da “bancada evangélica” a esse disparate parlamentar.
Confesso que menti. Não me espantou o apoio da bancada que se denomina evangélica a essa maldade. Eles sempre estão ao lado dos opressores, mentirosos, perversos e canalhas. A Bancada Evangélica hoje, no Congresso, só presta a um favor: Identificar de que lado estaria o Cristo nas lutas sociais e políticas. Para onde a “bancada evangélica” for, é só você ir para o lado oposto que estará ao lado de Jesus, o subversivo favelado de Nazaré. Talvez seja esse o maior legado dessa infame cambada, ops, bancada.
Ao resgatar a luta que desde sempre acontece para que pobres tenham acesso à terra, geralmente ocupada de forma clandestina e criminosa pelos ricos e poderosos, o texto bíblico me salta aos olhos como alerta. Veja bem o texto abaixo, que faz referência à “Lei do Ano do Jubileu”:
Contem sete semanas de anos, isto é, sete anos vezes sete, o que dá um total de quarenta e nove anos. Então, no dia dez do sétimo mês, que é o Dia do Perdão, mandem um homem tocar trombeta por todo o país. Pois esse ano, que vem depois de cada quarenta e nove anos, é o ano sagrado da libertação, em que vocês anunciarão liberdade a todos os moradores do país. Nesse ano todos os que tiverem sido vendidos como escravos voltarão livres para as suas famílias, e todos os campos que tiverem sido vendidos voltarão a pertencer ao primeiro dono. Nesse ano ninguém semeará seus campos, nem colherá o trigo que crescer por si mesmo, nem podará as parreiras, nem colherá as uvas, pois o Ano da Libertação é sagrado para o povo, e nele todos se alimentarão daquilo que a terra produzir por si mesma. No Ano da Libertação todas as terras que tiverem sido vendidas voltarão a pertencer ao primeiro dono. Na venda ou na compra de terras, não explorem os outros. O preço será calculado na base do Ano da Libertação; pois o que se vende não são, de fato, as terras, mas as colheitas que elas produzem. Portanto, o comprador descontará do preço o número de colheitas desde o último Ano da Libertação; e o vendedor calculará o preço na base dos anos de colheita que ainda faltam até o seguinte Ano da Libertação. (...)A terra é de Deus, portanto ela não será para sempre daquele que a comprar. Se ainda forem muitos anos, o preço subirá, se forem poucos, o preço baixará.
A terra é de Deus, portanto ela não será para sempre daquele que a comprar.
(Levítico 25,8-14, 23).
De 49 em 49 anos, todas as dívidas que resultavam em escravidão e posse de terra por parte de quem não era o dono (depois de uma divisão justa por todas as famílias das tribos) eram “perdoadas”. Porque dívida nenhuma pode durar para sempre. Ninguém, nenhum ser humano pode ser durante toda a sua vida (e até mesmo seus herdeiros) lesado por dívidas que não terminam nunca. E a terra, principalmente a terra produtiva, além de um ano de descanso, deve ser sempre repartida entre o povo. Ninguém pode ser latifundiário para sempre. O acúmulo de terras é uma afronta ao princípio bíblico do Direito à Terra, que, em última instância, pertence a Deus (aqui, sem atravessadores ou lobistas).
Portanto, a luta do MST é justa, tanto baseada na Constituição Brasileira, no Direito à terra e a sua função social, como também pelo texto bíblico, já que ninguém pode se assenhorar sozinho de grandes fazendas, sem que haja justa divisão da própria terra e o repartir de sua produção entre todos aqueles que têm fome. E além da fome de pão, temos fome e sede de justiça... e acreditamos na promessa do Cristo: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.”
Não tenho dúvidas: Estivesse em nosso meio (e ele está!), Jesus estaria ao lado do povo sofrido e lutador do MST. Empunharia sua enxada e sua bandeira vermelha e lutaria até o fim para que todas as pessoas tivessem o justo acesso à terra e sua produção.
Ainda que isso lhe custasse novamente a cruz...
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.