Nikolas Ferreira se passando por “Nikole” e cometendo o crime de transfobia no Congresso Nacional; Michelle Bolsonaro tomando posse no PL e anunciando produtos de cuidado com a pele. Evangélicos invadindo mercados e shoppings com músicas em estilo “avivamento”; Parlamentares se unem para pedir a “CPI do MST”. O que essas coisas têm em comum? Todas elas são tratadas pela esquerda como “cortinas de fumaça”.
O termo “cortina de fumaça” diz respeito à estratégia utilizada de se atrair a atenção para assuntos periféricos e irrelevantes enquanto se tira o foco de temas e pautas centrais e de grande impacto na sociedade, principalmente temas políticos de grande abrangência e relevância nacional.
Desta forma, partindo desse princípio, muita gente que só considera importante e relevante temas voltados, por exemplo, para a economia, trata como uso dessa estratégia as notícias que todos os dias aparecem aqui e ali, trazendo cada vez mais o bizarro, o grotesco, o ofensivo ou aquilo que menosprezamos pautando as principais mídias e, principalmente, redes sociais e “influenciadores digitais”. E surge imediatamente o mote: isso é “cortina de fumaça”. Vamos olhar o “mais importante”.
Acontece que o “mais importante” para os grandes pensadores nem sempre é o mais importante para a população em geral e, mais ainda, em tempos onde as subjetividades são extremamente valorizadas, seja por “influencers” ou pelos algoritmos, seja por mídias alternativas ou grupos de WhatsApp.
Não estou, de forma alguma, dizendo que a economia não seja um tema fundamental para a população. É. E é muito. Mas... será que a própria população vê desse jeito? Será que é um debate popular (ainda que isso influencie e pese, no fim das contas, no bolso dos mais pobres) a “taxa Selic” ou o fato do Banco Central ser ou não independente? E é aqui que “a porca torce o rabo”.
Para grande parte do povo, os temas que consideramos “cortinas de fumaça” é que são, na verdade, os temas relevantes. Muitos deles baseados, infelizmente, no abuso do poder religioso por parte de empresários da fé e outros com base no machismo, racismo, misoginia e LGBTFobia estruturantes de nossa sociedade. Não são cortina, nem fumaça. São fogo e gasolina! E queimam muito!!!
Nikolas Ferreira não teve UM MILHÃO E QUINHENTOS MIL VOTOS para defender Bolsa Família ou quaisquer políticas de ganho social para os mais pobres. Ele foi eleito para continuar sendo transfóbico, misógino, armamentista e escroto. Sim! É papel dele ser escroto, babaca, mentiroso. É isso que seus eleitores esperam dele. E mais, isso só aumenta o seu séquito de seguidores. Não é “cortina de fumaça”.
Michelle não existe para ser uma mulher que lute pelos direitos das mulheres, contra o machismo estrutural ou coisas desse tipo. Ela foi forjada como a “evangélica modelo”, “mulher virtuosa” que, inclusive, ajuda no sustento da família vendendo produtos de saúde e cosmética. É um papel que lhe foi dado e que ela sabe representar como poucas: a mulher que aguenta o marido grotesco, na espera de que ele se torne um “homem bom”, que faz suas orações, inclusive emocionada às vezes. Não é “cortina de fumaça”. É campanha! E desde já! E é bom prestarmos atenção.
Os evangélicos que agora começam a invadir mercados e shoppings (justamente os lugares onde o poder de compra do mais pobre já começa a surtir efeitos) fazem parte de um projeto muito maior de poder e “ocupação dos espaços”. Ou vocês pensam que eles vão desistir de tomar o poder da nação depois de chegarem tão perto? Essas ações não são “cortina de fumaça”. Elas têm e servem a um propósito muito maior: mostrar que eles estão aí, vivos e atuantes e que o “comunismo” e outras coisas não mandam na “igreja do senhor jesus” (as minúsculas aqui são propositais e necessárias)
Portanto, muito cuidado com a gasolina e o fogo que se alastram país afora, ao tomarmos isso apenas como “cortinas de fumaça”. Não são! Elas são a força que elegeu Bolsonaro presidente em 2018 e Damares, Moro e tantos outros tidos como imbecis ao Senado e na Câmara dos Deputados. O jogo é pesado. Não há cortina, nem fumaça. E é bom que a gente acorde antes que o fogo se alastre e seja impossível contê-lo. Para a nossa salvação e do nosso país!
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.