O que é tido como “negociação republicana” nos meios de comunicação tradicionais na verdade é a mais pura prática de chantagem, com muito chilique e vaidade. E o que é considerado como pesos e contrapesos harmônicos entre poderes é na real um festival de atitudes aleatórias, cheias de ruídos e instabilidade.
Não parece nenhuma surpresa estarmos nesse estágio de crise. São anos, décadas e séculos de verdades sendo varridas para debaixo do tapete. Recentemente, lidamos muito com mentiras deslavadas como “as instituições estão funcionando normalmente”, mesmo com uma série de evidências apontando o contrário.
Ninguém em sã consciência é capaz de negar que as práticas políticas de hoje estão cheias de chantagens, achaques e ameaças, esse rei já está nu há algum tempo. O republicanismo deu lugar ao jogo de poder, pura e simplesmente. Manda mais quem exercer maior influência sobre o maior número de pessoas.
Nessa lógica, Lula indica Zanin para demonstrar poder imediato, um recado explícito: “eu, Luiz Inácio, posso indicar, vou indicar e vai acontecer”. Com isso, o presidente mostra poder de articulação no Senado e aumenta a influência no Supremo Tribunal Federal.
A guerra de hoje dificulta cálculos considerados “estadistas”. Não existe cálculo republicano contra quem vive no vale tudo. Não adianta uma visão a longo prazo no meio de um terceiro turno. A disputa que vive Lula, o PT e, portanto, o projeto dos trabalhadores precisa de ações imediatas como contra a fome e contra a violência fascista que pode escalar para níveis de barbárie.
Cobrar posição “estadista” ancorada em papéis institucionais que não funcionam é como jogar videogame com controle desligado. É se iludir com a política enquanto a “real política” dita os verdadeiros rumos da realidade material.
No cálculo imediato o resultado é simples: o STF passa a ter um onze avos a mais de diálogo com Lula e esse diálogo é o tipo de poder que o presidente sempre exerceu. Lula não só aumenta a influência no judiciário como, pelo modo que apontou o aliado, projeta poder de articulação.
A se continuar o nível de embate entre supremo e câmara daqui pra frente, por exemplo, Lula tem mais poder do que tinha antes e é isso que interessa, pra ontem.
Vale destacar, ainda, que tanto Lula quanto o PT têm crédito “estadista” para manobras de curto prazo. O partido bem que tentou ser republicano na crise da Dilma e acabou derrotado por aqueles que mentiam que “as instituições estavam funcionando normalmente”.
O que levou Zanin ao STF foi lealdade a Lula no curto prazo, conhecimento da estratégia do presidente pela proximidade com ele e abertura ao diálogo. Gostemos ou não, é Lula que lidera um contra-ataque ao fascismo militar brasileiro e ele precisa de peças que hajam sob sua estratégia para vencer essa batalha.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.