ZÉ BARBOSA JR

Pelo direito de mentir “em nome de Jesus, Amém!”

Como assim o governo quer tirar o “sagrado direito” de MENTIR que essa gente hoje tem?

Créditos: Pedro França/Agência Senado
Escrito en OPINIÃO el

O Brasil é uma mentira desde sua “invenção” em 1500, como se não houvesse povo aqui antes e como se o que aconteceu não houvesse sido uma invasão portuguesa, e não um descobrimento como muitos gostam de apresentar. É como disse profeticamente o samba da Mangueira de 2019: “Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento. Tem sangue retinto pisado atrás do herói emoldurado...” Em última análise, a mentira sempre fez parte de nossa história, que caso ainda valesse a diferença ortográfica, seria uma estória.

Que nossa história é recheada de mentiras e que muitas vezes, para sobreviver no meio político, muitos insistem em permanecer nesse meio, não é novidade alguma. A novidade desta vez está na institucionalização da mentira: querem que mentir seja um DIREITO, e mais que isso, uma prática totalmente tranquila e sem efeitos sobre quem a pratica. Quase que um dispositivo LEGAL para quem, desprovido da verdade, precisa desqualificar, desonrar e destruir o outro, principalmente quando se trata de disputa eleitoral.

No Brasil, essa história ganhou nome e sobrenome: Fake News, que num bom português deveria ser traduzido como Mentira Cabeluda, pra todo mundo entender. Com seus desdobramentos políticos e jurídicos como o “Lawfare” que, também poderia ser traduzido como “uma mentirinha jurídica pra ferrar alguém” (é o que foi usado com Lula, por exemplo, e ainda será usado contra muitos outros políticos, geralmente da esquerda). E assim vamos caminhando.

Na vivência em sociedade lidamos diariamente com a realidade das mentiras já entranhadas no discurso “civilizatório” do Brasil. Não somos, por exemplo, um país racista. Só “a turma da esquerda” é que vê racismo, por exemplo, quando negros são perseguidos em supermercados, quando um deputado é obrigado a sair de um vôo porque, coincidentemente, seu nome foi sorteado pela Polícia Federal para uma “dura” pública e vexatória e quando uma professora é retirada de um vôo porque “o comandante quis”. Assim como não somos machistas, patriarcais, capacitistas e LGBTFóbicos.

Mas, voltando à legalização da mentira, ao DIREITO público e notório de mentir, não é de espantar que boa parte do Congresso Nacional, que está lá justamente para representar essa “elite do atraso” ou o que há de pior na sociedade brasileira – e que foi eleita em sua maioria exatamente pelo uso pesado de mentiras durante a campanha - esteja lutando para que não seja aprovado um Projeto de Lei que regula as mídias (principalmente redes sociais) para que mentiras não sejam veiculadas. Como assim o governo quer tirar o “sagrado direito” de MENTIR que essa gente hoje tem? “- Isso é ditadura e censura!” dizem os mentirosos de sempre.

Mas, se há algo a se espantar nesse processo, é a participação massiva de um grupo, e um grupo bem robusto dentro do atual Congresso, por esse DIREITO À MENTIRA: a Bancada chamada Evangélica. Isso mesmo! O grupo que ostenta a máxima “e conhecereis a verdade e ela vos libertará” é um dos grupos mais ativos para que esse PL não seja eleito. Eles querem ter o poder e o direito de mentirem “em nome de Jesus!”, porque essa tem sido a prática deles todos esses anos. Eles não sabem dizer a verdade. Todas as pautas e todas as defesas deste grupo são baseadas em MENTIRAS. A Bancada Evangélica, hoje (e digo isso sem dúvida alguma) é a bancada que MAIS MENTE no Congresso Nacional. São Mentirosos por excelência. E com um acréscimo perigoso e nojento: o fazem “em nome de Deus!”

E é verdade! Porque o “deus” e “pai” dessa gente eles sabem muito bem quem é: o diabo. Diabo é uma palavra grega que significa, literalmente, “aquele que divide”, “o que lança divisões”. Pois é justamente esse o trabalho dessa bancada sem vergonha e aproveitadora: dividir o país, lançar mentiras que dividem famílias, grupos sociais e até mesmo igrejas. A bancada que se diz evangélica é uma bancada do mal, diabólica, violenta, sanguinária e que age sempre em defesa da morte e da mentira. Que Deus nos livre algum dia, dessa cambada, ops, bancada.

E que, principalmente, nos livre de um Brasil que mente, mata e odeia “em nome de Jesus”.
Amém!

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum