MÍDIA GOLPISTA

Estadão distorce fala de promotor para atacar Lula sobre declaração de "armação" de Moro no caso PCC

A sanha odienta e inescrupulosa do jornal contra Lula retorna na tentativa de emplacar a narrativa de Sergio Moro em manchete fabricada a partir de entrevista do promotor Lincoln Gakyia, um dos principais alvos do PCC.

Sergio Moro e a manchete fabricada do Estadão.Créditos: Agência Senado / Reprodução
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A guerra aberta para se criar uma narrativa para colocar Lula como vilão após a declaração de que poderia haver uma "armação" no desencadeamento da operação contra membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) que planejavam ataques a autoridades, entre elas o ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União-PR), despertou na mídia liberal a mesma sanha odienta e inescrupulosa dos anos de perseguição da Lava Jato, quando o mesmo ex-magistrado foi alçado ao posto de herói do Brasil.

Neste sábado (25), o Estadão distorceu de forma inacreditável uma declaração dada em entrevista Marcelo Godoy pelo promotor Lincoln Gakiya, responsável há anos pela investigação do PCC no Ministério Público de São Paulo e alvo de ameaças da facção desde 2005.

Em letras garrafais, o jornal ultraconservador da família Mesquita destaca na manchete do site entre aspas - como se fosse a declaração literal do promotor: "'Lula falar em armação da PF ofende a mim e ao MP' diz promotor jurado de morte pelo PCC".

No entanto, na entrevista, Gakyia não fala em nenhum momento a frase, que é distorcida para gerar a manchete.

Em uma primeira pergunta sobre a questão, o repórter fala de duas situações: a crítica do promotor a Moro, em 2022, por explorar a transferência de Marcola - que foi solicitada, na verdade, por Gakyia - para um presídio federal e "agora, Lula diz que sua investigação é armação do Moro". Em seguida, indaga: "como avalia essas situações?".

Em relação às duas "situações" colocadas pelo jornalista, o promotor afirma que "Isso é muito caro para mim e para minha família, porque isso custou minha vida".

Gakyia, então, discorre sobre como as investigações e consequentes ameaças que sofreu pelas investigações ao PCC influenciaram sua vida e da sua família e fala sobre a resistência da transferência de Marcola desde 2018, já no governo golpista de Michel Temer (MDB).

"Em 2018, sofri sozinho. Tive muita resistência para fazer esse pedido de remoção (das lideranças do PCC para o sistema prisional federal). Descobrimos o terceiro plano de fuga do Marcola e tínhamos de tomar providências, pois estávamos em uma situação como essa do Moro. Esse resgate ocorreria nas eleições. Imagina um fim de semana de visitas, com morte de pessoas inocentes? Pedi sozinho a remoção de todos. E faria tudo de novo. O governo foi contra a remoção. A partir de então, o PCC disse que sabia da minha rotina, que me viu no trânsito, que eu andava com escolta. Essa carta foi apreendida com a visita de um companheiro de cela de Marcola. Daí para frente, minha vida mudou", respondeu.

Mais adiante, o repórter insiste para tentar arrancar alguma declaração sobre a frase dita por Lula, de que o desencadeamento da operação na última quarta-feira (22) - autorizada por Gabriela Hardt 34 minutos após afirmar que sentia vontade de "foder" com Moro quando estava preso na Superintendência da PF em Curitiba.

"Eu queria voltar à frase do Lula. Quando um presidente faz uma declaração de que o trabalho do sr. é uma armação, como fica o Estado diante disso?", indaga o repórter, distorcendo, primeiramente, a declaração de Lula.

O presidente não criticou o "trabalho" do promotor, que vem sendo feito há muitos anos, mas o "timing" para desencadeamento da operação.

Gakyia, então, responde com críticas à "desorganização do Estado". E ressalta que é crítico ao uso político das instiuições do Estado, exatamente como já havia criticado Moro em 2022.

" A gente não serve ao governador, nem ao procurador-geral. As polícias também. Eu não posso entender, qualquer que seja o presidente, seja Bolsonaro ou Lula, utilizarem, às vezes, a ‘minha’ polícia. A polícia é do Estado. Isso me deixa muito constrangido quando se tenta usar a polícia para fins políticos. Os governantes vão passar e as instituições vão permanecer. Sou crítico apenas quando esses políticos usam a remoção dos líderes do PCC. Essa remoção acabou com minha vida e com a da minha família. Fiquei com o ônus e os políticos ficaram com o bônus", afirmou.

Em seguida, Gakyia não cita o nome de Lula para responder à pergunta induzida do jornalista.

"Agora, falar que a polícia inventou essa operação, está ofendendo a mim e ao Ministério Público", disse, sendo induzido à crítica que foi distorcida para gerar a manchete mentirosa de que ele teria dito, entre aspas, que 'Lula falar em armação da PF ofende a mim e ao MP'. 

A manchete fabricada pelo Estadão mostra que a sanha raivosa contra Lula e o PT - como no editorial histórico sobre a "escolha muito difícil" em 2018 - que ajudou a levar um fascista ao poder segue em suas entranhas e será usada, se for necessária, para um novo golpe. Com Moro, com tudo.