No seio do Congresso Nacional, uma sombra obscura cresce, alimentada pelo fervor do fundamentalismo religioso da extrema direita. A Bancada Evangélica, com sua influência cada vez mais palpável, transforma as igrejas em palanques políticos, onde o púlpito se mistura perigosamente com a tribuna. Nesse cenário, vemos a ascensão de discursos extremistas que, longe de promover a tolerância, fomentam a perseguição à comunidade LGBTQIA+. É nesse contexto que a Comissão da Câmara aprovou, de forma alarmante, um projeto de lei que busca proibir o casamento homoafetivo. Um golpe duro contra a inclusão e a igualdade.
É impossível não contemplar o impacto na saúde mental de indivíduos que são, por lei, impedidos de unir-se à pessoa que amam. É como se lhes fosse sonegado o direito de serem felizes, relegando-os a um estado de permanente alienação. A busca pela aceitação forçada, na tentativa de se adequar a uma sociedade que os discrimina, é uma jornada tortuosa, uma metamorfose que exige um preço emocional indescritível. Não é mero acaso que filósofos como Sartre e Foucault tenham refletido sobre a opressão e a autenticidade do ser em um mundo que exige conformidade.
Michel Foucault, em sua obra "História da Sexualidade", desvelou as intricadas relações de poder que permeiam a sexualidade e a construção das identidades. Ao analisar a homossexualidade como uma construção social, ele oferece um olhar crítico sobre as formas de controle que são exercidas sobre corpos e desejos considerados "desviantes" pela normatividade vigente. Para aqueles que se encontram desamparados diante da influência da bancada evangélica na câmara, a perspectiva foucaultiana oferece um consolo intelectual e uma compreensão mais ampla de que as categorizações normativas não são inerentes à natureza humana, mas sim construções sociais que podem e devem ser questionadas. É um chamado à resistência e à reivindicação do direito à autenticidade, proporcionando um alento para aqueles que se sentem marginalizados e deslocados em uma sociedade que ainda luta para aceitar plenamente a diversidade das experiências humanas.
No entanto, diante da falta de aceitação e empatia de uma sociedade pouco foucaultiana e muito religiosa, surgem soluções de ressocialização trazidas por ‘‘especialistas’’ da direita ultraconservadora, como a chamada "cura gay". Uma quimera pseudocientífica que, além de moralmente questionável, é cientificamente ineficaz. Reduzir a orientação sexual a uma patologia é um desrespeito à dignidade humana, é negar a própria essência de milhares de indivíduos que, como qualquer outro cidadão, merecem o direito à felicidade e ao amor. Ao insistir nesse método arcaico, as igrejas fundamentalistas de extrema direita afiançadas pelo congresso ultraconservador, revelam um abismo entre sua visão de mundo e os avanços científicos e éticos do século XXI.
É inimaginável a angústia do indivíduo que contempla o ato extremo de pôr fim à própria vida. A falta de aceitação e empatia cria um vácuo emocional insuportável, levando muitos a considerar tal prática como a única saída. Não é correto presumir que aquele que atenta contra a própria vida deseja a morte. Pelo contrário, esse ato desesperado é uma tentativa de escapar das forças opressoras que o impedem de verdadeiramente viver. O extremismo religioso, com sua intolerância, é uma dessas forças que sufocam a vitalidade e a liberdade de ser e muitas vezes serve como a mão que guia, de maneira trágica, o destino de inúmeras vidas que se encontram em desespero. É imperativo que reconheçamos o papel que essa ideologia desempenha na perpetuação do sofrimento e na negação do direito humano fundamental de buscar a felicidade e a autenticidade.
O preconceito enraizado e disseminado por essa corrente política e religiosa pode ter consequências devastadoras. Quando uma comunidade se empenha em retirar direitos e te trata como uma anomalia, é fácil sentir-se deslocado, indesejado e, em casos extremos, levar alguém a um ato desesperado de pôr fim à própria vida. O peso do ostracismo social e a falta de apoio podem ser insustentáveis. É um chamado urgente à reflexão para todos nós: a inclusão e o respeito não são concessões, são direitos inalienáveis de todo ser humano.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.