OPINIÃO

A que vem o Lula 3? - Por Emir Sader

Quando conversei, pela primeira vez, depois que o Lula terminou seu segundo mandato de presidente, lhe perguntei o que ele mais tinha aprendido com sua experiência na Presidência.

Lula após receber a faixa presidencial das mãos de representantes da sociedade brasileira.Créditos: Ricardo Stuckert
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Desde que saiu da prisão e recuperou seus direitos políticos, Lula se propôs a voltar a ser presidente do Brasil. Quando se lançou como candidato, propôs o lema: Unidade e reconstrução.

Quando conversei, pela primeira vez, depois que o Lula terminou seu segundo mandato de presidente, lhe perguntei o que ele mais tinha aprendido com sua experiência na Presidência. Ele me respondeu: “Emir: não se pode governar sem ter o apoio da maioria”.

Dá assim para entender a necessidade de unidade do Brasil. Mais ainda depois de ter vivido a divisão do país promovida pelo discurso do ódio de Bolsonaro. Por ter sentido, dolorosamente, o Brasil dividido, ainda mais com a eleição, com ele preso.

Ele venceu as eleições, mas por uma diferença pequena, refletindo como aquela divisão era ainda profunda. As primeira semanas do seu novo mandato teve sua emocionante cerimônia de posse e a brutal ação do domingo seguinte.

Bastaria aqueles dois primeiros domingos do governo para mostrar as duas caras do mesmo país. Como a primeira menção do lema ganhava uma dimensão dramática, diante não apenas da divisão, mas da contraposição de duas caras tao radicalmente antagônicas de um mesmo país.

A consciência de Lula sobre o problema já o tinha levado a formular a ideia de uma Frente Ampla, como aliança de um conjunto de forças, de esquerda, de centro e até de direita, nucleados pelo objetivo de derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo. 

Lula aperfeiçoou ainda mais sua capacidade de diálogo com pessoas situadas em diferentes lugares do espectro político, buscando o isolamento do bolsonarismo.

A composição do governo refletiu essa complexa aliança, não apenas de diferentes forças. Mas também a ampla renovação de temáticas, que levou à criação de uma grande quantidade de novos ministérios, que revelam a amplitude do governo na direção das novas temáticas. 

O discurso do Lula e a busca de recuperação da bandeira brasileira e das suas cores reflete essa postura. Falar para todos, em nome do Brasil e dos seus interesses e necessidades.

A reconstrução corresponde ao diagnóstico de destruição do governo Bolsonaro e a necessidade de resgate do país. Uma reconstrução que começa com a recuperação do desenvolvimento econômico – questão central do governo    -, mudando radicalmente o modelo. 

Nesse plano, se retoma o modelo que teve sucesso nos governos anteriores. Desenvolvimento econômico com distribuição de renda, promovendo as políticas sociais como prioridade fundamental. Expansão do mercado interno de consumo de massas, geração de milhões de empregos com carteira de trabalho assinada. Luta frontal contra as desigualdades sociais e regionais. 

Mas, como já aprendemos neste primeiro mês do governo Lula 3, é difícil hoje projetar o futuro a partir do presente. Não significa que todos os meses serão como este primeiro. O balanço deste janeiro é o de fortalecimento de Lula e enfraquecimento de Bolsonaro e do bolsonarismo.

Os maiores desafios do Lula 3 são, em primeiro lugar, consolidar o clima de tranquilidade do país durante seu governo. Em segundo, conseguir fazer com que a economia volte a crescer e que tenham sucesso suas politicas de redistribuição de renda. 

Se o Brasil voltar a sair do Mapa da fome, se deixar de ser o país mais desigual do continente mais desigual, o Lula 3 terá sido uma versão ainda mais virtuosa do que foram seus governos anteriores.