SETE DE SETEMBRO

O Sesquicentenário da ditadura e a festa chinfrim de Bolsonaro

Nem ao menos para tentar repetir a frágil grandeza de seus ídolos sanguinários de outros tempos o presidente foi capaz

Moeda comemorativa do Sesquicentenário da Independência.Créditos: Wikipedia
Escrito en OPINIÃO el

Tinha apenas onze anos em 1972, mas lembro bem de tudo. O ‘jingle’ martela na cabeça até hoje: “Sesquicentenário, e vamos mais e mais, na festa do amor e da paz”. Era os anos do presidente Emílio Garrastazu Médici, contraditoriamente o mais violento e, ao mesmo tempo, o que promoveu o Milagre Econômico, que nos custou décadas de crises posteriores.

Entre 1969 e 1973, a economia brasileira registrava taxas de crescimento que variavam entre 7% e 13% ao ano. Por cima dos porões da ditadura, onde se matava e torturava, marchava um país aparentemente ingênuo, alegre e ufanista, que acabara de vencer o tricampeonato mundial de futebol.

Com o claro objetivo de exaltar a ditadura e acobertar seus desmandos, as comemorações do Sesquicentenário da Independência, ao contrário de hoje, foram retumbantes. Começaram em abril daquele ano e se estenderam até setembro.

O calendário festivo incluiu inúmeras atividades como exposições, saraus, concurso de monografias, mostras de artes, competições desportivas, congressos de história da independência, conferências, feiras, paradas militares, além da produção de um documentário.

Em outras palavras, não se falava em outra coisa. O verde e amarelo tomava todas as janelas, portas e paredes, enquanto os perseguidos políticos que não estavam presos ou mortos escapavam para outros países.

O Bicentenário

Cresci, enfim, imaginando como seria o Bicentenário da Independência. Um número mais redondo, mais grandioso em uma país que finalmente teria se encontrado com a sua civilidade, com seu projeto de nação. Ao contrário disso, chegamos à data com um presidente mequetrefe, um governo em frangalhos e a economia em apuros.

A data, distante da mania de grandeza da década de 70, é comemorada com uma festa chinfrim e a população dividida. Uma pequena parte bradando pelo fim das instituições, as Forças Armadas sucateadas e paraquedistas emaranhados em árvores.

Nem ao menos para tentar repetir a frágil grandeza de seus ídolos sanguinários de outros tempos Bolsonaro foi capaz. Escondido por trás de um ideário decadente, um presidente em queda livre tenta se agarrar em desespero às cordas de um outro tempo, sem conseguir nem ao menos um arremedo dele.

Quis o destino que o Bicentenário da nossa Independência de Portugal se transformasse em uma patriotada canhestra sem nenhum sentido de nação. Um desfile bisonho em que um presidente improvável forjado pelo acaso dança ao lado de pastores evangélicos fascistas em cima de um trio elétrico, símbolo de nossa alegria e festa.

Mas, ao mesmo tempo, quis o destino que o último 7 de Setembro de Bolsonaro e o passado funesto que cultua fosse digno de sua estirpe.