OPINIÃO

Você já foi agredido por Bolsonaro? - Por Walter Barretto Jr.

Ilustre leitor que teve fôlego para chegar até o final deste artigo, quero te premiar com as duas únicas frases positivas do presidente Jair Bolsonaro ao longo desses quase 4 anos de mandato

Caricatura de Bolsonaro feita pelo artista alemão Frank Hoppmann.Créditos: Instagram/ @frankhoppmann
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Se você que me dá o prestígio da leitura é uma mulher, e, portanto, representa 52% da população brasileira, acredito que em vários momentos já se sentiu agredida pelo presidente Jair Bolsonaro. Um dos exemplos foi quando o então deputado Bolsonaro, no dia 15 de fevereiro de 2016, disse: “Não empregaria [homens e mulheres] com o mesmo salário. Mas tem muita mulher que é competente”. Já no cargo de presidente, na comemoração do Dia Internacional da Mulher deste ano, em cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente falou: “Hoje em dia as mulheres estão praticamente integradas à sociedade”.

E você que se autodeclara negro ou pardo, que, segundo o IBGE representa 9% e 47% da população brasileira respectivamente, também já deve ter se sentido ofendido pelo presidente Jair Bolsonaro. No dia 06 de maio de 2021, Bolsonaro se dirigiu a um apoiador negro e disse: “Estou vendo uma barata, estou vendo uma barata aqui”. Dois meses depois, no dia 08 de julho de 2021, Bolsonaro manteve o padrão preconceituoso da fala: “Olha o criador de baratas aqui. Você não pode tomar ivermectina, vai matar todos os seus piolhos”. Já autodeclarado candidato à presidência da República, em uma palestra no Clube Hebraica do Rio de Janeiro, no dia 1º de abril de 2017, o então deputado disse: “Fui num quilombola [quilombo] em Eldorado Paulista. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriar servem mais”.

Se nessa palestra no Clube Hebraica os judeus também foram agredidos tendo que presenciar o preconceito contra os negros, o presidente Jair Bolsonaro também os ofendeu diretamente no dia 02 de abril de 2019, distorcendo a História do nazismo: “Não há dúvida né? Como é o nome do partido? Partido Nacional Socialista da Alemanha, né?”. Bolsonaro também zomba com os brasileiros alterando a nossa História. No dia 30 de julho de 2018, o então candidato à presidência da República disse: “Não houve golpe militar em 1964”.

Do golpe militar para o tema tortura. Em 23 de maio de 1999, o então deputado Jair Bolsonaro disse: “Ele merecia isso: pau de arara. Funciona. Eu sou favorável a tortura. Tu sabes disso. E o povo é favorável a isso também”. Outra ofensa à maioria do povo brasileiro porque, segundo pesquisa Datafolha (2018), 80% da população brasileira é contra a prática da tortura. Infelizmente, Bolsonaro pronunciou mais frases sobre a tortura: no dia 19 de julho de 2019, se referindo à jornalista Miriam Leitão: “Ela estava indo para a guerrilha do Araguaia quando foi presa em Vitória. E depois conta um drama todo, mentiroso, que teria sido torturada, sofreu abuso etc. Mentira. Mentira”. Já para o coronel Brilhante Ustra, no dia 08 de agosto de 2019, ficou um elogio: “herói nacional”.

Defesa da tortura, ataque à democracia, por Bolsonaro. Se você está no grupo dos 75% de brasileiros que, segundo o Datafolha (2022), considera que ‘a democracia é sempre melhor que qualquer outra forma de governo’, certamente se sentiu ofendido no dia 22 de dezembro de 2020 quando o presidente Jair Bolsonaro disse que “se a gente não tiver voto impresso em 2022 pode esquecer a eleição”. E, no dia 11 de agosto de 2021, com outra frase golpista: “Hoje em dia sinalizamos para uma eleição, não que está dividida, mas que não vai se confiar nos resultados da apuração”.

A democracia tem alguns pilares, a exemplo da proteção das minorias. No dia 15 de fevereiro de 2017, o então deputado Jair Bolsonaro atacou a democracia dizendo que “as minorias têm que se curvar às maiorias. As minorias se adequam ou simplesmente desaparecem”. E os índios brasileiros, uma das minorias que estão sofrendo muitas agressões nesses quase quatro anos de governo Bolsonaro, como pode-se atestar nessa frase do presidente dita em 23 de janeiro de 2020: “Com toda a certeza, o índio mudou, tá evoluindo. Cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós”.

Se você é um defensor da imprensa livre deve ter se sentido agredido quando, no dia 22 de junho de 2021, Bolsonaro disse: “Eu uso máscara quando eu quiser. Vocês são uma merda de imprensa. Cala a boca!”. Se ofender as mulheres e agredir a imprensa são duas constantes, as mulheres jornalistas são duplamente atacadas, como se viu no dia 1º de junho de 2021, quando o presidente Jair Bolsonaro disse que a jornalista Daniela Lima “é uma quadrúpede”.

A imprensa foi fundamental na comunicação correta no período da Pandemia da Covid-19. Se você está entre os 94% de brasileiros que são favoráveis à vacina (Datafolha, 2021), deve ter se sentido muito agredido quando o presidente Jair Bolsonaro, no dia 21 de outubro de 2020, quando a Pfizer já tinha oferecido há dois meses as 70 milhões de doses da vacina, disse que: “Toda e qualquer vacina está descartada”. Negacionismo para nós humanos, porque, 3 dias depois, com o Brasil sofrendo com 156.926 mortes por Covid-19, Bolsonaro falou que a “vacina é obrigatória só aqui no Faísca”, o cachorro, certamente fazendo um deboche. Além da frase do cachorro, no dia 17 de dezembro de 2020 teve a citação ao jacaré: “Se você virar um jacaré é problema de você. Não vou falar outro bicho para não falar besteira aqui”, também com conotação homofóbica.

Por falar em homofobia, os que pertencem a comunidade LGBTQI+ sempre sofreram preconceito do “imorrível”, “imbrochável e também incomível” Jair Bolsonaro, conforme ele mesmo se autodefiniu em 17 de maio de 2021. Em data bem anterior, no dia 19 de maio de 2002, o então deputado Bolsonaro disse: “Não vou bater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater”.

Depois que o então governador Eduardo Leite se declarou gay, passou a sofrer preconceito pessoal do presidente Jair Bolsonaro. No dia 11 de setembro de 2021, o presidente Bolsonaro, ao lado da ministra da Agricultura Tereza Cristina, em visita à feira agropecuária Expointer, na cidade de Esteio, chegando em um stand de alimentos de produção local, disse: “Esse salame é do governador aqui do Rio Grande do Sul”, também um desrespeito aos gaúchos de uma forma geral, pela agressão ao seu governador.

Os insultos não se restringiram aos rio-grandenses-do-sul. Brasileiros de outros estados, cidades e Regiões também foram agredidos pelo presidente Jair Bolsonaro. Se você é nordestino e representa 28% da população brasileira, foi chamado de forma pejorativa por Bolsonaro de ‘paraíba’ no dia 23 de julho de 2019: “Daqueles governadores de ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão. Tem que ter nada com esse cara”, com os maranhenses duplamente agredidos. A população do Nordeste mais uma vez foi atacada, dessa vez com o foco nos cearenses quando, no dia 09 de fevereiro de 2022, o presidente Jair Bolsonaro disse: “Satisfação muito grande estar aqui no meu Nordeste. A minha esposa é filha de uma ‘cabra da peste’, de um ‘cabeça chata’, de um cearense”. E, dessa vez, tratando os brasileiros como desmemoriados, no dia 22 de março de 2020 Bolsonaro disse: “Você não me vê atacando nenhum governador. Nenhum. Zero”.

Não tem fim as agressões de Bolsonaro, e mais uma vez com uma autoridade e mulher. No dia 25 de junho de 2022, quando o presidente Jair Bolsonaro estava em Balneário Camboriú, em uma manifestação com a vice-governadora Daniela Cristina Reinehr e com Luciano Hang, disse, de forma indelicada, para a vice-governadora: “Vai pra trás, meu Deus do céu”, continuando ao lado do empresário Luciano Hang.

Segue mais uma frase de Bolsonaro, dessa vez ofendendo vários líderes políticos ao mesmo tempo. No dia 22 de maio de 2020, o presidente disse: “O que esses caras fizeram com o vírus, esse bosta desse governador de São Paulo, esse estrume do Rio de Janeiro, entre outros, é exatamente isso. Aproveitaram o vírus, tá um bosta de um prefeito lá de Manaus agora, abrindo covas coletivas. Um bosta”. Quando Bolsonaro se refere ao prefeito “abrindo covas coletivas”, ele também desrespeita todas as famílias e os amigos dos mais de 685 mil brasileiros que faleceram por Covid-19.

Vários ex-presidentes do Brasil já foram agredidos por Bolsonaro, fato que também ofende os que os elegeram e os admiram. Por Bolsonaro, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não teria governado o país porque, no dia 27 de julho de 1997, o então deputado disse: “O grande erro da ditadura foi não matar vagabundos e canalhas como Fernando Henrique”. Para os brasileiros que já sofreram de câncer ou de infarto, ou que possuem familiares que já tenham passado por essas graves doenças, assunta ouvir uma declaração dessa natureza se referindo a então presidente Dilma Rousseff, dita por Bolsonaro no dia 15 de setembro de 2015: “Espero que o mandato dela acabe hoje, infartada ou com câncer, ou de qualquer maneira”. Bolsonaro já se referiu diversas vezes ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o “nove dedos”, ofendendo os brasileiros que sofrem sequelas, fruto de acidentes.

O então deputado Jair Bolsonaro não poderia deixar de denegrir o ambiente social onde vivem os seus próprios conterrâneos. No dia 12 de agosto de 2003, no plenário da Câmara dos Deputados, adivinhem quem ele convidou para se estabelecer na cidade maravilhosa: “Quero dizer aos companheiros da Bahia – há pouco ouvi um parlamentar criticar os grupos de extermínio – que enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro”. Como o tema foi para a esfera da Justiça brasileira, segue essa ofensa do então deputado Jair Bolsonaro, dita no dia 16 de junho de 2011: “Defendi a justiça com as próprias mãos. (...) Nós não conseguimos mudar as leis como queremos, incluir a pena de morte, a prisão perpétua”.

Da justiça brasileira para o desrespeito aos funcionários públicos em geral, que resultou em ameaça de morte. O presidente Jair Bolsonaro, no dia 16 de dezembro de 2021, disse o seguinte: “Eu pedi extraoficialmente o nome das pessoas [diretores da Anvisa] que aprovaram a vacina para crianças a partir de cinco anos. Queremos divulgar o nome dessas pessoas para que todos tomem conhecimento de quem elas são e obviamente formem seu juízo”. A ideia de Bolsonaro era colocar os seus seguidores para atacar esses cinco funcionários públicos, e conseguiu. No dia 21 de dezembro de 2021, um ‘cidadão de bem’ de nome Douglas Bozza enviou um e-mail para a diretoria da Anvisa com o seguinte texto: “Por identificar uma ameaça contra a saúde e integridade do meu filho nestas vacinas experimentais, sejam o que forem, estou tomando a difícil atitude de retirá-lo do ambiente escolar. (...) Deixando bem claro para os responsáveis de cima para baixo: quem ameaçar, quem atentar contra a segurança física do meu filho, será morto”.

Da vacinação das crianças com ameaça de morte para o uso indiscriminado pelo brasileiro da arma de fogo. Segundo pesquisa Datafolha (2022), 72% dos entrevistados discordaram que a sociedade seria mais segura se as pessoas andassem armadas para se proteger e, 69% também discordaram da frase ‘o povo armado jamais será escravizado’. Portanto, a frase dita por Bolsonaro em 22 de abril de 2020, em uma reunião ministerial: “É escancarar a questão do armamento aqui. Eu quero todo mundo armado! Que povo armado jamais será escravizado”, preocupa e assusta a maioria da população brasileira.

Os brasileiros que perderam familiares ou amigos próximos para a Covid-19 que, segundo pesquisa Datafolha (2022) representam 60% da população do país, certamente, foram os mais agredidos pelo presidente Jair Bolsonaro. Cito apenas uma frase, sabendo que na sua memória, ilustre cidadão brasileiro, nesse exato momento, várias outras frases com agressões de Bolsonaro saltam de seus pensamentos e formam um filme de horror: “Não encha o saco”, em 07 de maio de 2021, com 419.393 mortos de Covid-19 no Brasil.

Para quem ainda sente a morte de um parente querido, seja por qual motivo foi o falecimento, no dia 28 de maio de 2021 o presidente Jair Bolsonaro disse uma frase que mostra o seu enorme descaso com a vida: “(...) a morte é uma coisa que todo mundo morre, todo mundo vai passar por ela, não é? E não vai sentir”.

Para evitar o risco da contaminação e a possibilidade de vir a falecer por Covid-19, e a atividade laboral permitindo, muitos brasileiros fizeram o isolamento social. Se você esteve nesse grupo de pessoas, o presidente Jair Bolsonaro, no dia 18 de setembro de 2020, conversando com apoiadores, disse o que pensa sobre você: “Isso é para os fracos”. Para os que puderam permanecer mais tempo no trabalho ou estudo on-line, no dia 17 de maio de 2021, mais uma pancada de Bolsonaro: “Alguns idiotas até hoje ficam em casa”. E o pior, o presidente ainda zomba da nossa inteligência dizendo, em 27 de maio de 2022, que: “Temos estudos de que lockdown não salvou uma vida sequer. Estudos de fora do Brasil”.

Dessa forma, pode-se perceber que a quase totalidade da população brasileira foi agredida, ofendida, atacada, menosprezada, ao longo da vida pública de Jair Messias Bolsonaro: as mulheres, os negros e pardos, os judeus, os que acreditam no estudo a na ciência, os que abominam a tortura, os democratas, os que atuam profissionalmente na imprensa, os que sofreram na pandemia, acreditam no isolamento social e nas vacinas para o combate à Covid-19, as minorias, os índios, as pessoas da comunidade LGBTQI+, os nordestinos, cearenses, maranhenses, paulistas, fluminenses, amazonenses e catarinenses, e muito mais, aqui limitados ao espaço disponível para a escrita.

Ilustre leitor que teve fôlego para chegar até o final deste artigo, quero te premiar com as duas únicas frases positivas do presidente Jair Bolsonaro ao longo desses quase 4 anos de mandato: a primeira, no dia 19 de agosto de 2021, quando Bolsonaro disse: “Tem muita, mas muita gente melhor do que eu por aí”. E, pouco mais de 30 dias depois, no dia 27 de setembro de 2021, o presidente deu um caminho de luz para todos nós: “Está insatisfeito comigo? Tem eleição, é só mudar”.

A fonte deste artigo é o nosso livro ‘Bolsonaro e seus seguidores: o horror em 3.560 frases’ (Geração Editorial, 2022). O PDF gratuito e completo do livro está aqui à sua disposição, podendo ser compartilhado nas redes sociais.