Candidato entra na disputa pra ganhar. E, para isso, é capaz de tudo ou quase tudo. E isso inclui fazer sua canção de divulgação, os conhecidos “jingles” de campanha dentro dos ritmos e formatos musicais que estão na moda, que tocam por aí, nas rádios, plataformas digitais e congêneres.
Este ano não tem sido diferente. E os primeiros “jingles” que aparecem nas principais campanhas têm conseguido de saída um grande êxito: mostrar o que a nossa outrora tão gloriosa música popular brasileira tem se transformado (ou se transformou). Não se trata de uma visão passadista, até porque há vários movimentos rolando, entre eles o rap, a música eletrônca, funk e os próprios já tradicionais da nossa música, que têm sido feitos com êxito e talento.
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Por mais que se goste e vote no candidato A, B ou C, não escapa um (ou quase nenhum). Todos, sem exceção, perseguem o mesmo formato das canções que têm feito sucesso pelo país afora. São todas em cima de subgêneros que até outro dia não existiam, como “forró de piseiro”, “feminejo” e o malfadado sertanejo universitário, seja lá o que isso queira dizer.
Lula e o forró de piseiro
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou mão de um forró de piseiro, que fala sobre a "saudade do ex", em que tanto tema quanto gênero musical foram adaptados para a campanha. A canção, interpretada de forma grandiloquente, emulando as canções de sofrência, brinca com a saudade do ex, que no caso é o ex-presidente.
Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro (PL) partiu para o sertanejo universitário em formato gospel, interpretada pela dupla Mateus e Cristiano. Cantada com os conhecidos trinados que caracterizam o gênero, traz em sua letra expressões ufanistas em tom messiânico que chama o candidato de “Capitão do Povo”.
Ciro acertou (no jingle)
Já o candidato Ciro Gomes (PDT), que não decola nas pesquisas, acertou ao menos no “jingle”. O seu é um samba no formato partido alto em que o refrão repete: “Não é só porque eu prefiro, mas já tá na hora de você olhar pro Ciro”. O único problema talvez seja o mesmo do candidato, ou seja, o sambão não combina com sua postura que também não faz eco à sua formação acadêmica.
Ciro reafirma com seu “jingle” que o samba é uma das nossas expressões mais fortes, que ainda resiste às invasões industriais e à profunda falta de gosto que acomete a nossa música.
Tebet e o feminejo
A candidata Simone Tebet (MDB), por sua vez, repete a fórmula e inventa uma canção que fala na “coragem da guerreira, a voz de nossa gente brasileira”. Tudo isso com uma toada melosa e entoada com a gemedeira típica do que chama de “feminejo”.
As eleições têm sido, ao longo dos anos, um termômetro do que tem se transformado a nossa música. Basta olhar a inventividade e riqueza de “jingles” de um passado não tão distante para se notar isso. Entre eles está o conhecido “Lula Lá”, de 1989, do genial compositor Hilton Acioli, parceiro de Geraldo Vandré entre outros que, para salvar tudo e a todos, tem sido reaproveitada pela campanha de Lula.