OPINIÃO

O voo final do tucanos

A adesão ao golpe e tudo o que fez depois foi o derradeiro voo dos tucanos, que já não tem mais combustível para decolar

Franco Montoro, FHC e Mário Covas na fundação do PSDB.Créditos: Arquivo/PSDB
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Quando foi fundado, em 1988, o setor do PMDB que se agrupava em oposição a Orestes Quércia em São Paulo, mesmo reunindo políticos de distintas características ideológicas – FHC se considerava social democrata, Montoro era democrata cristão -, assumiram o nome de Partido da Social Democracia Brasileira. Escolheram o tucano como símbolo, para dar um caráter nacional ao novo partido. No ano seguinte, o partido lançou a candidatura de Mario Covas à Presidência da República.

Com o fracasso do governo Collor, o PSDB deu uma virada que alteraria para sempre sua fisionomia. Paralelamente à virada da social democracia europeia que, primeiro com François Mitterrand no Partido Socialista Francês, em seguida com Felipe Gonzalez no Partido Socialista Espanhol, adotou variantes das politicas neoliberais, o PSDB seguiu esse caminho.

Depois do governo neoliberal do Collor, FHC se candidatou à presidência e adotou expressamente um modelo neoliberal, com prioridade do ajuste fiscal, da desregulação da economia e das privatizações. O PSDB passou a encarnar essa política no Brasil, encontrando no PT seu adversário fundamental.

Durante seis eleições presidenciais seguidas no Brasil, a polarização se deu entre o projeto neoliberal dos tucanos e o antineoliberal do PT, que privilegiava as politicas sociais, a integração regional e o resgate do papel ativo do Estado.

FHC derrotou o Lula duas vezes, em 1994 e 1998, no primeiro turno. O PSDB foi derrotado pelo PT quatro vezes seguidas, em 2002, 2006, 2010 e 2014, tendo Serra, duas vezes, Alckmin e Aécio como candidatos.

Na segunda vitória da Dilma, os tucanos decidiram aderir à ruptura da democracia para tentar retomar o governo. Essa mudança de atitude teve na solicitação do Aécio pedindo recontagem de votos, seu ponto de partida. A partir dali, os tucanos entraram de vez no bloco de forças que trabalhavam pelo impeachment da Dilma. O partido mudou, a partir dali, com abandono do compromisso democrático e adesão à aliança com as forcas golpistas de extrema direita.

Foi o começo do fim dos tucanos. Já nas manifestações de 2015 e 2016, os tucanos tinham sido enxotados da Avenida Paulista, com setores da classe média paulista não querendo mais a liderança tucana e aderindo às lideranças de extrema direita.

Os tucanos preferiram seguir o caminho desses setores radicalizados da classe média e aderiram ao projeto golpista. Um projeto no qual os tucanos sempre foram um aliado secundário, abandonando a liderança das forças de oposição ao PT que tinham tido nas décadas anteriores.

O PSDB havia abandonado um projeto social democrata no começo dos anos 1990. Nesta década abandonou o compromisso democrático. Só sobrou uma casca de partido. Nas eleições de 2018, o candidato do partido ficou entre os nanicos, na casa dos 5% de apoio.

O partido perdia voo, deixava de ser uma força nacional, que havia governado o Brasil por oito anos com FHC, que havia concorrido com o PT em seis eleições, mesmo perdendo.

A adesão ao golpe e tudo o que fez depois foi o derradeiro voo dos tucanos, que já não têm mais combustível para decolar.

É um capitulo passado da História brasileira. Sem pena nem gloria, se pretenderam uma versão social democrata para o Brasil, mas aderiram ao neoliberalismo. Pretenderam ser uma força democrática, mas aderiram ao golpe contra a Dilma e a todo o processo de ruptura da democracia no Brasil, que terminou entregando o país nas mãos do Bolsonaro.

Os tucanos, o PSDB, o partido de FHC, acabou. Triste, solitário e final, como diz o título da novela argentina.