O desenvolvimentismo surgiu no Brasil como reação à crise de 1929. Até ali, o modelo predominante era o primário exportador, mudando apenas a mercadoria central de exportação – do açúcar ao café. Era um modelo liberal.
Houve consenso geral em imputar ao liberalismo responsabilidade pela crise de 1929. Conforme a crise se estendia, o liberalismo esperava que o próprio mercado recompusesse a economia, com os mais fracos quebrando e os mais fortes sobrevivendo. Até que a crise atingiu dimensões gigantescas e foi indispensável que se colocasse em prática políticas de intervenção do Estado.
Foi o keynesianismo que salvou o capitalismo, colocado em prática por Franklin Delano Roosevelt. Todas as correntes mundiais criticavam o liberalismo e tratavam de superá-lo. O keynesianismo, antes de tudo. O fascismo e o nazismo, da sua maneira, valorizavam o Estado contra as concepção liberais. E, finalmente, o modelo soviético, com a concepção mais radical contra o mercado.
Não fosse a segunda guerra mundial, a recessão provocada pela crise de 1929 teria se prolongado muito. Mas os investimentos bélicos fizeram com que o capitalismo se recuperasse. O final da guerra inaugurou o ciclo longo expansivo mais importante do capitalismo – sua “era de ouro”, segundo Hobsbawn.
Nunca o capitalismo cresceu tanto na sua história. Cresciam os EUA, a Europa, o Japão, os três eixos então mais importantes da economia mundial. Cresciam também a URSS e a América Latina.
Foi um período caracterizado como desenvolvimentista. Na Europa houve três décadas de pleno emprego, revelando como o capitalismo era menos injusto e crescia mais quando era menos liberal.
O esgotamento desse ciclo se deu pela coincidência entre recessão e inflação – a chamada estagflação. Naquele momento ressurgiu o liberalismo, com a frase que caracterizou a Ronald Reagan: “O Estado deixou de ser solução, para ser problema.”
Esse período coincidiu com o novo ciclo econômico do capitalismo, esta vez um ciclo longo de caráter recessivo, que dura até agora. A desqualificação do Estado é paralela à centralidade do mercado.
No período neoliberal, que coincide com o ciclo longo recessivo, a luta fundamental passa a ser entre neoliberalismo e antineoliberalismo. O desenvolvimentismo é o projeto de superação do neoliberalismo.
Em que este desenvolvimentismo se diferencia do anterior? Em primeiro lugar, em que no momento anterior o capitalismo internacional vivia um período de expansão econômica. Agora o contexto internacional, ao contrario, é recessivo.
Naquele momento o Estado era um agente de crescimento econômico. Atualmente, é predominante a política de ajuste fiscal, que comprime as finanças públicas.
Naquele momento, o setor hegemônico na economia era o grande capital industrial, centrado nas grandes corporações. Agora, o setor hegemônico é o capital especulativo, fundado nos bancos privados.
Naquele momento, o modelo predominante era o do desenvolvimento econômico centrado nas grandes corporações internacionais. Agora o modelo é o neoliberal.
A retomada do desenvolvimentismo é uma condição, hoje, da superação do neoliberalismo. Um modelo de desenvolvimento centrado em políticas sociais de distribuição de renda e geração de empregos.
A direita, por sua vez, retoma sua velha cantilena do risco de gastos que desequilibrem as contas públicas. Mas os governos anteriores do PT já demonstraram que o partido é capaz de combinar desenvolvimento com controle da inflação e equilíbrio das contas públicas. Distribuindo renda, diminuindo as desigualdades sociais e regionais.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum