A possibilidade de que Lula vencesse a eleição presidencial no primeiro turno não se concretizou e a frustração de uma expectativa nesse sentido deixou alguns de seus apoiadores cabisbaixos. É compreensível.
Mas não há motivo para pessimismo, apesar de alguns resultados negativos para a esquerda e o campo democrático nas eleições para governos de estados, para o Senado e para a Câmara dos Deputados.
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Em primeiro lugar, porque não há indicadores de que os erros das pesquisas tenham ocorrido devido a qualquer onda bolsonarista nos últimos dias, sem que isso tivesse sido registrado pelas sondagens.
Esse ponto é importante, porque, se tivesse havido uma arrancada de Bolsonaro na reta final do primeiro turno, ela poderia ainda estar em andamento e modificar o quadro da disputa no segundo turno, alavancando uma ofensiva do candidato de extrema-direita.
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Mas, se isso tivesse efetivamente acontecido, essa arrancada teria sido registrada pelas pesquisas. Afinal, as aferições eram praticamente diárias e a última foi na véspera da eleição.
Não haveria possibilidade de uma subida significativa de Bolsonaro passar despercebida.
Tendo, então, a considerar que a explicação mais plausível para a diferença entre o previsto nas pesquisas e o resultado eleitoral está na inconsistência das informações com que trabalharam os institutos, devido à suspensão do Censo em 2020 pelo próprio Bolsonaro. As informações que deram elementos para a formatação das pesquisas são de 12 anos atrás.
Mas a distância entre os votos dos dois candidatos no primeiro turno (e aqui já não se fala mais de previsões, que poderiam estar distorcidas, mas de votos reais), foi de seis milhões de votos a mais para Lula. É muita coisa.
Se em São Paulo Bolsonaro teve 1,7 milhão de votos mais do que Lula - e isso é uma vantagem expressiva no maior colégio eleitoral do País - isso é só parte da realidade.
São Paulo tem uma população cinco vezes maior do que o Ceará, por exemplo. Mas, nesse último estado Lula ficou 2,2 milhões de votos à frente de seu adversário. Só isso tira com sobras a vantagem do capitão em São Paulo.
Na Bahia, o quadro foi ainda mais expressivo. Lula teve mais 3,8 milhões de votos do que Bolsonaro. E se somarmos a diferença alcançada por Lula em apenas três estados, Bahia, Ceará e Pernambuco o número vai a 8 milhões de votos. Essa diferença é muito maior do que a que Bolsonaro conseguiu somando-se Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Uma outra informação importante: os candidatos que ficaram fora do segundo turno foram mal. Simone Tebet e Ciro Gomes ficaram com 4% e 3% dos votos cada um. Não têm grande coisa a transferir. E os dois vão apoiar Lula.
Isso tudo não quer dizer, claro, que a disputa no segundo turno esteja decidida e que o campo antifascista possa cruzar os braços. De forma alguma.
O bolsonarismo é uma força organizada e agressiva, e com apoio na sociedade. Daqui em diante será uma ameaça para a democracia.
É fundamental, como afirmou Guilherme Boulos, nesta última segunda-feira em entrevista no programa “Roda Viva”, da TV Cultura, que a campanha de Lula vá para as ruas, não se deixe intimidar pelas ameaças de violência dos bolsonaristas e lute voto a voto.
Afinal, não é pouco o que está em jogo: trata-se de impedir a vitória da barbárie no País.
Mas não há razão para baixo astral na campanha de Lula.
PS – Este artigo estava pronto quando foi divulgado o resultado da primeira pesquisa do segundo turno, feito pelo IPEC, no dia 5 de outubro: Lula tem 51%; Bolsonaro, 43%; brancos e nulos, 4%; não sabem, 2%. Computando-se apenas os votos válidos, teríamos 55% para Lula e 45% para Bolsonaro.
A pesquisa do IPEC mostrou, ainda, o índice de rejeição de cada candidato – informação importante para o segundo turno, porque neste quesito os eleitores respondem em que candidato não votariam de jeito nenhum. Pois bem, 40% dos ouvidos não votariam em Lula num segundo turno; já 50% não votariam em Bolsonaro.
Esses números confirmam a análise feita acima, demonstrando que só uma alteração muito grande das tendências de voto poderia virar o favoritismo de Lula para o atual deplorável presidente.
À luta, pois, companheiros.