Na democracia, não se deve questionar a legitimidade de que cada corrente política lance seus candidatos. O que pode ser discutido é a conveniência política de tal ou qual candidatura.
A duas semanas da eleição, é natural que se fortaleça no campo democrático a proposta de voto em Lula, que é o único capaz de vencer Bolsonaro. Mesmo que essa pregação não venha do PT ou dos demais partidos que apoiam o candidato petista, é inevitável que os eleitores façam cálculos e decidam o voto no primeiro turno levando em conta a conveniência ou não eu haja o segundo. Isso é legítimo. E mais: é também inevitável.
As pesquisas mostram que, se houver segundo turno, este será entre Lula e Bolsonaro. E está muito claro o risco que correria a democracia no caso de uma reeleição do atual presidente. Ele próprio já deixou claro que não aceitará de forma natural uma derrota.
Seus questionamentos – sem qualquer base real – à confiabilidade das urnas eletrônicas já deixaram patente duas coisas: 1) caso perca, não aceitará a derrota, tratando de virar a mesa da forma como for possível; 2) o pretexto para tal será o questionamento do sistema informatizado de votação.
Também por isso, é importantíssimo liquidar a parada no primeiro turno. No dia 2 de outubro, teremos eleições para presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais. Muitos partidários de Bolsonaro serão eleitos nesse dia. Seria impossível um questionamento à lisura da eleição presidencial, sem lançar dúvidas sobre as demais escolhas.
Por isso, boa parte de sua base não embarcaria nessa canoa.
Já no segundo turno, no dia 30 de outubro, haveria apenas a eleição presidencial e apenas a disputa para alguns governos de estado. É menos complicado Bolsonaro querer anulá-las alegando fraude. Não estará envolvida – e prejudicada por uma eventual anulação – boa parte de sua base.
O povo brasileiro aprendeu que não pode confiar no que diz Bolsonaro. Ora este afirma que respeitará o resultado eleitoral, ora impõe condicionantes que desmentem a afirmação: “Vou respeitar o resultado se as eleições forem limpas”, disse recentemente sem deixar claro o que mostraria que as eleições foram limpas e qual seria o juiz para dar tal veredito.
Ultimamente Bolsonaro tem se mostrado abatido com o andamento da campanha. Seus atos no dia Sete de Setembro juntaram muita gente, mas aparentemente não mudaram nada do quadro eleitoral. No Rio, o principal coro dos presentes – “imbrochável” - soou como algo ridículo, não como demonstração de força.
Depois desse dia, um tanto caído o presidente pela primeira afirmou que deixará a Presidência, se esta for “a vontade de Deus”.
Assim, culpou Deus e não o julgamento do povo brasileiro pela possibilidade de uma derrota que se mostra mais e mais à vista.
Essa conversa lembrou um belo samba de Zeca Pagodinho e Almir Guineto:
“Os habitantes da Terra estão abusando / Ao nosso supremo divino sobrecarregando / Fazendo mil besteiras e o mal sem ter motivo / E só se lembram de Deus quando estão em perigo /
(...)Tudo o que se faz na Terra, se coloca Deus no meio/
Deus já deve estar de saco cheio".
Bolsonaro, não é Deus que vai tirar você da Presidência. É o povo brasileiro.
E, se tudo der certo, no primeiro turno.
Prevendo derrota eleitoral, Bolsonaro bota Deus no meio - Por Chico Alencar
O povo brasileiro aprendeu que não pode confiar no que diz Bolsonaro. Ora este afirma que respeitará o resultado eleitoral, ora impõe condicionantes que desmentem a afirmação
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